O sol estava determinado a incinerar a superfície terrestre. Estava tão quente que o vento, em vez de aliviar, fervia ainda mais a pele de Jake. Ele atribuía a culpa de seu sofrimento sob o guarda-sol aos amigos, por arrastarem todos para a praia. Desde então, a intensidade do calor refletia a inquietação dentro dele.
— Já li a mesma página sete vezes, aff. — Bernardo resmungou, fechando a cara e o mangá com um suspiro desanimado.
— E eu perdi as minhas energias e nem avancei na minha jornada — Chase bufou, deitado de bruços à esquerda de Jake. Ele tentava jogar Star Wars: Galaxy of Heroes no celular, mas sua concentração no jogo era tão fraca quanto a de Bernardo lendo Blue Exorcist à direita dele.
Jake ajeitou os óculos de sol no rosto, tentando disfarçar o maxilar travado. A tela do celular em sua mão era um borrão; seus olhos eram constantemente atraídos pelo movimento na praia, onde seus amigos jogavam vôlei. A cada risada de Erin com Tales, seu estômago dava um nó que tentava, em vão, ignorar. Ele odiava admitir, mas a proximidade deles o corroía por dentro.
Uma raiva silenciosa comichava em seu peito cada vez que via os dois juntos, e ele atribuía a culpa a James. Seu irmão havia convidado Tales sem sequer consultá-lo, e Jake não entendia a razão de sua atitude, quando os dois nem eram tão amigos. James sequer tentava se explicar, ao invés disso, evitava suas perguntas, usando Misaki como desculpa para fugir, o que só aumentava a balbúrdia em Jake.
Ele se sentia traído, não apenas pelo irmão, mas pelo próprio coração que teimava em se importar tanto.
Jake soltou um suspiro, a frustração estava pronta para engoli-lo e arrastá-lo para as profundezas do mar. Não bastavam as ações duvidosas de Jamie; também precisava lidar com a tempestade de emoções que o fuzilava agora que passava vinte e quatro horas sob o mesmo teto que Erin, dividindo a mesma cama. Cada vez que ela ruborizava ao vê-lo, aquele rubor tão inocente e doce mexia com ele de uma forma que não conseguia explicar. De repente, se via de volta a noite que passara em claro, atormentado pelas lembranças vívidas de Erin derrubando cerveja em seu colo, suas mãos deslizando sem aviso por seu corpo enquanto tentava limpá-lo.
O toque dela, mesmo que acidental, deixou uma marca vívida em sua pele, uma sensação que repercutia em sua mente e piorava quando a figura dela entrando no banheiro se misturava com esses pensamentos. Um tremor e uma quentura sufocante — muito pior que a fornalha criada pelo sol agora — enrijecia seus músculos de uma forma muito vergonhosa. Por isso, naquela mesma noite acabou rolando pelo chão na tentativa desesperada de dissipar a excitação que o consumia.
Mas o desejo continuava a fervilhar dentro dele. Um fogo indelével, que se recusava a deixar seu baixo ventre, mesmo após horas no banheiro.
Mais uma vez a sensação ardente chispou em seu ventre, fazendo com que todos os pelos de seu corpo se eriçassem com a mera lembrança.
— Porra… Como ela pôde fazer isso comigo? — sussurrou, e sacudiu a cabeça tentando afastar as sensações se alastrando por seu corpo.
Jake, definitivamente, precisava purificar seus pensamentos. Estava à beira da combustão espontânea, tal qual o sol acima, por isso voltou a focar na cena diante de si. Então a viu sorrir mais uma vez e teve a certeza de que dividir o quarto com Erin era a única vantagem que tinha sobre Tales, pois cada sorriso que ela exibia — os mais bonitos e sinceros —, eram todos dirigidos aquele cara. Não ao intruso que a havia forçado a fingir ser sua namorada.
“Argh… porra.” Com um rumorejo preso na garganta, ele concentrou o olhar em Iúna, tentando desviar a atenção da cena que tanto o incomodava, quando a ruiva uniu as mãos para sacar a bola que Misaki jogou na direção dela, evitando por um triz que tocasse o chão. Ela passou para Erin, que empurrou para cima com as pontas dos dedos num movimento gracioso que fez o coração dele acelerar. Tales então projetou o corpo para frente, mandando a bola para o campo adversário. Jake cerrou os punhos, lutando contra a irritação que escurecia suas vistas a cada vez que via Tales tão perto dela.
Naquele momento, James, Natan e Siena pularam ao mesmo tempo, tentando rebater a jogada. James e Natan deram uma cabeçada um no outro, enquanto Siena deslizou pela areia, bloqueando o ataque no último segundo. Chase gargalhou descaradamente e Bernardo cobriu a boca com a mão para disfarçar o riso. Jake não teve tempo de rir dos amigos, pois, mais uma vez, Tales se aproximou de Erin, ajeitando um fio de cabelo que soltara do rabo de cavalo dela. O sorriso que ele exibia enquanto colocava o cabelo dela atrás da orelha, num gesto tão íntimo e casual, fez com que os músculos da face de Jake se retesassem e todo seu corpo se tensionasse.
— Cê tá de boa com a Erin? — Chase perguntou, atraindo sua atenção. — Ainda não consigo acreditar que os dois saíam em segredo… mesmo sabendo que cê é doido por ela desde sempre.
A declaração casual de Chase fez a mandíbula de Jake tremer ligeiramente. Ah, se aquela relação não fosse uma farsa… Talvez seus pensamentos e sentimentos não estivessem tão alvoroçados.
— Não sei do que você tá falando — Jake fingiu tossir voltando a olhar para o celular.
— Para, eu tô super curioso, Jae!
— O que exatamente você quer saber, Chas?
— Ih, sei lá. Em que ponto da relação cês tão… tipo, cês já são íntimos?
— Você tem essa carinha de bom moço, mas só pensa besteira, né, cara? — Bernardo disse, balançando a cabeça ao fitar Chase.
— Oxê, cês não pensam não? São santinhos virgens por acaso, é?
Jake esfregou a testa com a palma da mão, tentando aliviar a tensão que pulsava em suas têmporas. Mas seu rosto estava tão quente que ele sentia o suor frio se formando na linha do cabelo.
— Eu só quero que ela se sinta bem e confortável ao meu lado durante nosso tempo aqui, Chas. Nem cheguei a pensar nessas coisas. — mentiu, tentando esconder a agitação que o atormentava desde os eventos da noite anterior.
— E ser íntimo de alguém é desagradável?
— Não, mas eu não quero pensar nisso agora, ué. Intimidade vai muito além de dois corpos nus se esfregando um no outro.
— Ih, alá, o último romântico — Chase zombou.
— Não sei quanto ao Jae, mas eu sou um anjo e concordo com ele. — Bernardo respondeu unindo as mãos fingindo rezar.
Chase revirou os olhos e jogou alguns palitos de sorvetes, que estavam numa sacola, em Bernardo. Jake desviou os olhos da guerra de palitos que ambos travavam e voltou a observar Erin.
A pele dela reluzia no sol com gotículas de suor, enquanto ela saltava para sacar a bola. As curvas no corpo de Erin eram hipnotizantes. O maiô vermelho, contrastando com a pele clara, acentuava cada curva com uma graça natural, fazendo Jake prender a respiração sempre que observava cada um de seus movimentos. Mas o arrepio que percorreu sua espinha foi impossível de conter por despertar partes de seu baixo ventre que ele preferia esquecer naquele momento.
Ele limpou a garganta e balançou a cabeça quando as palavras de Chase formaram imagens em sua mente.
Não foi muito difícil, pois no mesmo instante o time dela marcou um ponto. Tales abriu um sorriso enorme e a puxou, envolvendo a cintura dela em um abraço desnecessariamente apertado para comemorar o quinto ponto marcado por eles. Um ruído irritado escapou da boca de Jake. Ele se esforçou para controlar a frustração crescente em seu interior, mas a visão de Tales abraçando Erin daquela maneira, de novo, era um golpe direto em suas inseguranças, deixando-o à beira de perder o controle.
— Viu, foi por isso que perguntei se tava tudo bem entre os dois… — Chase balançou a cabeça, notando que após abraçar Erin, Tales e Iúna também haviam se abraçado. — Ele precisa abraçar elas toda vez que marcam um ponto?
— Talvez não seja proposital — comentou Bernardo.
— Oxê, duvido muito! Aposto que ele quer seduzir uma delas. Qual sua aposta, Jae?
Jake franziu os lábios, mas não respondeu. Lançou um olhar assassino na direção de Chase, que imediatamente desviou os olhos, coçando a nuca. Era meio óbvio para ele quem Tales queria seduzir. A última conversa entre eles ainda ecoava em sua mente, as palavras de Tales eram um lembrete constante da ameaça que ele representava ao “relacionamento” que tinha com Erin.
Uma pontada gélida atravessou seu peito.
— Eu só queria que ele parasse de encostar na Erin daquele jeito, cacete! Por que ele tem que ser tão alto e boa pinta? — Só percebeu ter se expressado em voz alta quando Chase pulou de susto com a súbita aparição ao lado deles.
— Se está tão incomodado com isso, faça algo, Jakinho! — Hiroshi brotou do nada. Não era à toa que o Mestre dos Magos era o personagem preferido dele. Seu corpo estava enterrado na areia e apenas a cabeça e os pés estavam para fora. Laura estava do lado, rindo da careta medonha que Chase fazia enquanto ela modelava a cauda de sereia nas pernas do namorado.
Até mesmo Jake havia se esquecido de que os dois também estavam na praia.
— Vai lá e jogue com eles, ou convide sua garota para dar uma volta. Aí você vai poder abraçar ela do jeitinho que quer também. — Hiroshi continuou.
— Talvez você já tenha percebido, mas o Tales quer passar você para trás, Jake — Laura ergueu os olhos da escultura de areia que construía e o encarou com seus olhos verde-água reluzindo. — E a Erin parece bem à vontade com ele. Ouvi dizer que os dois se conhecem há muito tempo.
— Eles são amigos de longa data. É fácil confundir isso quando nunca se teve uma boa amizade com o sexo oposto — Jake forçou um sorriso e desviou os olhos, pois a expressão de Laura lhe dizia que podia enxergar através de suas palavras vazias.
Não era como se ele pudesse exigir que Tales parasse de abraçar Erin. Primeiro, porque Erin e ele não tinham nada rolando entre eles de verdade. E mesmo se tivessem, ela tinha o direito de abraçar quem quisesse, quando quisesse. Mas Jake sabia, tão bem quanto Tales, que não era por amizade que ele se aproximava tanto dela. Havia algo mais ali, algo que Jake não queria admitir, mas que enxergava nas entrelinhas das ações de Tales graças a conversa dos dois. Uma necessidade sutil de mostrar — a Jake — que suas intenções eram sérias, que ele estava ali para conquistar o coração dela.
Uma sensação estranha se instalou em suas vísceras, amargando sua boca.
Jake permaneceu em silêncio, lutando para esconder seus sentimentos enquanto uma brisa salgada soprava pela praia, trazendo consigo o aroma do mar, cujas ondas quebravam suavemente na costa. Pelo canto do olho, um movimento repentino capturou sua atenção outra vez.
Erin saiu da posição que estava para sussurrar algo no ouvido de Iúna. Ao mesmo tempo, Siena mergulhou para pegar a bola que Heidi havia bloqueado, e lançou o corpo para frente, cerrando os olhos. A bola atingiu a cabeça de Erin com um baque surdo, fazendo-a cair na areia quente com o impacto.
— Rin!
As pernas de Jake se moveram automaticamente. Seu coração disparou quando ele viu Erin cair. Um calafrio percorreu sua espinha enquanto corria com mil agulhas de gelo circulando em sua pele. Quando finalmente a alcançou, Tales já estava lá, óbvio, erguendo o corpo dela do chão. Uma pontada açoitou seu peito e seu coração perdeu o ritmo quando cruzou com o olhar letárgico no rosto dela. A pele de Erin parecia quase translúcida, com um tom pálido que ressaltava os lábios esbranquiçados, dando a ela uma aparência frágil.
Sem hesitar, Jake deslizou o braço pela cintura dela, afastando a mão de Tales, que a segurava.
— Eu cuido dela, não se preocupe. Erin é minha namorada, afinal. — Jake lutou para manter a voz firme enquanto passava o outro braço sob as pernas dela, tirando-a dos braços de Tales por completo, ignorando a expressão sombria no rosto dele.
— Por que você fez isso? — Catarina esbravejou, os olhos faiscando de indignação enquanto encarava Siena, os punhos cerrados ao lado do corpo.
— Acha que acertei ela de propósito? — Siena recuou, levantando as mãos em um gesto defensivo, os olhos azuis arregalados.
— Sim! Acho!
— Calma, não briguem, a Rin não estava se sentindo bem, não foi a bolada que a deixou assim. — Iúna lançou um olhar preocupado na direção de Erin. — Ela estava me dizendo que ia embora quando a bola acertou ela… talvez seja melhor eu ir com você — disse olhando para Jake.
— Continuem jogando, não se preocupem. Eu cuido dela. — Ele garantiu com um sorriso que esperava soar confiante. Sem aguardar por respostas ou oposições, ele deu as costas ao grupo e começou a caminhar pela areia macia em direção à casa com Erin em seus braços.
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