Assim que entrei no carro junto com a jade, Maya já estava com a ideia fixa de ser a motorista, mesmo que isso significasse passar por cima de todos. Literalmente.
"Marcus, sai daqui," ela disse, cutucando o ombro dele quando entrou pela porta lateral e começou a se espremer entre os assentos. Eu, sentada no banco de trás ao lado dela, tentei me afastar, mas o espaço era limitado. "Maya, sério?", perguntei, rindo um pouco enquanto ela tentava se equilibrar.
"Calma, Violet, isso aqui é rotina. Eu sempre dirijo!" Maya respondeu, esbarrando em mim enquanto se arrastava para frente. Marcus, já no volante, suspirou e levantou as mãos em rendição.
"Phoenix disse que você não podia dirigir dessa vez," ele lembrou, mas já sabia que não ia adiantar muito. Maya se acomodou no banco do motorista, praticamente empurrando Marcus para o lado.
"Phoenix pode morder o próprio rabo," Maya disse, enquanto ajustava o espelho. "Eu sou a melhor piloto desse grupo, todos sabem disso. Agora sai do meu caminho, Marcus."
Marcus deu um olhar exasperado para mim, e eu apenas dei de ombros. "Vai ser divertido," brinquei, tentando aliviar a situação, embora por dentro estivesse um pouco nervosa.
"Divertido pra você, que não vai ser a primeira no impacto," ele resmungou, mas acabou indo para o banco do carona, resignado.
Foi nesse momento que Tom apareceu do lado de fora, olhando para a cena com uma expressão de puro desgosto. "Nem fodendo" ele exclamou, ao ver Maya no banco do motorista.
"Relaxa, Tom! Eu tô no controle aqui" Maya respondeu, batendo no volante com um sorriso travesso.
Tom suspirou, sabendo que discutir com ela seria inútil. "Eu devia trancar esse carro... mas como eu sou uma pessoa razoável" ele disse, retirando uma caixa do bolso e passando um comunicador para cada um de nós. "Tomem. Vamos precisar disso pra manter contato. E, Maya, pelo amor de tudo, dirige direito."
Ela piscou para ele, já com o comunicador na orelha. "Claro, chefe. Vou fazer o meu melhor!"
Eu coloquei o comunicador na orelha também, observando a dinâmica da equipe com um sorriso. Estava claro que, mesmo com toda a tensão, eles conseguiam manter o humor. Isso me dava uma sensação estranha de conforto, apesar do perigo iminente.
"Prontos para isso?" perguntei, virando-me para Maya enquanto ela ajustava o volante.
Ela olhou para mim com um sorriso de orelha a orelha. "Eu nasci pronta, Violet."
Tom soltou um longo suspiro antes de finalmente entrar no carro, ocupando o último assento disponível. Ele ainda olhava desconfiado para Maya no banco do motorista, mas parecia já ter aceitado que não tinha muito o que fazer a essa altura. "Se a gente morrer, eu vou te assombrar, Maya" ele murmurou enquanto se acomodava.
"Relaxa, Tom. Eu sou incrível. Não é hoje que você vai virar um fantasma, a taxa de mortalidade comigo dentro de um carro é só das pessoas fora dele" Maya respondeu com um sorriso travesso, ligando o carro com um ronco alto do motor. "Todo mundo pronto? Vamos nessa!"
Marcus, agora no banco do carona, cruzou os braços e olhou pela janela, claramente resignado. "Você sabe que o Phoenix vai ficar irritado, né?" ele disse, sem nem olhar para Maya.
"Ah, ele vai superar," ela respondeu, dando de ombros. "E o Phoenix pode morder o próprio rabo se não gostar”
Eu me segurei no cinto de segurança enquanto o carro começava a se mover. Não era minha primeira vez em uma situação tensa, mas a mistura de excitação e ansiedade sempre deixava uma sensação estranha no estômago. "Só... tenta não passar por cima de mais ninguém no caminho, ok?" brinquei, olhando de relance para Maya.
Ela piscou para mim, rindo. "Confia, Violet. Vou te levar como uma rainha até lá."
O carro começou a ganhar velocidade enquanto nos afastávamos da base, com as luzes artificiais da cidade começando a brilhar no horizonte. Tom, ainda desconfiado, colocou o comunicador na orelha e deu uma olhada rápida para todos. "Todo mundo com o comunicador, certo? Vamos precisar estar em sincronia quando as coisas ficarem complicadas."
Eu ajustei o meu e balancei a cabeça em concordância. "Pronto. Só espero que não tenhamos que usá-los em uma emergência."
"Se a Maya continuar dirigindo assim, pode ser que precisemos bem antes do que você imagina" Tom murmurou, fazendo Marcus rir.
"Ah, vocês são uns exagerados" Maya falou, acelerando um pouco mais.
O carro seguia veloz pelas ruas de Nova Nexus, com Maya ao volante, claramente mais animada do que o resto de nós. Ela pilotava como se estivesse em uma corrida de rua, cortando curvas fechadas e acelerando nas retas com um entusiasmo exagerado. Marcus, no banco da frente, parecia estar rezando para que aquilo acabasse logo, segurando-se firme no painel.
"Relaxa, galera!" Maya exclamou com um sorriso travesso, olhando rapidamente pelo retrovisor. "A mãe aqui é uma piloto nata!"
Eu estava no banco de trás, entre Tom e Jade. A paisagem à nossa volta passava rápida, luzes e sombras se misturando como borrões. A cada curva que Maya fazia, meu corpo era jogado de um lado para o outro, e eu começava a me perguntar se era mesmo uma boa ideia ter deixado ela dirigir. Jade parecia estar tentando manter a compostura, mas seus dedos apertavam o cinto de segurança com uma força visível.
De repente, uma figura apareceu bem no meio da faixa de pedestres — uma velhinha com uma sacola de compras, caminhando lentamente, alheia à nossa aproximação.
"MAYA!" Tom gritou, sua voz ecoando pela cabine.
Maya olhou para frente no último segundo e gritou também. "AH, MERDA!" Ela puxou o volante para a direita, o carro desviando bruscamente. Os pneus cantaram no asfalto, e eu pude sentir o cheiro da borracha queimando. O carro parou a centímetros da velhinha, que se virou lentamente para olhar para nós, com um ar confuso, enquanto segurava sua sacola de compras como se nada tivesse acontecido.
No carro, o silêncio era absoluto. Ninguém se mexia. Marcus estava paralisado, ainda segurando o painel com força. Jade olhava com os olhos arregalados, claramente em choque. Tom, por sua vez, estava incrédulo, sua expressão uma mistura de raiva e surpresa.
Maya, ainda com as mãos no volante, olhou para a frente com os olhos arregalados. "Eu... quase atropelei uma velhinha?" Sua voz saiu baixa e incrédula.
Jade, que até então estava quieta, explodiu em uma risada nervosa. "Sim, você quase matou uma velhinha! E a gente junto!" Ela disse, a voz oscilando entre o pânico e o humor.
Tom, balançando a cabeça, suspirou profundamente. "Maya... nem fodendo você dirige de novo."
Maya virou para ele, ainda sem acreditar. "Mas eu... Eu sou uma boa motorista! Foi só um acidente! A velhinha apareceu do nada!"
"Velhinhas não aparecem do nada, Maya" Marcus disse, ainda tenso. "Elas andam devagar... muito devagar."
Eu finalmente encontrei minha voz. "Talvez...
desacelerar um pouco fosse uma boa ideia, Maya. Tipo... muito."
Maya se inclinou para frente no volante e murmurou baixinho, "Velhinha
maldita."
O carro diminuiu de velocidade conforme nos aproximávamos da Biotech. A tensão no ar era palpável, especialmente depois da quase tragédia com a velhinha, mas agora a adrenalina começava a ser substituída por um foco renovado. As ruas ao redor estavam praticamente desertas, exceto por alguns veículos de patrulha automatizados que se moviam silenciosamente nas esquinas. As luzes neon piscavam nos prédios ao redor, criando sombras longas e distorcidas nas ruas de concreto desgastado.
O prédio da Biotech se destacava como uma estrutura massiva e imponente, revestida por painéis de metal negro e vidro espelhado. Era uma das construções mais modernas de Nova Nexus, cercada por outros edifícios menores que serviam de suporte para suas operações. As janelas refletiam as luzes da cidade, mas, ao contrário de outras corporações, a Biotech mantinha uma aparência fria e distante, sem muitos letreiros ou indicações de seu propósito. Havia uma sensação de sigilo no ar, como se o prédio escondesse algo nas suas profundezas.
Desci do carro com os outros, e o vento frio da noite bateu no meu rosto, uma lufada de realidade após o caos dentro do veículo. O som do motor do carro foi substituído pelo zumbido suave das máquinas da cidade, mas o silêncio predominava. Jade saiu primeiro, esticando o pescoço enquanto olhava para o prédio com desconfiança. Tom logo em seguida, e Marcus, que havia cedido o volante para Maya, já estava no chão, ainda balançando a cabeça em descrença pela nossa "piloto."
“Bem, estamos aqui” Marcus murmurou, olhando para cima, o rosto iluminado pelo brilho artificial dos holofotes de segurança espalhados pela entrada. "Ainda vivos, pelo menos."
O entorno do prédio parecia hostil de uma forma sutil. Não havia muitas pessoas por ali, e o fluxo constante de drones de segurança sobrevoando os arredores dava a sensação de que tudo estava sendo monitorado. O portão principal, feito de aço reforçado, era vigiado por câmeras e barreiras de segurança invisíveis, prontas para detectar qualquer ameaça.
Maya foi a última a sair, ainda carregando uma expressão séria após os eventos anteriores. "Certo, ninguém foi atropelado, então acho que estamos prontos."
“Até o momento” Tom respondeu secamente, enquanto checava o comunicador preso à orelha.
A calçada ao redor do prédio era impecável, quase artificial, sem um único pedaço de lixo ou sinal de vida civilizada. As luzes dos postes eram de um branco azulado, lançando um brilho fantasmagórico nas ruas, e pequenos veículos de segurança passavam lentamente, suas luzes piscando em silêncio. Ao redor da Biotech, outras corporações menores mantinham seus edifícios fechados, janelas escuras que escondiam as atividades noturnas.
"A Biotech parece mais um caixão gigante do que um lugar de trabalho," comentei, sem conseguir evitar a sensação de opressão que o prédio transmitia.
Jade deu uma olhada rápida pra mim, concordando com um aceno silencioso. “Você não tá errada. Esse lugar nunca me passou boas vibrações.”
Nos aproximamos da entrada secundária, que seria o ponto de infiltração da nossa operação. Ao longe, os prédios vizinhos pareciam recuar em comparação à grandeza da Biotech, como se até as outras corporações tivessem medo de estar muito próximas. Estávamos em uma das áreas mais seguras e vigiadas da cidade, mas a ironia é que segurança, nesse caso, significava controle total da Biotech sobre quem entrava e saía. Qualquer movimento suspeito seria rapidamente detectado.
“Lembrem-se” disse Tom, quebrando o silêncio. “Isso aqui não vai ser brincadeira. Entramos, pegamos o que precisamos, e saímos o mais rápido possível. Nada de distrações.” Ele olhou diretamente para Maya, que sorriu sem mostrar os dentes.
Maya se endireitou, ainda sem perder o humor. “Relaxem, eu só brinco quando estou dirigindo.”
"Beleza, galera, vamos lá!" Marcus disse, pegando a mochila que tinha no chão e abrindo o porta-malas.
Cada um de nós começou a pegar suas armas, colocando-as cuidadosamente em bolsas especiais. Jade, com sua agilidade habitual, organizava as facas e os equipamentos com uma destreza que impressionava. "Lembrem-se, quanto mais silenciosos formos, melhor. Não queremos chamar a atenção."
Tom e eu pegamos nossas pistolas e as acomodamos nas mochilas, o peso familiar nos dando um pouco mais de confiança. "Olá, velha amiga" murmurei, olhando para a imponente estrutura da Biotech.
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