"FILHO DA PUTA!!" Eu gritei, deixando sair toda a minha frustração enquanto me levantava da cama e corria em direção à porta, batendo nela com os punhos.
Furiosa, continuei xingando enquanto batia na porta, as palavras duras fluindo da minha boca em um turbilhão de raiva reprimida. Cada batida na porta era acompanhada por um novo insulto, uma nova expressão da minha indignação.
"Desgraçado! Covarde! Onde você está, eu vou pegar essa sua arma e enfiar dentro do seu...!" Os xingamentos continuaram saindo, sem parar, até que minha voz começou a ficar rouca e minha respiração se tornou irregular.
Ofegante e ainda pulsando com a adrenalina da raiva, dei alguns passos para trás e me encostei na parede por alguns segundos, tentando acalmar a respiração acelerada. Um senso de urgência me dominou ao perceber que eu precisava fazer algo, qualquer coisa, para recuperar o controle da situação.
Minhas mãos tremiam enquanto eu mergulhava nos bolsos das minhas roupas, procurando freneticamente pelo meu celular. Mas a constatação de que ele não estava lá me atingiu como um soco no estômago. "Zoey," murmurei com arrependimento, sentindo o peso da preocupação se acumular sobre meus ombros. "Será que ela já comeu? Será que ainda está acordada? Se ela estiver ficando acordada até tarde jogando, provavelmente eu estaria brigando com ela agora..."
"Caramba," continuei, com um pensamento tumultuado. "Como vou avisar o Charlie agora que não consegui ir trabalhar hoje... SERÁ QUE VOU CONSEGUIR IR AMANHÃ? Dessa vez ele vai me demitir de verdade..."
Deitada na cama desconhecida, uma sensação de impotência me invadiu como uma onda avassaladora. Era como se eu estivesse perdida em um mar de incertezas, longe de casa. As paredes silenciosas do quarto pareciam sufocantes, me envolvendo em uma solidão opressiva.
Meus pensamentos giravam em torno da estranha sequência de eventos que me levou até aqui. Desde o encontro no metrô até aquele momento, tudo parecia surreal, como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
Vozes ecoavam na minha mente, rostos desconhecidos apareciam como fantasmas na escuridão. E no centro de tudo, eu me sentia como um peão em um jogo cujas regras eu desconhecia.
Uma sensação de cansaço se instalou sobre meu corpo, pesando meus membros e me levando em direção ao sono.
TUM-TUM!
Quando me dei conta, um som estranho ecoou pelo quarto, uma batida na porta que me fez estremecer. Levantei-me bruscamente, sem saber ao certo se havia dormido ou não.
A porta se abriu, revelando a figura imponente de uma mulher negra alta, com tranças escuras que caíam por suas costas. Seus olhos tinham um brilho verde penetrante, e sua expressão era firme e determinada. A mulher entrou no quarto com uma bandeja nas mãos, seus movimentos carregavam uma mistura de força e graça.
Ela usava uma roupa simples, mas elegante, complementada por jeans e uma blusa cinza que destacava sua postura confiante. Uma cicatriz marcava seu rosto, tatuagens negras adornavam seu braço direito, serpenteando pela pele até chegar à sua mão, onde pequenos desenhos de estrelas se encontravam em uma mistura de formas e símbolos. Ela usava um colar dourado brilhante ao redor do pescoço.
Seu rosto exibia traços firmes, mas sua expressão era suavizada por um olhar que transmitia uma mistura de determinação e compaixão. Não havia dúvidas de que a mulher era uma pessoa com uma presença forte e intensa.
Com um aceno silencioso, ela colocou a bandeja na mesa ao lado da cama, o aroma do sanduíche fresco e do suco recém-espremido preenchendo o ambiente. Ela olhou para mim com uma mistura de curiosidade e avaliação, como se estivesse tentando decifrar meus pensamentos antes mesmo que eu os expressasse.
"Eu só queria..." comecei, mas parei quando ela começou a falar.
"Você precisa comer alguma coisa," interrompendo minha tentativa de falar.
Tentamos falar ao mesmo tempo, nossas palavras se misturando em uma cacofonia confusa. Ambas paramos abruptamente, percebendo o mal-entendido, e um silêncio constrangedor se instalou entre nós.
"Desculpa, eu..." comecei, mas a mulher pareceu ignorar minha tentativa de explicação.
"Desculpe pelo meu irmão mais cedo," ela disse, sua voz suavizando um pouco. "Ele pode ser um pouco... áspero às vezes."
Eu a encarei, surpresa pela admiração inesperada. “Você… está pedindo desculpas pelo ‘garoto do fogo’?”
Ela assentiu, seus olhos fixos nos meus. "Sim. Ele pode ser... difícil de lidar, mas Phoenix está tentando fazer o que acredita ser certo."
Eu tinha quase certeza de que ela ia dizer idiota, mas desistiu no meio da frase. Engoli em seco, processando suas palavras. "Bem, mesmo assim, ele poderia ter sido um pouco menos babaca," respondi, sentindo-me um pouco desconfortável com a conversa.
Ela pareceu ponderar por um momento antes de concordar. "Eu entendo. Mas agora eu não estou aqui para arrastar a conversa sobre ele a noite toda, só quero ter certeza de que você está bem, você é essencial para tudo isso."
Sua declaração me pegou de surpresa, e eu a encarei, sem saber o que dizer. "Eu sou essencial? O que você quer dizer?"
A mulher se aproximou, seus olhos fixos nos meus com intensidade. "Você tem conexões e habilidades que são necessárias para uma missão que estamos planejando. Uma missão que pode mudar muitas coisas, para muitas pessoas."
Eu pisquei, processando suas palavras. Uma missão? Do que ela estava falando? Mas antes que eu pudesse formular uma resposta, ela continuou, sua voz rápida e urgente. Ela hesitou por um momento antes de responder. "Precisamos invadir o prédio em que você trabalha. Há informações cruciais lá dentro que podem nos ajudar a proteger nossa comunidade. E acreditamos que você é a pessoa certa para nos ajudar nessa situação."
Suspirei, sentindo-me sobrecarregada pela súbita responsabilidade que me fora atribuída. "Eu não sei se posso fazer isso. É tudo... demais para mim."
Ela colocou uma mão reconfortante em meu ombro. "Você não está sozinha, Violet. Estamos todos juntos nessa. E faremos o que for preciso para proteger nossa comunidade, nossas famílias e todos nesta cidade, e garantir um futuro melhor para todos nós, assim como Bryan disse."
“O cara assustador de terno..” murmurei, com um toque de sarcasmo na voz. A mulher soltou uma leve risada. "Sim, ele pode ser um pouco excêntrico às vezes, mas nunca hesitou em ajudar quem precisa. Ele é leal à nossa causa e faria qualquer coisa para garantir a segurança de todos nós."
Assenti, ponderando suas palavras. "Bem, ele certamente tem uma... maneira única de mostrar isso."
Ela sorriu, concordando. "É verdade. Mas no fim do dia, todos estamos aqui pelo mesmo motivo: proteger uns aos outros e lutar por um futuro melhor."
"Eu prefiro um futuro onde eu não tenha que arriscar entrar em algum tipo de área restrita em uma maldita empresa de pesquisa militar," declarei, minha voz carregada de incerteza e preocupação.
Enquanto a mulher falava, sua figura se movia pelo quarto, como se a energia de suas palavras a impulsionasse. Eu a observava atentamente, mas minha mente vagava, perdida em um mar de incertezas.
Toda essa situação parecia loucura. Invadir o prédio onde eu trabalhava? Eu mal conseguia processar a ideia. Era como se estivessem me arrastando para um daqueles filmes de espionagem que eu costumava assistir, só que dessa vez eu era a protagonista involuntária.
"Isso é tudo insano," pensei, enquanto tentava acompanhar a conversa. "Eles realmente acham que sou capaz disso?"
A mulher continuava falando, seu tom se tornando cada vez mais convincente. Ela estava tão imersa em sua missão que eu me sentia um pouco perdida, incapaz de acompanhar seu fervor.
Enquanto eu olhava para a porta entreaberta, as palavras da mulher ecoavam no quarto silencioso, me deixando cada vez mais assustada com toda a situação. O medo começou a se instalar dentro de mim, e eu relutava em me envolver mais profundamente em tudo aquilo. Cada vez mais, a ideia de fugir se tornava irresistível.
Pensamentos turbulentos invadiram minha mente. O medo de me colocar em perigo era avassalador. E se algo acontecesse comigo? Quem cuidaria de Zoey? A simples ideia de ficar vulnerável e incapaz de proteger minha irmãzinha era o suficiente para me fazer tremer.
Decidi fugir. A necessidade de garantir a segurança da minha família superava qualquer outra consideração naquele momento. Então, sem hesitar, preparei-me para escapar daquele quarto e das pessoas que o habitavam, procurando uma rota de fuga.
Mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo, algo rápido e inesperado aconteceu. Um movimento no canto do meu olho me fez parar, e antes que eu pudesse reagir, senti algo me atingir com força.
A surpresa me dominou quando me vi jogada no chão, capturada em um movimento súbito que escapou da minha percepção. Instintivamente, fechei os olhos, preparando-me para o impacto iminente, mas quando os abri novamente, fui recebida pela visão da mulher acima de mim, segurando-me firmemente pelos braços.
Um misto de confusão e perplexidade inundou meus pensamentos enquanto eu tentava processar o que acabara de acontecer. Procurei respostas em seus olhos, que agora pareciam úmidos, cheios de uma emoção não identificada.
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