-Desgraçado. - Ziu fala em tom de raiva, enquanto segura a investida da espada contra seu corpo usando o antebraço direito coberto, ele ataca com sua canhota que estava envolvida com o cristal, ele se expande subitamente, acertando um golpe poderoso no corpo de Dilan que é arremessado a alguns metros de distância, acertando o chão e se ferindo, batendo duas vezes contra o piso.
Ele rapidamente recupera sua compostura depois de cair, pude perceber que aquela pequena pedra vermelha acorrentada, que o Ziu chama de “chave”, se encontra como um pingente pendurado ao pescoço dele. Agachado, ele desenha com a ponta do dedo no chão, um formato circular grande, e ele mergulha em direção ao chão, desaparecendo, de repente, pela direita, ele avança com seus dois pés, saindo de um buraco, que se abriu misteriosamente na parede do hangar, deitado e em alta velocidade ele incide um golpe voador com seus dois pés no rosto do mafioso, pressiona ambos contra sua bochecha e quebra a pancada num mortal, aterrisando com maestria novamente ao lado de Ziu que se encontra levemente atordoado. Ele investe na minha direção e para ao meu lado.
-Eu curei-te, está apto para o combate?
-Você fala “mais normal”, ou fica por isso?
-Responda a pergunta, não me faça ficar confuso.
-Estou.
-Ótimo.
Numa rápida cinese de mão ele entra novamente em postura de combate com a espada a sua frente, com o corpo rígido e ereto, ele mede a distância de novo até nosso oponente que encontra se reerguendo do golpe e ele para em pé com a cabeça baixa e os pés distantes, Ziu coloca suas mão devidamente fechadas e juntas à frente do corpo e começa a separá-las na horizontal, esticando a névoa de dentro das falanges de seus dedos que se solidifica no ar, forjando sua própria espada de gelo.
Os dois avançam um contra o outro, Dilan ataca movimentando sua lâmina como uma onda que se ergue de baixo para cima e Ziu defende com a agressividade de um relâmpago, incidindo um impacto de cima para baixo, empurrando a lâmina de Dilan para longe e criando uma abertura para o contra-ataque, um chute rotatório vindo da esquerda coberto de gelo. Mas ele segura a perna do inimigo, a defesa anterior não foi o suficiente para tirar o seu foco, as chamas se expandem de dentro da sua mão e o cristal frio explode, os estilhaços se espalham com violência pelo ambiente e sem alternativa, rolo para trás da bancada para me defender.
Tento focar. Pensar eu mesmo em como participar dessa batalha, eu não faço a mínima ideia de onde as habilidades de Dilan vieram, tão pouco como lutar, mas o que pude perceber é que eles respeitam muito o ataque um do outro, cada um tem sua vez de agir, também percebi que a força a resistência e a velocidade deles é muito mais alta que de uma pessoa comum, mas que de certa forma, eu percebo e sinto que posso reagir à isso. Continuo ouvindo os impactos contínuos dos golpes dos dois, que se mantém numa luta aparentemente equilibrada, e tive para mim mesmo que a melhor forma de fazer isso, era fazer com que a vez que seria de Ziu, fosse a minha. O nevoeiro gelado parece cada vez aumentar mais e o chão agora possui uma camada fina de gás frio que escorre, indo até o portão e fluindo para fora do Hangar. Uso minhas mãos que acabam grudando ao chão numa tentativa falha de me levantar para agir, o chão se encontra tão seco que começou a retirar a umidade do ambiente e a secar o que o toca. Uso minha força para descolar meus dedos do piso e a pele destes acabam rasgando e ficando presas ao chão, revelando a carne, sem tempo pra dor, olho por cima da bancada ainda abaixado e vejo o combate contínuo com pancadas cadenciadas por parte dos dois, Dilan secreta o fogo que parece cada vez mais fraco na ponta de sua espada, o frio está ganhando de suas chamas. Num movimento rápido, Ziu acerta um golpe com sua espada transparente na barriga de Dilan, e ao invés de o cortar, ele o ergue o arremessando alto na direção do portão.
Num movimento parabólico, Dilan incide contra o metal enrolado sobre o arco da entrada e o portão despenca, nos fechando dentro do hangar. O nevoeiro se torna mais alto, e ainda abaixado, eu rastejo na direção de Dilan e o atrito baixo do chão frio me faz escorregar, caindo de barriga e deslizando até o caído, que começa a se levantar.
-Como tá usando fogo, qual é o seu poder? Os buracos ou o fogo?
-Os buracos. O fogo aparece quando eu preciso, aparentemente. - Percebo que no momento, não tem fogo nenhum saindo de nenhum lugar. - Acho que vem da chave. Desde que a coloquei ele aparece, é como se estivesse vivo. - Ele completa se referindo a jóia em seu pescoço.
-Eu tenho uma ideia, a gente não pode dar tempo dele atacar, você tem que usar os buracos pra - Eu simplesmente paro de falar, não consigo mais, isso porque o ar nos arredores ficou seco e fino a ponto de ser impossível de se inalar, provavelmente as minhas vias respiratórias se fecharam. Olho para de Ziu e o vejo largando sua espada e iniciando uma corrida em nossa direção. Repentinamente um círculo de fogo se forma no nosso arredor, esquentando o ar e abrindo nossas vias. - Ataca ele, de cima. - Termino, segurando firme no braço de Dilan, logo o soltando, que faz o processo de antes, ele desenha com o dedo no chão uma circunferência que se preenche de preto, criando um buraco sem fundo e ele salta para dentro, logo, o buraco se fecha deixando um aspecto espiral e e segundos, ele aparece novamente acima de Ziu, num ataque imprevisível.
Uso o Nirvana e aumento a ação da gravidade no corpo de Dilan que despenca rasgando o ar e dispersando a névoa enquanto roda com sua espada na bainha próxima ao corpo, mas Ziu é mais rápido, e passa por ele antes que ele caia sobre sua cabeça, um erro de cálculo pequeno, faz Dilan atingir o chão com força, o impacto do mesmo contra a terra levanta poeira e racha o chão na região criando uma pequena cratera, o tremor faz as janelas que estavam abertas caírem e fecharem, fechando o Hangar por completo, vedando o ambiente, a névoa fica bem mais espessa. Ziu continua avançando freneticamente até mim, criando um sincelo na sua mão, mas tão pontudo e polido quanto uma lança e arremessa ele em mim, que uso o Nirvana de novo, e desvio o projétil para longe com a gravidade, respiro fundo o ar quente que resta nos meus arredores e prendo minha respiração, agora mais próximo do meu oponente parto para o confronto direto.
Ziu vem com suas garras congeladas na direção do meu rosto e eu me movo para baixo como um coelho se escondendo em sua toca. Ele arranha o ar e abaixo do corpo dele, faço um movimento por reflexo com a perna acertando uma rasteira que desestabiliza o mesmo, rolo para o lado conforme ele despenca sobre mim, fazendo-o cair num baque seco no chão frio. Observo o ambiente próximo e agarro um daqueles gabinetes que Dilan xeretou anteriormente, de uma forma instintiva usando meu poder e o ergo, formando uma parábola perfeita e acerto Ziu em suas costas com o armário de ferro.
-Di… agora! - Falo com o ar que me resta, já sufocando, acabo cortando inclusive o nome de Dilan (o chamando de algum apelido) que faz o mesmo movimento de antes, abrindo um outro buraco no teto, despencando envolto nas chamas vermelhas enquanto esquenta o ar de novo e derrete a umidade congelada, ele incide um golpe com suas duas pernas sobre o gabinete pressionando Ziu no mesmo lugar novamente com muito mais peso e praticamente o dobrando no meio, ele flexiona seus joelhos absorvendo o impacto, eu removo a enorme força peso dele que salta para trás em resposta, executando uma pirueta graciosa e pousa com a precisão de uma bailarina. Me certifiquei de inspirar fundo antes que o frio tomasse conta do hangar novamente.
Ziu, ele treme, como um guerreiro orgulhoso derrotado, cheio duma energia de raiva, ele libera um grunhindo de ódio. Quando começa a se erguer, os músculos inferiores de suas costas pulsam e contraem como se vermes se movessem por debaixo da sua pele, e ele levanta, soltando um grito silencioso, com toda sua agonia. Ele está dançando, dançando com sua própria sorte, contando com suas habilidades, os músculos de seu braço aderem ao mesmo movimento, contraindo como se tivesse uma câimbra no corpo todo, ele arqueia as costas, e solta o mesmo grito, mas dessa vez alto, com toda a força de seu pulmão enquanto todos os orifícios de seu corpo soltam a névoa branca incluindo seus olhos vazios. Ele olha para cima, e depois para Dilan, e depois para mim, como quem está à beira de fazer algo.
-Eu não perguntei, qual é o seu nome mesmo?
-Dai, Dai Sanji.
-Sabe Dai, TUDO nesse mundo termina na máfia, eu entendo sua mente sonhadora e seu senso de justiça, mas essa é a ordem mundial. É assim que as coisas funcionam, então por mais que você seja muito burro, o que provavelmente é, você pode entender.
-O que quer dizer?
-Eu não sei dos seus sonhos, dos seus objetivos entrando aqui e destruindo o que tomamos e criamos, mas tudo acaba, no fim, por fazer parte da nossa extensa gama de agregados, a Mona deve ter te explicado. Ela tem uma boca aberta demais quando se trata de pessoas como você aparecendo. Tudo isso é fruto de uma grande busca, é uma conspiração, a máfia não é só a maior entidade criminosa como a maior entidade filosófica que há, e nós buscamos a resposta para aquilo que a ciência não responde. E pessoas como vocês são importantes, porque passaram pelo julgamento de Deus.
Ele leva a sua canhota, meio trêmulo e ainda contraindo seus músculos nas menores partes até sua cintura e puxa um revólver, Dilan em resposta leva a mão até a bainha. O revólver em questão é o mesmo trabuco dourado que ele usou para disparar contra minhas costas naquela noite. Ele o solta no chão e volta a falar.
-Uma das mulheres da família descobriu uma constante nesse universo, uma energia que representa a assinatura de Deus no mundo, ela flui por tudo nas mínimas coisas, proporcional ao funcionamento delas. Mas não confunda com a proporção áurea, que é na verdade, uma evidência dessa descoberta. Quando essa constante matemática aumenta e a proporção se quebra as pessoas são julgadas por aquele que os assinou, e se passarem pela provação, sobrevivem, levando na espiral de suas vidas uma encarnação da natureza, isto é: como se os ventos que vêm do ártico tivessem encarnado em mim, são os poderes que carregamos conosco. Só alguém digno disso, é digno da verdade.
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