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O Eternador

Rafael e a Eternidade - Parte 1

Rafael e a Eternidade - Parte 1

Sep 17, 2024

This content is intended for mature audiences for the following reasons.

  • •  Abuse - Physical and/or Emotional
  • •  Mental Health Topics
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Piiiiiiiiiiii...
As lágrimas rolaram dos olhos de Rafael, a única pessoa da família que
aceitou ele ser um homem trans acabou de morrer.
Sua avó era a pessoa mais doce do mundo – ela tinha seus defeitos, claro –
e não merecia o que o câncer fez com sua saúde.
A mãe dele tomou a frente das preparações do velório, ignorando que a
senhora era da umbanda e simplesmente fazendo um enterro evangélico.
No cemitério, o pastor fez discursos sobre como o “pecado LGBT” trazia
castigo para a família e todas as pessoas que concordaram – praticamente toda a
família – o olharam feio.
O rapaz não pôde nem mesmo ficar para ver o caixão ser posto no túmulo
porque não estava aguentando os cochichos e sussurros de canto.
Voltando mais tarde, já altas horas da noite, ele estava se direcionando ao
local onde a senhora foi enterrada quando foi parado pelo coveiro.
— Se eu fosse você não ficaria aqui de noite sem um santo protetor, rapaz.
— Eu só estava indo ver minha avó.
— Seja breve.
De acordo com que se aproximava dos túmulos, um sussurro arrepiante e um
frio estranho foram adentrando até fazerem os ossos de Rafael vibrarem em
sintonia.
Todo arrepiado e com medo do ambiente – um local com terra batida, grama
crescendo aleatoriamente em alguns túmulos, locais em que gente rica foi enterrada
com enfeites de santos de tamanho exagerado para algo que não é uma igreja e
aquela subida... Ah, aquela subida infernal até o topo do morro lotado de lápides
mais humildes –, Rafael, a todo momento queria desistir e voltar para casa.
Ele lembrou que uns dias atrás tinha visto notícias da cidade que naquele
cemitério tem construção de uma igreja subterrânea, o cemitério surgiu depois
quando o local perto do morro foi aterrado por desuso. A terra que removeram do rio
da região para abrir espaço e diminuir as enchentes foi toda depositada ali, sumindo
com a antiga igreja.
Só depois de lembrar-se de toda especulação absurda que já ouviu sobre o
local, ele chegou ao túmulo da avó.
— Olá, vó. Desculpa não ter estado no fim do seu enterro. É que estava muito
desconfortável.
Silêncio. Ou quase isso, os sussurros de gelar a espinha ficaram mais altos.
— Esse lugar está me dando arrepios, mas eu queria te ver. Já estou com
saudades.
— Bu!
Rafael deu um sobressalto, ficou mais gelado que picolé e logo levou a mão
no coração, que estava disparado e doendo. Ele olhou para onde veio o som e
nada.
O medo o dominou, então começou a correr dali. Risadas guturais sairam
dos túmulos e a visão do rapaz escureceu.

— Trouxemos uma oferenda, grande Eternador. - Uma voz próxima, mas que
parecia tão distante soou nos ouvidos de Rafael.
— Os fantasmas acabaram com ele, não podemos ficar com todo mérito. Sabemos
que não gosta de mentiras.
— Saiam e me deixem a sós com ele. - Essa era uma voz forte duplicada e que
parecia vir do vazio.
— Sim, senhor!
O local ficou em silêncio. Rafael, meio desacordado ainda, estava tentando
entender o que estava acontecendo.
Sentiu alguém ou algo se aproximando. Quanto mais perto, mais gelado
ficava.
Por algum motivo, esse gelado não era desconfortável como o rapaz sempre
sentiu sobre qualquer coisa assim. Era um conforto fresco, como um milkshake em
dia de quarenta graus Celsius.
— Deixe-me resolver sua confusão mental. - A entidade falou tocando a testa de
Rafael.
Em segundos a mente do rapaz clareou, ele conseguiu abrir os olhos e
respirar mais leve.
A primeira coisa em sua visão foi um ser preto de três metros de altura,
cabelo cacheado e castanho-escuro até o pé. Mas isso era tudo de humano que a
criatura tinha. Seu rosto tinha seis olhos, três de cada lado, todos roxos. Duas
bocas, uma menor na testa, sem lábios, e uma maior e humana onde seria
normalmente a boca de um ser humano. Seus braços se estendiam até os joelhos e
seus dedos até o meio da panturrilha, além disso, eram quatro. Seu pescoço era
longo, provavelmente uns vinte centímetros, e nele tinham guelras fazendo a volta
completa, isso fez o rapaz entender porque não viu nariz no rosto. As orelhas eram
arredondadas, mas compridas – do tamanho de um palmo de um homem adulto.
O rapaz desviou o olhar, não querendo mais ver tal ser que, para ele, era no
mínimo bizarra.
— O que foi, jovem Rafael?
— Como sabe meu nome?
— Eu sei muita coisa.
O garoto começou a se afastar, rastejando pelo chão. A presença opressora
da criatura o estava deixando desconfortável, mesmo que eles não estivessem tão
próximos assim, já que o ser estendeu o braço de longe.
O Eternador se sentiu ofendido e, ao mesmo tempo, triste, queria que Rafael
o adorasse que nem seus fiéis. Na verdade, pior – para a criatura – ele queria que o
rapaz o amasse.
Há muito ele sabia que iria o encontrar e aguardou ansiosamente para esse
dia, mas não esperava que essa fosse ser a reação.
— Eu me chamo Kerenos, na verdade.
— Não me importo, eu quero ir embora daqui.

— Deixa eu ao menos te curar, você está cheio de feridas por ter rolado o morro
abaixo quando desmaiou. E eu sei que você está ignorando a dor, tentando ser
forte.
— Eu... Não importa. Não quero que você se aproxime.
— Por favor, deixa eu só fazer isso por você. - A divindade que nunca teve que
implorar para alguém por algo se sentiu estranha ao dizer isso.
— Não!
Kerenos percebeu que não ia ganhar no argumento, então usou dois de seus
braços para segurar Rafael, diminuiu a distância entre os dois e curou todos os
ferimentos físicos do rapaz.
Durante todo o processo, o humano tremia e até começou a chorar. Mas, em
algum momento, percebeu que o tórax do Eternador estava brilhando e foi quando
reparou que a criatura tem três corações, formando um triângulo de ponta cabeça, e
eles ficam visíveis, pois a pele da região é transparente. Ver isso, de alguma forma,
o acalmou.
O som constante dos “tudu” do coração da divindade eram ritmados como se
estivessem cantando uma música que conta a história do universo.
De fato! Os corações estavam contando a história do universo, quando ficou
um pouco mais atento, Rafael conseguiu ouvir o som, de longe, do que ele teve a
certeza, ser o Big Bang.
— Terminei.
— Obrigado - respondeu sem graça, principalmente por ter tido seu transe cortado.
— Posso te teleportar para fora do cemitério ou direto para sua casa. Mas quanto
mais longe mais você vai vomitar, os humanos não aguentam isso direito.
— Eu não posso ir, tipo, a pé?
— Você acabou de ter um dia traumatizante, ficaria mais confortável em saber que
te mandei direto em segurança para fora dessa igreja.
Rafael relutou, mas aceitou.
Num piscar de olhos ele estava em casa, no seu singelo apartamento com
poucos móveis e desenhos de reinos de fantasia por todas paredes.
— Aha! Ele disse que eu ia vomitar, mas-
— Blerh! - O vômito foi tanto que sujou o tapete da casa todo.
Se sentindo horrível por ter vomitado, o que ele achou ser, todo o nutriente
que seu corpo já consumiu na vida, o rapaz foi deitar, deixando a limpeza para o
outro dia.
O despertador não falha, acordou Rafael às oito da manhã, como todo
sábado desde que foi programado. Por sorte, ele era trabalhador do governo, então
não trabalhava aos finais de semana. Porque se tivesse que ir trabalhar com a dor
de cabeça, o enjoo e a perturbação mental – tanto por conhecer uma divindade em
pessoa, quanto pelo enterro de sua avó – que ele estava sentido, iria ser demitido
por ofender alguém importante.
Depois de um bom banho, escovar os dentes até quase se machucar e um
café reforçado com bolo, pão com margarina e achocolatado, finalmente se sentiu
revitalizado.

Rafael tentou não pensar muito sobre a noite anterior, que os sintomas
mostraram ter acontecido de verdade. Mas não conseguia evitar lembrar de
Kerenos.
Uma parte dentro de si estava desejando conhecer mais sobre a criatura,
conversar e saber o que ela já presenciou.
No meio da tarde, ele decidiu ir para o cemitério de novo, no dia anterior não
conseguiu “falar” com a avó direito.
Chegando lá, acreditando estar seguro por ser de dia, entrou confiante,
dirigindo-se direto ao túmulo da falecida.
— Oi, vó! Eu voltei.
— Se você quer falar com ela, eu posso te ajudar.
Novamente Rafael quase teve um piripaque de susto, ao seu lado
encontrava-se o ser gigante e meio assustador.
— Vocês... digo, você e os fantasmas poderiam parar de me assustar assim? -
indagou levando a mão ao peito.
— Desculpa! Oh, você não está se afastando.
— Eu acho que seria rude da minha parte que eu fizesse isso depois de você ter me
curado e me dado uma carona horrível, mas de graça, de volta para casa.
— Hahaha!
— Mas, como assim, pode me ajudar?
— Eu sou o Eternador, se lembra?
— Sim, mas não sei o que isso quer dizer.
Kerenos arregalou os olhos, mas logo voltou para a expressão habitual. Às
vezes, esquecia que em várias regiões do mundo humano as pessoas acreditam em
um único deus, dessa forma eles não estudam sobre os outros. Além de, nessa
parte, ser ignorante e não saber que o culto que o segue é um caso especial de
gente que conseguiu um material raro sobre ele.
— Bem, eu sou a divindade eterna responsável por designar mortalidade,
imortalidade e controlar o fluxo de vida do universo. Por isso, o Eternador.
— Entendi.
Rafael, voltou a olhar para o túmulo de sua avó, pensando sobre a proposta.
Quando percebeu algo.
Se Kerenos é o responsável por controlar quem morre e quem vive, ele
decidiu que a avó do rapaz devia morrer.
Quando chegou a essa conclusão, um ódio indescritível começou a consumir
o rapaz.
Ele direcionou um olhar carregado e cheio de lágrimas para a divindade.
— Você matou ela... FOI VOCÊ QUE MATOU ELA.
— Foi o câncer.
— Foi você. - Começou a dar socos no peito do outro gritando e repetindo a frase
até se cansar e perder as forças.
A divindade abraçou Rafael e deixou ele chorar até se acalmar.
— Você matou ela. Você tirou ela de mim.

— Rapaz, eu controlo o fluxo de vida, não as doenças ou situações. Se eu deixasse
sua avó viver, poderia ser que ela vivesse no hospital mais uns anos, sofrendo.
Você ia querer isso?
— Eu... Eu não sabia, achei que você também controlasse isso.
— Não, doenças e acidentes são controlados pela minha irmã. E ela gosta de fazer
as pessoas sofrerem, você não gostaria dela...
— Eu posso ver minha avó?
— Claro.
Pela primeira vez uma das bocas de Kerenos se abriu, a boca da testa falou.
— Dona Madalena, seu neto quer te ver. - A voz saiu funda, alta, mas, de alguma
forma, ainda sem som.
No ambiente começaram a aparecer diversos pontinhos multicoloridos, que
se juntaram em cima do túmulo e formaram a imagem da avó de Rafael.
O rapaz logo se afastou da divindade, encarando a senhora na sua frente.
Madalena levou a mão ao rosto do neto.
— Ô, meu querido. Não queria que você sofresse tanto.
— Vó, eu... - Não conseguiu expressar mais que isso, porque voltou a chorar
novamente.
— Está tudo bem, meu bem. - A senhora o abraçou. - Vejo que conheceu o
Eternador.
— Sim - fungou.
— Ele é um rapaz... ora... não sei se posso chamá-lo de rapaz.
Kerenos assentiu positivamente com a cabeça e a senhora observou de
soslaio.
— Bem, ele é um rapaz muito gentil. Eu estava com medo de morrer, sabe?! Ele
trouxe minha alma do hospital, sem me levar para o outro lado totalmente na hora, e
me tranquilizou.
— Mas ele tirou a senhora de mim. - Sua voz tremeu ao falar.
— Ele não me tirou de você, meu amor! Todo mundo tem uma hora, a minha
chegou.
— Ele disse que pode fazer as pessoas imortais, a senhora poderia ser-
— Meu filho! - A senhora chamou atenção. - Eu nunca quis ser imortal, morrer é
uma das coisas boas de se viver. Saber que pode acabar.
— Eleanor está exigindo a alma de Madalena de volta. O tempo de vocês acabou,
desculpa.
— Nos dê só mais um tempo, por favor. - Rafael implorou.
— Não precisa. Meu filho, eu estou sempre pensando em você, mesmo agora.
Saiba que a avó te ama do jeitinho que você é.
A senhora encarou o neto por uns segundos e fez o ritual que muitas
pessoas do interior fazem com suas crianças, um beijo em cada bochecha e um na
testa para casar bem.
— Adeus, meu filho precioso.
— Adeus, vó.

Quando a senhora desapareceu, Rafael começou a chorar de novo. Kerenos,
sentindo que acabou fazendo mal para o rapaz, se aproximou sem jeito e o abraçou
com todos seus braços.
Os “tudus” dos corações da entidade fizeram o rapaz relaxar novamente e se
acalmar de maneira suave.
Quando ficou melhor, ele passou os braços pela divindade e retribuiu o
abraço, sentindo o geladinho que o ser o faz sentir.
— Obrigado.
— Por nada. Não posso fazer isso sempre, mas-
— Não precisa, acho que minha avó não ia gostar de ser incomodada sempre.
— Entendo.
Sem que Rafael percebesse, Kerenos o ergueu levemente seu traço e, de
repente, eles estavam na sala onde o conheceu.
Os dois se afastaram e agora o rapaz pôde passar os olhos pelo ambiente. É
o saguão de uma igreja, feito em estilo barroco, com vitrais e estátuas de santos
católicos, tem bancos de madeira entulhados no fundo, perto da porta, e uma
grande cadeira bem no centro da outra extremidade.
— Você não dorme?
— Não.
— Entendi.
A entidade percebeu que sua resposta talvez pudesse ter magoado o
humano.
— Quero dizer, eu não posso dormir.
— Isso é triste.
— Não sei se tanto.
— Como assim?
— Tem tempo para escutar?
— Estou de folga do serviço.
Kerenos piscou todos os olhos em sincronia, respirou fundo, fazendo as
guelras se abrirem, depois expirou lentamente.
Começou a explicar, relembrando o rapaz do papel que ele tem no universo.
Depois falando sobre como não ter que dormir, permite que desempenhe sua
função melhor.
Falou sobre como os sonhos não fazem falta, já que, como não era uma
criatura onisciente, conseguia conversar com cada ser e ver cada criação e morte
de estrela e sempre seria uma novidade para ele.
Aproveitou o momento para explicar sobre seus corações. O primeiro, o da
esquerda do topo bate ao ritmo da forja do tempo, ou seja, bate no tempo de
expansão do universo. Isso fez Rafael entender porque parece parado.
O segundo, o da direita no topo, bate ao ritmo da brevidade da vida. Bate
uma vez para cada morte e nascimento do universo, por isso parece uma britadeira.
Por incrível que pareça esses dois corações não faziam som.

O último, o coração que completa o triângulo, bate ao ritmo dos sentimentos
de Kerenos, é o que seria o coração humano. E como a entidade estava sempre
calma, o coração estava sempre sereno.
— Ele sempre foi calmo assim? - Levou a mão ao peito do outro, mas recuou antes
de tocar. - Desculpa.
Kerenos pegou na mão dele e colocou em cima da região do coração.
— Eu não me importo que você me toque.
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A morte chega para todos, não foi diferente para a avó de Rafael. Quando chegou o enterro da avó, o rapaz, teve que ficar para vê-la mais tarde.
Por estar no lugar errado e na hora errada, acaba sendo sequestrado por um culto, mas isso o permite conhecer O Eternador.
O envolvimento do humano com a divindade tem seus desafios, mas ambos se apegam e acabam dividindo algo especial.
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