Quinze minutos após se afastar da praia onde estavam com os amigos, Jake atravessou as portas da sala, ainda sentindo a quentura da areia nos pés.
O sol do fim da tarde projetava sombras alongadas pelas escadas de madeira.
— O que você tem? — perguntou a Erin enquanto subiam os degraus. A casa estava silenciosa, exceto pelo ranger leve sob seus pés.
Ela abriu os olhos, arregalando-os ao perceber que estava no colo dele.
— Jake? Mas… — piscou com um vinco entre as sobrancelhas marcando sua expressão. — Pensei que fosse o Tales… E-Eu posso andar.
Ele travou o maxilar enquanto uma pontada atravessava seu peito.
— Não pode não. Você nem percebeu que tava nos braços de um cara tão bonito quanto eu. Me sinto ofendido. — Ele soltou um riso curto, quase sem som, mas seu maxilar se contraiu e o silêncio entre eles pesou. Embora tivesse soado como brincadeira, falava sério, por isso desviou os olhos, fixando-os nos degraus a frente.
Jake parou diante do quarto e, com cuidado, colocou Erin no chão para abrir a porta. Ele manteve o corpo dela apoiado no dele até a ajudar a sentar na cama. O penteado de Erin estava quase todo desfeito, com várias mechas de cabelo ondulado soltas, emoldurando seu rosto.
Ela fechou os olhos por um instante, os cílios tocando suas bochechas com uma leveza que fez Jake prender a respiração.
Como ela podia ser tão linda em qualquer situação?
— Fique aqui até eu voltar, tá?
Quando Erin assentiu, ele saiu do quarto e desceu as escadas em um piscar de olhos, os pés quase flutuando sobre os degraus. Na cozinha, abriu a geladeira com um puxão rápido, pegando uma garrafa de água gelada. Em seguida, abriu a despensa, encontrando a caixa de remédios que Uana cuidadosamente deixara para eles. Com a caixa em uma mão e a garrafa na outra, subiu de novo, os degraus passando sob seus pés num borrão enquanto corria.
Erin estava exatamente como ele a deixara: com as pernas cobertas de areia para fora da cama, tentando não tocar na colcha. Ele balançou a cabeça, sorrindo de leve. Só ela para se preocupar com isso quando obviamente não estava bem.
— O que você tem? Tá doente? — Se ajoelhou diante dela, tocando sua testa com suavidade. Sua temperatura parecia estar normal.
Os olhos castanhos-cobre de Erin o analisaram por um instante, que pareceu longo demais para Jake devido a sua intensidade, antes de responder:
— Acho que minha pressão que baixou.
Jake colocou a caixa de remédios na mesa de cabeceira e entregou a garrafa de água a ela. Ele devia ter perguntado o que era antes de sair correndo feito um louco.
— Isso acontece com frequência? Não foi pela bolada?
Ela negou com um aceno.
— Isso acontece às vezes, quando está muito quente e eu passo muito tempo no sol. A culpa foi minha, eu estava me divertindo e ignorei os avisos do meu corpo. — exalou profundamente. O cansaço e a fraqueza eram evidentes em seu rosto pálido. — Estou coberta de areia, preciso tomar banho.
Jake a observou atentamente, girando o piercing da sobrancelha. Enquanto os olhos dela tentavam focar, as pálpebras estavam pesadas e semicerradas.
— Você não parece bem o suficiente pra tomar banho sozinha. — refletiu.
Ela engasgou com a água, os olhos arregalados.
— V-Você n-não está sugerindo…
Ele riu, um som breve e rouco, enquanto afastava os cabelos do rosto com um movimento despreocupado. Seu olhar cintilou de diversão enquanto arqueava a sobrancelha.
— Eu não vou te dar banho… A não ser que você queira, claro.
A mão dela que segurava a garrafa vacilou.
— Jake…
— Estou brincando, relaxa. Nem se estivesse bêbada e toda vomitada, eu faria isso.
O rosto dela se contorceu numa careta sutil, os cantos dos lábios se curvando para baixo enquanto as sobrancelhas se arqueavam numa expressão de dúvida.
— Assim você me magoa, cara pálida. É óbvio que eu ligaria pra Iúna, e se ela estivesse bêbada, pra Catarina e se nem ela pudesse te ajudar, bem, existe máquina de lavar por uma razão, não?
— Eu só preciso de um banho para melhorar, é sério — Erin repetiu, encolhendo os ombros.
— Mas não posso te deixar entrar no banheiro sozinha. Você tá me olhando sem ruborizar e isso significa que seu estado é pior do que eu imaginava! — Ele a encarou com falso espanto, o que a faz revirar os olhos com um muxoxo.
— Eu estou bem, olha!
Erin se ergueu subitamente, mas suas pernas fraquejaram e seu corpo pendeu para o lado. Jake agarrou sua cintura. A areia e o suor que cobriam a pele dela se prensaram contra a dele, uma textura áspera que fez sua frequência cardíaca triplicar. Ele a apertou contra si, os grãos de areia arranhando ainda mais sua pele arrepiada.
Ela levantou a cabeça, a respiração quente e ofegante acariciando os lábios dele. Seus olhos ensolarados carregavam uma profundidade hipnotizante, mesmo naquele momento, e quando passou a língua pelos lábios, um súbito desejo cresceu dentro de Jake — a proximidade entre os dois tornava quase irresistível a tentação de beijá-la.
Ele engoliu em seco.
— Erin. — Sua voz profunda saiu baixa e rouca. — É melhor você descansar um pouco e depois tenta tomar banho.
Ela apertou os lábios, assentindo devagar, enquanto ele a ajudava a se deitar. Em seguida, Jake abriu uma gaveta e pegou uma camiseta azul-acinzentada.
— Use isso por enquanto, até conseguir tomar banho — mais uma vez ela concordou com o pedido dele sem dizer nada.
Erin passou a camiseta sobre a cabeça, cobrindo o maiô e Jake lutou para afastar os pensamentos sobre como a camiseta caía sobre ela, destacando suas curvas de maneira sutil, mas atraente demais para sua mente imaginativa.
Ele girou sobre os calcanhares. Estava prestes a sair quando dedos frios, agarraram seu pulso. Ela o olhava fixamente, os lábios formando um bico meigo, as sobrancelhas contraídas.
— Pode ficar comigo, por enquanto?
Jake pestanejou. Seu coração martelava nos ouvidos, enquanto sua mente absorvia o pedido dela.
— É que não quero ficar sozinha e nem atrapalhar as meninas… — Erin se apressou em explicar quando o silêncio se prolongou.
— Eu fico. — Ele respondeu num sussurro enquanto seu olhar se suavizava, refletindo a mistura de emoções que ele tentava controlar.
Um sorriso trêmulo surgiu nos lábios de Erin enquanto ela se movia para o lado, abrindo espaço para Jake na cama. Ele se deitou virado de frente para ela com a cabeça apoiada no braço, sentindo alguns grãos de areia no lençol. Seus cotovelos se tocaram e um arrepio sutil percorreu sua pele. Seus olhares se cruzaram e ele não desviou. Os olhos de Erin se tornaram ainda mais brilhantes com a luz suave do entardece. À medida que ele se perdia na profundidade naqueles olhos, seu coração se acalmava e uma sensação quente e familiar se infiltrava em seu peito.
Lentamente o céu lá fora começou a se tingir de laranja e rosa, as sombras se alongando pelo quarto. Eles permaneceram assim, num silêncio confortável, até que a última luz do sol desaparecesse no horizonte.
Erin adormeceu e Jake continuou a observá-la em silêncio. Seu olhar contemplava os traços do rosto dela, cada curva, cada detalhe delicado. Havia algo fascinante na maneira como a luz da lua destacava as feições serenas de Erin. Seus lábios arredondados e volumosos. As maçãs do rosto ruborizadas pelo calor do corpo adormecido. Ela era uma obra de arte.
O sorriso no rosto de Jake desapareceu. Ele apertou os punhos ao lado do corpo ao se dar conta de que curiosidade, arrependimento e um desejo inquieto de se reconectar com ela — de uma forma que ele ainda não entendia — se misturavam em seu coração.
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