— O quê?! — Erin guinchou. — Quarenta e cinco dias?
— Vamos passar as férias de verão. — Ele deu de ombros. — É uma despedida da nossa vida universitária. Você sabe que depois viveremos a rotina chata de um adulto que não tem tempo pra diversão. — Um sorriso se ergueu no canto da boca dele. Aquela viagem seria sua última chance de ser livre. De viver longe do que os pais esperavam que ele fizesse quando retornasse.
Seria sua despedida da vida universitária que vivera contra sua vontade e seu retorno marcaria o início da vida adulta que também não queria viver.
— Perdeu o juízo? — A voz dela se elevou em quatro oitavas.
— Que escândalo! — Jake fez uma careta cobrindo o ouvido com uma mão e a puxou com a outra até a saída de incêndio perto daquele corredor. Fechou a porta atrás de si e soltou a mão dela. — Essa é uma ótima oportunidade pra você viver como uma universitária, já que passou os últimos anos parecendo uma senhora aposentada.
— Jake — ela começou, num tom de alerta e respirou fundo, contorcendo o nariz. — Nem todo mundo tem um pai empresário, sabia? Um fim de semana, tá certo, é um sacrifício…
— Aí, essa doeu. — Ele levou a mão ao peito com uma careta dramática e ela respirou fundo.
— Mas é algo que posso fazer. Só que… quarenta e cinco dias? Você ficou doido!
— Não sei porque estou surpreso. — Jake inclinou a cabeça levemente, uma amargura tênue atravessando seu olhar enquanto as palavras seguintes saíam como um veneno doce em seu timbre profundo: — Você me usou pro seu propósito, garantiu sua nota, e agora quer quebrar nosso acordo. Você não tem palavra, Erin.
O rosto dela ficou vermelho e seu lábio inferior se contraiu.
— Eu não disse que não ia! — retrucou, ofendida. — Mas você tem que concordar: quarenta e cinco dias é um absurdo! Preciso de um emprego, Jake, e não encontrarei um passando quarenta e cinco dias em uma ilha!
— Quer que eu te contrate pra ser minha assistente pessoal, na empresa do meu pai, quando voltarmos?
Ela revirou os olhos, bufando. E, então, algo passou por seu rosto e a fez voltar a olhar para Jake com os olhos arregalados e as sobrancelhas levantadas, numa de suas expressões mais temidas por ele. Argh! Para infelicidade de Jake, ele ainda achava a “carinha de dó” de Erin terrivelmente meiga.
— E se eu passar… uma semana? E aí você inventa uma desculpa qualquer para minha volta…
Uma parte de Jake gostaria de aceitar sua proposta, entretanto havia duas coisas que o impediam. A primeira era que não poderia passar sete dias “acompanhado” e os outros trinta e oito sozinho. Não foi o combinado com os amigos dele durante o último semestre. E simplesmente não podia cancelar a viagem, não depois que os caras já haviam feito os convites para suas companheiras e de avisar os pais dele. Foi difícil demais de convencer o Sr. Young a adiar o treinamento de Jake para ser seu sucessor na empresa da família, também havia sido bem difícil pedir uma concessão ao estágio de seus amigos, para que fizessem aquela viagem.
Aquela viagem era sua única fuga naquele momento. Ele poderia contar a verdade e dizer que não encontrou ninguém para levar consigo e seus amigos provavelmente aceitariam e levariam alguém que conheciam, por ele. Mas Jake já havia dito aos rapazes que tinha alguém em mente apenas porque não queria ser o único solitário — até Bernardo, o cara que menos saía, havia arrumado alguém sozinho…
Jake poderia escolher qualquer moça que ia atrás dele na universidade, mas não queria passar quarenta e cinco dias com nenhuma delas como um casal, em uma viagem com os amigos.
A segunda coisa que o impedia era o que odiava admitir: no momento em que Erin tomou a iniciativa de falar com ele, de pedir algo a ele, depois de quase cinco anos sem se falarem, uma força estranha e familiar se apoderou de si. Um desejo latente, desperto por aquele contato inesperado. Parte dele se odiava por isso, mas ele queria ver a cara dela fingindo ser a garota dele. Era unir o útil ao agradável, ela havia usado ele para resolver o problema dela, e ele a usaria para resolver o dele.
Era uma troca justa. Por isso, ele manteve a expressão neutra e inclinou a cabeça ao dizer:
— Desculpa, Erin. Mas você não me deixa outra saída.
— O que quer dizer?
Os lábios dela formam um “O” perfeito quando Jake puxou a porta. Ele deu as costas a ela e saiu para o corredor, caminhando com as mãos nos bolsos num ritmo lento, permitindo que ela o alcançasse quando percebesse para onde estava indo. A mão direita dele tocou a maçaneta da sala onde haviam acabado de apresentar o projeto do grupo dela, mas antes que a abrisse, dedos pálidos e finos seguraram seu pulso.
Jake engoliu em seco quando o calor da palma dela envolveu seus dedos e puxou a mão dele. Um arrepio percorreu sua espinha, mas ele manteve a expressão indiferente antes que Erin percebesse. Ela o puxou até a outra extremidade do corredor e soltou sua mão.
— O que você ia fazer? — questionou ela, os olhos afiados, erguendo o queixo e pondo as mãos na cintura.
— Tínhamos um acordo. E se não cumprir sua parte, nada mais justo que os professores ouvirem a verdade sobre o Jamie. — Jake deu de ombros, tentando esconder o ardor que percorria suas veias enquanto a encarava.
Ela entortou os lábios numa careta desgostosa.
— Lá vai você de novo, tirando conclusões precipitadas! Eu estava tentando negociar, mas, se não há outro jeito… eu vou, né!
Estava óbvio que dizia isso a contragosto. Ainda assim, Jake sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos. Ele apoiou as mãos no pilar atrás dela, prendendo-a entre seus braços, enquanto ela salientava os olhos.
— Te mandarei mensagem quando a viagem estiver próxima, pra se preparar. — Ele aproximou o rosto do rosto dela, o aroma de morango e jasmim o envolveu. O calor do corpo dela se mesclou ao dele. Seu coração martelou com ainda mais força contra os tímpanos. — Estou ansioso pra passar quarenta e cinco dias com você, amorzinho. — Sua voz saiu baixa e rouca, enquanto o hálito quente de Erin roçava a pele dele.
Ele se afastou antes que ela pudesse reagir, as pernas tremendo levemente.
Como se o universo contribuísse com suas pernas bambas, as portas do elevador mais próximo a ele se abriram assim que parou diante do cubículo de metal. Assim que entrou, Jake se olhou no espelho, tirando os brincos do bolso da camisa e pondo-os de volta aos seus devidos lugares para disfarçar a chama abrasiva que revirava suas vísceras e subia por seu rosto.
Através do vidro, viu que Erin o observava com o rosto pálido completamente vermelho, as narinas dilatadas e os lábios entreabertos.
Quando as portas se fecharam, um pequeno sorriso de satisfação se alastrou pela face de Jake.
Se Erin fosse um vulcão, teria entrado em erupção.
Erin sempre acreditou que sua graduação seria a chave para reconstruir não apenas sua vida, mas também a de seu irmão, Dean. Por quatro anos, ela se dedicou incansavelmente ao futuro, deixando para trás os dramas do passado. No entanto, um obstáculo inesperado ameaça seus planos, forçando-a a pedir ajuda a Jake Young, alguém que sempre mostrou desinteresse por ela. Mas Jake concorda em ajudar Erin com uma condição peculiar: ela deve acompanhá-lo em uma viagem e fingir ser seu affair secreto por quarenta e cinco dias.
Enquanto o relacionamento falso se desenrola, os dois confrontam sentimentos enterrados e surpresas imprevisíveis que desafiam suas convicções mais profundas.
Em meio a uma teia de emoções e segredos, Erin e Jake descobrem que alguns laços são tão inquebráveis quanto o brilho das estrelas.
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