Erin caminhava na frente, os ombros caídos e soltando suspiros longos e irritados. Ocasionalmente, suas mãos alvas percorriam as madeixas castanhas e onduladas. Jake coçou o nariz para esconder o sorriso enquanto a observava. Ele não havia imaginado que ela seria a solução para o problema que tinha em mãos, muito menos que aceitaria sua proposta com tanta facilidade. Naquele instante, percebeu que não deveria subestimar o lado nerd de Erin. Todos têm prioridades em suas vidas, e as dela pareciam estar relacionadas aos estudos.
“Só espero que mantenha sua palavra depois de descobrir os termos da viagem…”, pensou, quando viraram na curva ao final do caminho e entraram no corredor à esquerda, onde ficavam as turmas de Publicidade e Propaganda.
Iúna e Woong estavam parados perto das escadas de emergência daquele lado, encostados na parede em frente à sala de aula. A expressão no rosto de Woong escureceu ao ver Jake seguindo Erin. Seus olhos pequenos se estreitaram ao encarar o rapaz, deixando claro seu desagrado. Iúna limitou-se a arquear uma sobrancelha e olhar a amiga com ar indagador.
Jake parou diante dos dois com as mãos nos bolsos da calça, o rosto inexpressivo.
— Por que ele está aqui? — Woong questionou, olhando Jake de soslaio.
— Ele vai nos ajudar, fingindo ser o James.
— Ele? O James usa óculos e parece um mauricinho — Woong torceu o nariz, apontando para os brincos na orelha de Jake. — E não usa brincos nem tem piercing.
— Não sei se já ouviu falar, mas existe uma coisa chamada lentes de contato, e só para você saber, James furou as orelhas ontem. — respondeu Jake, lembrando-se da chamada de vídeo que recebera durante a madrugada. James estava bêbado demais e ria feito um pateta enquanto a moça ao lado dele furava suas orelhas.
O que ele não daria para ver a cara do irmão ao acordar e ver que estava usando brincos — algo que disse que jamais faria.
— E não estamos com muitas opções, Woong. — Erin suspirou, passando os dedos entre os fios de cabelo. — Só podemos contar com o fato de os professores não conhecerem Jake… assim, ele pode fingir ser o James.
Woong abriu a boca, mas antes que dissesse algo, uma moça miúda apareceu na porta da sala deles.
— Erin… estão prontos? O professor Choi disse que seu grupo tem dois minutos, no máximo, para dar início à apresentação.
Erin assentiu com a cabeça e se virou para encarar Jake quando a jovem fechou a porta.
— Se incomoda em tirar os brincos e o piercing? Ao menos até o final da apresentação.
— Sem problemas. — Jake os tirou e enfiou no bolso da camisa.
— Ele não está com a camiseta igual à nossa, tem uma cicatriz na bochecha e o cabelo do Jamie é mais curto — Woong apontou para a cicatriz de três centímetros na bochecha esquerda do outro, os ombros tensos e o maxilar cerrado.
— Não seja por isso — Iúna, que observava a cena calada, jogou o cabelo ruivo por sobre o ombro e levantou a camiseta.
— Iúna! — Erin levou a mão à boca, os olhos arregalados.
— Calma, eu não vou ficar pelada! — Iúna riu, o rosto salpicado de sardas ficando vermelho enquanto tirava a camiseta, revelando uma blusa de alças grossas por baixo. — Assim, seremos dois com camisetas iguais e dois irresponsáveis que esqueceram seu uniforme.
— Obrigado, Iúna. — Jake sorriu para Iúna. Ele a conhecia desde o ensino médio devido à amizade que tinha com Erin, naquela época, e Chase, um dos melhores amigos dele até hoje; mas só naquele momento sentiu pena de James por ter sido dispensado por ela quando entraram na universidade e começaram a fazer trabalhos em grupo.
Iúna continuava sendo uma garota legal.
— Quanto a cicatriz — ele continuou —, se os professores questionarem posso inventar algo na hora. Mas não acho que eles vão se ligar num detalhe como esse. E meu cabelo… — Jake tirou a boina de Woong e a colocou na própria cabeça, escondendo parte das madeixas. — Assim tá bom, não? Se ainda achar que não posso me apresentar com vocês, vou embora agora mesmo.
Erin o observou, contraindo as sobrancelhas. Verdade fosse dita, Jake nem fazia questão de ajudá-los. Não era ele quem precisava de nota, mas diante do olhar dela, ele abriu um sorriso típico do irmão, exibindo os dentes da frente ligeiramente salientes e encolhendo os olhos; o que pareceu deixar Woong ainda mais irritado.
— Acho que não temos mais objeções, você só precisa ler o slide. — Erin suspirou, jogando o cabelo ondulado para trás dos ombros antes de entrar na sala.
★
Erin encarou Jake perplexa quando ele iniciou a parte de James na apresentação com os olhos fixos em seus colegas e professores, sem dar nenhuma espiada no slide atrás dele. Mal sabia ela que Jake passara dias ouvindo o irmão repetir as próprias falas, tentando memorizá-las, no quarto dele. Por isso, as havia decorado também.
Quando a parte dele terminou, Jake trocou de lugar com Iúna e passou os slides. Erin foi a última a se apresentar e se tornou o foco de todos quando abriu um sorriso doce e amigável. O sorriso que usava sempre que precisava cativar quem a ouvia, onde seus olhos pareciam duas meias-luas castanho-cobre e as pintinhas sob sua sobrancelha direita e abaixo de seu olho se tornavam mais evidentes.
Jake tinha a impressão de que a cada ano que passava ela se tornava ainda mais bonita. Seu corpo agora era cheio de curvas, seu sorriso havia se tornado ainda mais cativante e atraente, e ele odiava isso; parecia moldado para desarmá-lo. Olhar para Erin às vezes fazia seu coração acelerar e um frio esquisito perturbar seu estômago. Essas reações físicas quase o faziam esquecer que não deveria confiar nela e em sua aparência inocente. Quase, pois logo a sensação de um pincel áspero raspando o tecido delicado de seu coração, apagava qualquer vestígio de sentimento dentro do peito de Jake. O lembrando da razão pela qual passara a evitá-la desde o último ano do ensino médio.
— Você foi incrível, Jake! — Iúna elogiou, apertando o braço dele, quando saíram da sala de aula. — Vamos tirar a nota máxima, certeza!
— Obrigada pela ajuda, foi melhor do que o esperado. — Erin agradeceu. Em seguida, comprimiu os lábios rosados e acrescentou: — Eu não sabia que você tinha decorado a parte do James.
— Não foi difícil com ele ensaiando perto de mim — deu de ombros. — Espero que cumpra nosso acordo — ele arqueou uma sobrancelha, pondo as mãos no bolso traseiro da calça.
Erin engoliu em seco, retorcendo as mãos.
— Que acordo? — Woong se aproximou deles com as mãos na cintura.
— Nada que você deva saber. Isso é entre mim e Erin.
Jake abriu um sorrisinho cínico e Woong cerrou as mãos em punho, dando um passo adiante.
— Ele está certo — Iúna abriu um sorriso amarelo, espalmando a mão sobre o peito de Woong para afastá-lo de Jake. — Vamos deixar os dois conversarem a sós. Se a Erin quiser, nos conta depois…
Ela e Erin trocaram olhares que Jake não pôde entender. Ele enrugou a testa, observando-as.
— Estaremos na biblioteca. — A ruiva puxou Woong pelo braço, mas sua cara azeda continuou olhando para os dois que ficaram para trás, enquanto a seguia contra a própria vontade; até sumirem no elevador.
Erin soltou um longo suspiro, que ecoou pelo corredor vazio da universidade, fazendo Jake voltar a atenção para ela.
— A viagem é daqui a duas semanas? — Ela começou, apoiando as mãos na cintura de um jeito que parecia quase desafiador. Mas antes que ele pudesse sequer pensar em uma resposta, ela já continuava: — Vai ser durante o fim de semana, né? Porque eu realmente preciso ter certeza de que não vai interferir nos meus planos para as férias. É, acho que posso fazer isso. Mas quem mais vai? O James? Imagino que o Chase também vá… E aqueles seus amigos que estão sempre com vocês nos intervalos. Todos eles realmente namoram? Como estão planejando as coisas? Eu preciso saber se devo levar algo além do básico. E, por falar nisso, você já pensou em como vamos dividir os quartos? Porque eu definitivamente não quero ficar no mesmo quarto que você e...
O ruído das palavras dela pulsavam nas têmporas de Jake, enquanto o tom harmonioso subia e descia, sem dar a ele um momento sequer para processar o que estava sendo dito. Erin parecia não precisar respirar, cada palavra saía rápida, entrelaçada com a próxima, formando uma correnteza verbal que o arrastava para uma espiral de cacofonia que fazia sua cabeça latejar.
— … como você que está me obrigando a ir, espero que não conte comigo para nada que precisar dividir a conta entre todos que vão porque…
Sem pensar, Jake moveu a mão na mesma velocidade que a voz dela se misturava em seus ouvidos e cobriu a boca de Erin. O toque quente e inesperado interrompendo o fluxo de palavras de uma vez só. O silêncio que seguiu foi bem-vindo e um leve sorriso ergueu o canto dos lábios dele, enquanto Erin piscava. E então, sem aviso, ela lambeu a palma da mão dele.
Jake recuou de imediato, os olhos esbugalhados, como se tivesse sido queimado. O toque úmido e quente da língua dela contra sua pele enviou um arrepio desconfortável, misturado com algo mais, por sua espinha até seu baixo ventre.
— Eca! — murmurou, sentindo um forte rubor se espalhando por seu rosto.
— Eca, digo eu! Por que fez isso?
— Porque você não parava de falar.
— Preciso saber os detalhes dessa viagem!
Jake penteou os fios de cabelo, contendo um suspiro.
— Vamos daqui a duas semanas, mas não vamos passar um fim de semana. Passaremos quarenta e cinco dias.
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