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O Eternador

Rafael e a eternidade - Parte 2

Rafael e a eternidade - Parte 2

Sep 17, 2024

O rapaz ficou envergonhado e desviou o olhar.
Ele já sentiu, até naquele momento, esses batimentos algumas vezes, mas
sempre se surpreendia com o efeito que causava em si. A paz, a sensação gelada
confortável que percorria deus braços e acalmava o próprio coração, eram coisas
que ele nunca tinha experimentado.
— Respondendo sua pergunta. Eu nem sempre fui calmo, - pensava e relutava em
contar. - A primeira vez que tive que decidir o fim da vida no início da criação foi
doloroso.
— Imagino que tenha sido.
— Ainda hoje, sinto dor. Não só daquela época, mas de novas situações. Quando
eu levo alguém, sempre tento conversar com a pessoa e se ela permitir, vejo suas
memórias. Sua avó foi uma das poucas que permitiu ver tudo, absolutamente tudo
sobre ela. Naquele dia meu coração se tornou azul escuro e eu senti ele bater em
outro ritmo.
— Imagino, a história da vovó é bem pesada.
O rapaz até mesmo esqueceu onde estava sua mão. Na verdade, ele estava
até se aproximando, inconsciente, de Kerenos.
Nesse tempo todo, a divindade estava fazendo algo que só fazia quando
levava uma pessoa gentil, ele estava agachado, ajoelhado com apenas um dos
joelhos no chão, permitindo que uma criatura viva o tocasse. Ainda não entendia
porque estava fazendo isso, porque estava permitindo isso para esse humano vivo.
Por alguma razão, ele não se lembrava de ter encaixado a alma desse ser
humano na Terra, era um mistério para ele de onde a criança veio.
— Você sabe a história do seu nascimento, Rafael?
— Sei.
— Poderia me contar?
“Minha mãe estava tentando engravidar, mas nada deu certo. Ela não admite,
mas aí recorreu à minha avó, quando engravidou de mim. Segundo os médicos, eu
era um feto morto dentro dela. Então minha avó pediu aos orixás, aos santos e usou
de seus conhecimentos em bruxaria natural para conseguir voltar me fazer viver.
Daí quando minha mãe foi ao médico de novo, eu estava vivo e crescendo rápido.”
— Entendi, então foram os orixás. Por isso eu não sabia de você até a minha irmã,
a divindade das vidas, me contar que eu ia te encontrar.
— O que você sabia sobre mim?
Sem perceber, os dois estavam envolvidos em um abraço.
— Apenas que você era um ser que não teve passagem pela linha do nascimento
padrão de uma alma e que eu ficaria interessado.

— Hummm. Entendi.
O silêncio reinou, pelo menos o silêncio de suas vozes. O coração de
Kerenos ainda estava batendo em um ritmo suave, porém diferente, nenhum dos
dois notou, mas transmitia a cor rosa claro.
Depois de um longo tempo de quietude, Rafael percebeu as horas.
— Eu tenho que ir embora. Me dá uma carona?
— Claro!
Novamente, do nada, ele estava em casa como se tudo tivesse sido um
sonho.
Com o tempo, as visitas de Rafael ao cemitério ficaram mais frequentes.
Antes ele estava indo uma vez por mês, depois passou a ir todo sábado e domingo.
Algumas das vezes Kerenos não o chamou para conversar, mas depois
explicou que era por causa do culto. Ele não queria expor o rapaz aos fanáticos pela
imortalidade.
O humano perguntou porquê ele aguentava essas pessoas e a divindade
respondeu que gostava da igreja e ter alguém para limpar é melhor que ele mesmo
fazer isso.
— Você já comeu bolo de chocolate?
— Nunca me alimentei de comida humana.
— Sábado é meu aniversário, vou separar um pouco do bolo de prestígio que vou
comprar com meus amigos e trazer para você no domingo.
Kerenos não estava esperando essa gentileza e estava esperando menos
ainda quando o rapaz de fato apareceu com um pote cheio de bolo de prestígio no
domingo.
— Você me disse que a cor amarela significa felicidade. O que a cor rosa significa? -
disse com a boca cheia de bolo.
— Que estou amando alguém ou algo, mas isso aconteceu apenas uma única vez.
Rafael olhou para o coração da divindade e que estava rosa, batendo em um
ritmo bem lento e então abriu um sorriso.
A divindade percebendo que seu coração estava sendo encarado, olhou para
baixo e deu um sobressalto.
Imediatamente com o rosto ficando vermelho.
— Eu... Isso...
— Quem você está gostando assim? É alguém do seu culto?
— Não.
— Quem é?
Kerenos dobrou os dedos e apontou na direção do rapaz que, ao perceber o
que isso significava, tapou o rosto com as mãos, sentindo o coração agitado.
Os dois ficaram um bom momento quietos. O rapaz ainda com a mão no
rosto, tentando conter um sorriso bobo e se segurando para não se balançar de um
lado para o outro que nem uma criança.
— Você deveria saber pelo tempo que conversa comigo que eu não vou te julgar.
— Hummmmmmm... - Ele soltou um gemidinho e começou a balança.
A divindade envolveu o humano em seus braços.

— Eu sinto-me exposto depois disso.
— Tudo bem. Eu não vou negar seus sentimentos.
— Fico feliz em saber disso.
Os rostos dos dois se encontraram e eles deram um selinho. Rafael sentiu-se
estranho por estar beijando um não humano e, ao mesmo tempo, feliz por uma
criatura tão poderosa ter olhado dessa forma para ele.
— Chegou a minha hora.
— Entendo, eu te mando para casa.
— Obrigado e trate de comer o restante do bolo.
Na semana seguinte, Rafael não apareceu.
Kerenos achou que o rapaz estava apenas ocupado, mas em um
determinado momento seu coração da vida e da morte bateu uma batida pesada e
dolorosa. Uma alma estava pedindo despacho.
Uma alma poderosa, uma alma pesada, uma alma que ele conheceu mais
que tudo nos últimos meses.
A divindade que nunca chorou, sentiu tantas lágrimas escorrerem de todos
seus olhos, seus três corações estavam doendo de forma imprescindível.
— Decreneeeeeeeeeeee! - Ele utilizou todas as vozes que podia usar.
Naquele dia, a cidade de Santa Margarida do Rio de Janeiro ouviu um som
ensurdecedor como se fossem trovões em um céu aberto de meio de verão.
— O que foi, irmãozinho? - O respondeu com desdém.
— Por que?
— O que?
— Por que você deixou isso acontecer com ele?
— Foram teus fantasmas tão queridos, eu não tive nada haver com isso.
— Você poderia ter impedido.
— Eu não quis, uai?! Não sou obrigada.
— Agora vou ter que...
— Ceifar a vida dele. - Deu um sorriso maldoso.
Kerenos percebeu que a irmã realmente fez de propósito, a raiva o dominou
e seu coração ficou preto.
Decrene só viu o coração dele ficar preto uma vez e logo se arrependeu.
— Não, não. Por favor, não! Você não faria isso com sua irmã.
— Por meio das minhas palavras eu decreto, agora, você não é mais eterna.
A divindade castigada sentiu uma imensa parte de sua energia ser drenada
para o universo imediatamente após as palavras do irmão acabarem. Ela se sentiu
fraca, suja, indigna.
— Irmão, por favor! Me escute!
— Suma da minha frente, antes que eu termine a tua vida.
— Por fa-
— Agora, Decrene!
A deusa saiu fugida dali, se teleportando para outro plano astral e isso a fez
entender mais ainda o que não ser mais eterna significava para si. Ela se sentiu
desgastada – o que nunca antes havia sentido.

Kerenos não se teleporta direto para dentro de um hospital, em respeito aos
doentes, ele normalmente transporta a alma dos que ceifa para si. Mas para Rafael,
ele queria ver o rapaz, então assumiu uma forma humana, se teleportou até a região
do hospital e fez o resto do caminho a pé.
— Eu vim visitar o Rafael Gonçalves Rodrigues - anunciou na recepção.
— Só um segundo. - Uma pausa longa. - Ele está no quarto 243.
— Obrigado.
Chegando no quarto, ele nem precisou se aproximar para ver o que houve
com Rafael. Ele estava sangrando, mas sangrando na alma, então a medicina
moderna humana não seria capaz de curar isso. Seu corpo estava com febre e tinha
um soro em sua veia, medidores de batimento cardíaco e nas bancas um monte de
imagem de Jesus.
— O- oi. Você poderia se livrar dessas imagens para mim? - falou com a voz fraca e
embargada de dor.
— Claro. - Num estalo de dedo sumiu tudo.
— Seu coração - tossiu sangue. - seu coração está preto.
— Significa luto.
— Eu sei, você me contou. Quem morreu? - Diante da expressão de dor de
Kerenos, o rapaz percebeu. - Ah, eu vou morrer... Para isso você está aqui.
— Sim.
— Chega perto.
A divindade não estava querendo se aproximar, porque da porta já estava se
sentindo doente, dolorido, cansado e triste.
Quanto mais perto, mais lágrimas rolaram de seus, no momento, dois olhos
humanos.
— Você é a criatura mais especial que eu já conheci - a última palavra saiu como
um gemido de dor. - Eu te amo tanto.
— Eu sei, eu também te amo, o que eu achava ser impossível.
Rafael levou a mão ao rosto de Kerenos, sentindo a pele estranhamente não
áspera como a de sua forma divina.
— Prefiro sua outra forma.
O deus não pôde deixar de sorrir e não percebeu, mas seu coração havia
ficado com traços rosas. Raramente as pessoas gostam de sua forma de divindade.
Ele achou engraçado, porque a avó do rapaz disse a mesma coisa para ele.
— Aí está, um sorriso bonito!
— Eu queria...
— Pode falar.
— Eu queria te tornar imortal... - Puxou o ar para os pulmões pesadamente antes
de concluir. - Mas seria egoísta da minha parte.
Kerenos já havia explicado para ele que quando um humano se torna imortal,
ele costuma se tornar cruel com o tempo. Os poucos que ele concedeu essa benção
se tornaram ditadores, bilionários, escravocratas ou regeram impérios em cima de
exploração de seus semelhantes.
— Você tem como salvar meu corpo físico?

— Não, ele já está doente demais. Teria que fazer você nascer de novo.
— Ótimo!
— Como assim?
— Eu seria um espírito ao seu lado, mas você consegue tocar espíritos, então não
teria problema. Eu poderia viver no cemitério com você. É só você não me dar mais
poderes que a imortalidade.
— Mas você não ia querer-
— Ver meus amigos ou família? Eu posso virar amigo dos fantasmas de lá e minha
família, você viu.
— Então... Você estaria disposto a passar a eternidade comigo?
— A eternidade e mais uns anos depois dela.
O coração de Kerenos assumiu as cores do arco-íris. Era felicidade, amor,
gentileza, medo, compaixão, misericórdia, louvor, tudo misturado dentro dele.
No dia seguinte, Rafael estava se sentindo pesado como se estivesse tendo
um sonho estranho. Quando abriu os olhos, na velocidade que o sono embriagante
o tomava permitia, acordou não na cama de um hospital ou em sua casa, mas em
uma cama bem arrumada em um quarto de pedra com santos e vitrais coloridos por
todo lado, mas nenhuma luz natural ou artificial, porém estava tudo claro.
Ele virou o rosto e viu seu amado sentado, o observando.
— Bem-vindo à imortalidade, meu amor!
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