O gás vazava da sua boca enquanto ele contava isso, permeando o local lentamente, mas logo, escorria para uma pequena fresta abaixo do portão que se abriu com o impacto de Dilan sobre suas costas e consequentemente, o chão, pude perceber que os poderes de Ziu só funcionam com louvor em ambientes controlados.
-Você é mais do que digno, Dai, você é o rosto que a busca precisa. Você é o homem que comprará o mundo. - Numa cinese rápida, Dilan executa um golpe baixo, vindo do lado, ele atravessa Ziu com sua espada passando pelo lado direito e perfurando seu coração no lado esquerdo, Ziu cospe o sangue de seus pulmões. - Encontre o meu irmão, ele vai te ajudar.
-Dilan não!
Ele puxa a espada, removendo ela de dentro de Ziu, no ato, o furo deixado pela espada cospe violentamente o gás branco enquanto jorra sangue. O buraco abaixo do portão é vedado pelo gelo e o hangar começa a ter suas paredes e móveis congelados, Ziu ainda está de pé usando seu poder no seu auge. Num ato de desespero, agarro mais gabinetes com o Nirvana e os arremesso em Ziu, que se mantém de pé mesmo sendo acertado por várias direções, o frio congela o meu nariz, e minhas vias ficam obstruídas por dentro, começo a sufocar enquanto minha pele é coberta por uma fina camada de gelo e minha vista embaça enquanto ele seca minhas retinas e cobre minha pupila com gelo. Em outra tentativa ergo minhas mãos para o alto tentando colapsar o teto sobre nós, mas meu braço não se ergue pois começo a perder minhas forças. Dilan vem na minha direção medindo seus passos, tentando não escorregar e cair no chão deslizante. Uso o que resta da minha consciência para gritar com ele e erguer meus braços ao teto.
-Tira a gente daqui. - Digo desesperado, mas sem emoção por me faltar ar para gritar, ele me agarra pelo braço e corre, saltando em direção a parede atrás de nós e desenhando com seu dedo nela, um buraco se abre na mesma e ele nos puxa para o lado de fora. Quando olho para dentro, Ziu despenca lentamente para trás, e quando olho mais para o fundo do hangar percebo um borrão preto se formando no ar, uma esfera obscura que emanava uma aura arroxeada, as coisas se torcem na direção dela, e algumas partículas de poeira e objetos pequenos flutuam em volta dela até serem puxadas completamente para seu núcleo vazio, de repente, as paredes e o teto se inclinam em sua direção e despencam. O hangar caiu.
O sol beija minha pele novamente, e Dilan aterrissa me segurando pelo braço direito do lado de fora, logo, ele me solta. Olho em volta e percebo o dia ainda mais claro, deve ser coisa de meio dia, e alguém com certeza ouviu isso.
-É. - Dilan diz, cansado, ele se senta no chão de terra seca, sem suas calças.
A mesma porta de onde viemos se abre, Café e Lucca saem do ambiente escuro lá dentro, o maior coloca a palma sobre os olhos e olha para o céu claro e meu irmão contraiu o rosto, se defendendo da luz.
-Oh. - Disse Café olhando o Hangar desmoronado, minhas vias já se desobstruiram e eu consigo respirar normalmente. - O que aconteceu aqui?
-Umas coisas. Deram conta da…
-Da Mona? Sim, a gente descobriu que ela usava o poder pra ficar bonita. - Lucca responde.
-Jura que essa foi a única informação que pegaram?
-Praticamente. - Café responde por ele. - E vocês?
-É complicado… como eu digo que agora a gente vai…
Na distância a contração de outra dobradiça é ouvida, de outro prédio, germinado ao primeiro que entramos, essa porta se abre. Uma pequena criança pendurada à maçaneta se solta e vem em movimentos desajustados arrumando seu óculos.
-Ziu… Ziu! O que aconteceu? Ah… quem são vocês? - Ditou o pequeno com sua voz desajustada e se aproximando de nós, olhando para cima já com seus óculos fundos, aquilo que parecia um adulto pequeno de braços e pernas curtos com o corpo largo, passou por nós com jeito de quem tem a confiança maior que a própria altura e olhou para nós como quem sabe de algo.
-Tiel? - Ditou Café chegando mais perto.
-Chico? Ah, é bom te ver. O que faz aqui? - disse abaixando o olhar e olhando pra longe. O indivíduo que deve sofrer de alguma condição tem um cabelo preto, liso, fino, e sedoso, jogado para o lado de um jeito meio lambido e usa roupas de traje fino, seu jeito chama a atenção, e a voz fina e meio rouca também.
-Eu que te pergunto. Você fazia parte da máfia há quanto tempo?
-Desde que me tornei o conselheiro.
-Na minha cabeça você era banqueiro.
-Larguei a mão porque não dava mais dinheiro.
-Foi você que sumiu com meu dinheiro?
-Não, foram os cabeças de esquadra jurídica. Eles mandam uma requisição pros bancos e eles fazem isso com quem se mete. Não que você tenha se metido é só coisa de azar mesmo, eu só fiquei sabendo que você tava metido com o negócio esses dias. Bom é… Cadê o Ziu?
-Ele morreu. - Respondi de imediato.
-Ah… Bom, o que eu ia dizer para ele é que encaminhamos ele para a recém desconstruída esquadra de execução e que deixamos a Mona no seu lugar. Mas que bom que só ele se foi.
-Você não vai acreditar. - Lucca responde.
-Hum… Difícil, o que vou dizer para a dama de ferro?
-Que achou substitutos. - Cortei.
-Mas eu não achei.
-Alista a gente.
Ficamos em silêncio por um bom tempo assim.
-Dai que porra você tá falando? - Lucca diz em tom de indignação.
-Senhor… Tiel, né? Coloca a gente pra dentro, eu cuido de mandar
nessa coisa, eu e a “amostra” demos conta do Ziu, meus amigos aqui deram conta da Mona, vai querer briga?
Ele parece confuso, mas não atemorizado, deu de ombros e me encarou com seu rostinho redondo.
-Tá bom… você é?
-Dai, o do meu tamanho é o Lucca, e a “amostra” agora se chama Dilan. Arruma outra pessoa pra esquadra de tráfico e manda refazerem o hangar, tá bom?
-Tá bom, vocês podem vir conversar comigo quando quiserem, as más línguas sempre chegam em mim. Volte aqui amanhã pontualmente às 17:30 e vamos discutir isso melhor.
Virou e começou a voltar para sua sala ou seja lá o que tenha atrás daquela porta. Quando me viro sou atingido por um soco na cara.
-Que porra tu fez, bunda branca? - É o Lucca. Olho pra ele meio baqueado de baixo pra cima e o vejo com o punho fechado, escuro com o sol que brilha acima da sua cabeça. Eu não respondo, só me levanto e vou em direção a porta.
-Me segue, eu explico no caminho de volta. - Adentro a estrutura que agora eu reconheço como o escritório dos traficantes e vou atravessando o corredor estreito que corri por pelo menos um minuto com Dilan anteriormente.
-Quando eu tava lá dentro, esse cara, Ziu, disse que essa ideia de destruir a máfia não cola, que não funciona, porque eles são uma conspiração, e a ordem mundial roda em torno disso, que ela controla todos os agregados nesse mundo, que nem uma conspiração.
-E daí? - Perguntou Lucca.
-E daí que eu desisti da idéia de destruir a máfia, porque se essa história de que não podemos a abalar for verdade, o que pareceu bastante convincente pra mim no momento que aquele Tiel apareceu, realmente esse meu objetivo não faz sentido. - Virei em direção à porta pela qual entramos e saí na boca do diabo. - Ele me explicou mais coisas, que existe uma energia, que todos nós carregamos e que ela é proporcional ao funcionamento das coisas, como se ela determinasse nossa força, nossa inteligência, e que isso é a assinatura de deus nas nossas vidas e a existência da proporção áurea é uma evidência disso. -Viajamos pelo beco até que chegássemos do lado de fora, me virei para esquerda até chegar numa faixa de pedestres onde nós quatro atravessamos enfileirados perfeitamente. - Se é verdade ou não, é por causa disso que somos o que somos e temos o que temos, nossos poderes são só pedaços da natureza encarnada dentro de nós. Por isso eles chamam de encarnações. E aí ele disse, que isso é a resposta para todas as coisas, que ela é o verdadeiro motor do universo. Que só pessoas como nós vão poder comprar esse mundo, e disse também que eu deveria achar o irmão dele que é o ferreiro da máfia. Precisamos entrar, eles são os únicos que tem a chave pro saber. Isso não é ganância da minha parte, mas sim a busca por me livrar da ignorância, eu não desejo um paraíso, nem riqueza com isso, tão pouco poder sobre alguém. - Mais um pouco andando na mesma direção e chegamos na porta do prédio, onde paro para conversar com eles. - Eu na verdade não quero nada, isso é apenas uma jornada em busca da verdadeira sabedoria, o estado de iluminação em que sou plenamente consciente daquilo que faço e daquilo que me aguarda. E para vocês que não vêem motivos para me acompanhar pensem consigo mesmos, esse conhecimento vai libertar a gente não só de amarras da realidade, mas da sociedade, a máfia tem dinheiro e vocês podem perseguir seus objetivos se ausentando dos conceitos deles se vocês quiserem. Caso queiram algo, a oportunidade das nossas vidas está na nossa frente.
-Eu tô dentro - Café diz - Você entrou mesmo de cabeça naquilo que te disse, parece um pequeno monge com a oratória de um ditadorzinho falando. Eu vou contigo. - Completou.
-Eu não vejo motivos para não ir contigo, Dai. - Dilan diz, ele se aproxima de mim e sobe o primeiro degrau da entrada do prédio.
Lucca parece relutante, olha em volta, coça a própria cabeça, mas no fim, acerte com ela, e me olha, com uma expressão que ainda mistura raiva, mas também incerteza.
-Eu vou. No final das contas só tenho você. - Ele passa por mim e sobe os degraus, ainda de costas para ele, ouço dizer - Entra, eu vou pegar o que sobrou dos quinhentos dólares que usei pra comprar a cadeira, vamos almoçar em algum lugar, mesmo depois disso tudo, acho que a vida continua. - Café passa por mim e posso ouvir os passos deles se distanciando.
Ainda do lado de fora, olho em volta e vejo, no fundo do beco ao lado do prédio, encaro o terreno baldio e ainda vejo, o poste em que Mona estava dentro, e a poça de sangue que Pierry se tornou e sob a pilha de areia, um brilho branco. Caminho naquela direção enquanto toco os tijolos do edifício à direita, chego e vejo o disco de perto. - Ah tá aqui. - Me inclino o agarrando com as duas mãos e o levantando, está quente.
- Bom, hora de ir.
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