A criatura pareceu ter ficado um pouco confusa, após ouvir a voz fantasma, mas no instante seguinte, pareceu ter compreendido a situação.
— Então o Djinn não foi destruído junto com a lâmpada… ele estava o tempo todo escondido no penico… bem que achei que foi muito fácil destruir a lâmpada…— fala o monstro, entoando a voz com fúria.
Gabrielle parece incrédula “Então o tal do Djinn está no penico?”
O sentimento de exasperação toma cada vez mais conta da criatura, que uiva de cólera. Seus olhos vermelhos adquirem uma cor mais intensa.
— Não tenho nada contra você, mas o Djinn merece morrer… ele merece pagar, e vai pagar! E, infelizmente, você tem que morrer junto com ele! — Revela o monstro, em um tom de lamento e rancor.
Ao ouvir tais palavras, Gabrielle entra em desespero, ela lembra o tanto que se esforçou, os apuros que passou, não era justo!
“Eu vou morrer? Me esforcei tanto para acabar assim?… não, eu não vou morrer… não antes de realizar os meus sonhos!”, ela pensa firmemente.
Em um ato de desespero, Gabrielle, então começa a esfregar violentamente o penico, usando os braços e as mãos, e berra em tom de angústia:
— Sai, sai, sai daí… sai agora do penico, Djinn, o que quer que você seja!
Inesperadamente, uma intensa luz passa a ser emitida pelo penico, e invade todo o cômodo, ofuscando a visão da criatura e de Gabrielle.
Quando a intensidade do clarão vai arrefecendo, Gabrielle tem o vislumbre de uma silhueta posicionada entre ela e a criatura… É o Djinn!
Gabrielle não consegue desgrudar os olhos vidrados da figura mitológica que está diante dela. Um Djinn, algo como um gênio dos Contos das 1001 Noites, e da história do Aladim, está agora perante ela.
— Um… um Djinn, é mesmo um gênio da lâmpada… — Balbucia uma perplexa Gabrielle. "ele deve ser o mocinho, eu estou mesmo salva” — soluça, a garota.
A criatura, por sua vez, não compartilhava o fascínio de Gabrielle. Na verdade, a mera presença do Djinn parecia despertar nela uma repulsa visceral, inflamando ainda mais sua sede assassina.
O Djinn continuava a encarar Gabrielle com um sorriso confiante e audacioso, seus olhos a examinando meticulosamente, pensa "Que droga... Com essa garotinha frágil como Mestra, estou ferrado... preciso me livrar desse contrato o quanto antes."
O Djinn olhou para a criatura com uma expressão de tédio e desapontamento. Coçando levemente o lado direito da boca, ele provocou:
— Vixe... já vi que realmente não dá pra conversar com você...
Então, um sorriso largo e debochado apareceu em seu rosto, enquanto ele continuava:
— Sorria e diga “XIIIIIIIS"!
De repente, um flash de luz ofuscante explodiu das mãos de Farid, cegando momentaneamente a criatura. A besta se contorceu de dor, cobrindo o rosto com as garras, enquanto gritava:
— Ahhh, meus olhos!!
Aproveitando a distração causada pelo flash, Farid se moveu rapidamente em direção à janela, estendendo a mão para Gabrielle. Sua voz carregava um tom de urgência:
— Vamos dar o fora daqui, boneca!
Gabrielle, que havia presenciado tudo, percebeu que não foi afetada pela luz ofuscante. "Provavelmente porque fui eu quem convocou ele”, pensou. Ainda um pouco perdida em seus pensamentos, ela demorou alguns momentos para responder ao chamado de Farid.
— Ah… Sim! — respondeu Gabrielle, finalmente voltando a se concentrar.
Enquanto ela se dirigia à janela, a criatura, ainda urrando de dor, começou a destruir toda a parede do quarto em sua agonia, causada pela forte luminescência emitida por Farid.
— Ahhhhhhhh! EU VOU ENCONTRAR OS DOIS! E VOU MATÁ-LOS… EU NÃO VOU TER PIEDADE!
Gabrielle hesitou e se voltou para olhar a criatura, sentindo uma onda de compaixão invadi-la ao ver a besta se contorcendo em aflição. Farid, percebendo a intenção dela e querendo apressar a fuga, exclamou:
— Bora, moleza! Acorda pra cuspir!
Os rugidos de sofrimento da criatura ecoavam pela pousada e pelo bairro, enquanto Gabrielle e Farid escapavam, deixando a besta ferida e furiosa para trás.
— O que aconteceu, Djinn? Que ampulheta é essa em suas mãos? — Pergunta, Gabrielle, bastante preocupada, observando com atenção a bela ampulheta.
— Esse é o Horológio dos Desejos, artefato é carregado de magia antiga, onde armazenamos as Areias do Desejo… grânulos que só podem ser manipulado por nós, os Djinn. Somente com esse pozinho mágico, é que conseguimos realizar os sonhos de vocês, nossos Mestres. — Diz Farid, muito irritado.
Unindo os dois discos, três hastes douradas percorrem toda a estrutura. Entre os bulbos de vidro, um cinturão dourado, também adornado com arabescos intrincados e antigas inscrições, envolve a ampulheta, sugerindo o mistério e a magia ancestrais que governam o artefato. Cada detalhe do Horológio dos Desejos reflete a majestade e o perigo contidos em sua função, fazendo jus ao poder que ele concede a quem o possui.
Gabrielle observa a irritabilidade de Farid e não entende o porque o Djinn está tão nervoso.
— Por que você está tão nervoso? Não tem as areias e tudo bem! — diz, Gabrielle.
Farid, que estava concentrado no Horológio, vira-se para Gabrielle e responde — Você não entende, loira, eu precisava das Areias do Desejo para me desgrudar de você, e voltar para o meu penico… — diz ele, ríspido. — “Eu não quero morrer cedo, se ficar grudado com essa loirinha frágil, eu vou para o país dos pés juntos…” — devaneia irritado, o Djinn.
Gabrielle observa a preocupação estampada no rosto de Farid, e a rispidez da resposta, já intuindo o motivo.
— Ah, então era isso? Com as Areias você consegue se “desgrudar” de mim? Aliás, Sr. Djinn, o que vamos fazer se aquele monstro chegar aqui? — pergunta, Gabrielle, ironicamente.
— Se ele chegar a aqui, não vamos ter escapatória, a não ser correr, sacas? Correr pra chuchu, do pé bater na bunda, já que não temos as Areias do Desejo…
Subitamente, um vulto se aproxima de Gabrielle e Farid. O Djinn percebe a aproximação e franze o cenho, desconfiado.
— Você não deveria estar descansando para trabalhar amanhã? — Diz uma voz vinda por trás do ponto de ônibus, onde Gabrielle e Farid estão.
Gabrielle se vira ao reconhecer a voz. Ela está com um semblante aliviado, e anda na direção de onde vez a voz.
Farid franziu o cenho, seus sentidos aguçados captando a tensão no ar assim que ouviu aquela voz. Um calafrio percorreu sua espinha, e ele apertou o punho, ele tentou pensar rápido, ele e Gabrielle precisavam sair dali, sem Areias do Desejo, tudo estaria perdido.
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