Em apenas seis dias Jake havia conseguido emaranhar a mente de Erin. Quem diria que o mesmo Jake Young que a evitava sempre que se cruzavam nos corredores da universidade, agora estaria dividindo a cama com ela, com apenas alguns travesseiros entre eles?
Uma medida inútil, já que ela sempre acordava com uma das pernas dele em cima dela, enquanto ele abraçava um dos travesseiros que deveria mantê-lo longe. Ele parecia um corpo celeste dormindo e, ainda assim, exalava uma aura de tranquilidade irresistível. Erin queria, mas não podia negar: a atração magnética que Jake exercia sobre ela a puxava na direção dele contra a vontade dela.
Ela suspirou e o observou com mais atenção. O cabelo escuro e encaracolado caía sobre o rosto dele com suavidade, as sobrancelhas levemente enrugadas.
— Você é mesmo um artista nato — ela sussurrou. Jake vinha se mostrando um ator habilidoso nos últimos dias. A atuação dele, no dia anterior, fora excepcional. Até mesmo a fez pensar no Jake do ensino fundamental. O Jake que se tornou parceiro dela no grupo de estudos criado pelos professores, quando misturaram os alunos de todas as turmas na escola. O Jake que fora seu amigo até o terceiro ano do ensino médio.
Erin não conseguia deixar de pensar no quanto ele havia mudado e, ao mesmo tempo, no quanto certas coisas pareciam permanecer as mesmas. Ela temia o que poderia acontecer se ele continuasse a agir daquela maneira, atenciosa e tenra, mesmo quando estavam sozinhos, sem ninguém para descobrir que seu “romance” era falso. O propósito dele era manter o acordo que fez com os amigos; ela não deveria confundir suas ações. Deixou escapar um suspiro frustrado e deu dois tapas leves nas bochechas para se manter alerta. Decidiu mover a perna daquele ser ridiculamente bonito para o lado e se levantar. O quarto estava escuro, mas ela podia ouvir passos no corredor, indicando que todos já estavam de pé. No entanto, ao se mover, Jake também se mexeu, arrastando o rosto pelos travesseiros até encostar a testa no ombro dela.
O coração de Erin acelerou. Uma agitação esquisita revirou sua barriga. Agora não havia apenas uma perna sobre ela, a cabeça dele também estava apoiada em seu ombro, a respiração serena fez cócegas em sua clavícula enquanto alguns fios do cabelo de Jake lhe coçaram o nariz. O aroma agradável do perfume de baunilha pairava em seu olfato, atrapalhando sua concentração.
Ela mordeu o lábio inferior para se acalmar. O peito de Jake subia e descia num ritmo compassado, prova de que ele estava dormindo e não tentando provocá-la. Os travesseiros eram mesmo inúteis.
Respirou fundo. Tentou afastar a perna dele, mas, infelizmente, suas tentativas não deram certo.
— Jake — sussurrou. — Ei, Jake…. Jakeee… Jake!
Ele emitiu um gemido baixo, mas não se moveu para longe dela. Ao invés disso, sua mão direita soltou o travesseiro e tocou o seio dela, enquanto sua cabeça se arrastou para mais perto como se ela fosse o travesseiro dele.
Um arrepio quente percorreu a espinha de Erin, enquanto as batidas de seu coração golpeavam suas costelas na velocidade de raios gama. O toque dele incendiou sua pele numa mistura de choque e excitação que a deixou paralisada. Seus olhos se arregalaram e a respiração ficou presa na garganta. O calor da mão de Jake atravessava o tecido fino do pijama, enviando sensações diferentes por todo seu corpo. Ela fitou a mão dele sobre si, boquiaberta, o rosto chamuscava e a mente girava numa espiral estonteante.
— JAKE YOUNG! — Ela guinchou, a voz esganiçada cortando o silêncio.
Jake abriu os olhos assustando, as pálpebras pisando até se acostumarem à luz que atravessava as cortinas.
— O que foi? Tá se sentindo mal de novo? — A voz dele soou rouca e embargada pelo sono. Seu rosto estava ainda mais próximo do rosto dela, mas ele não parecia ter notado o que estava acontecendo.
— A sua mão… — sussurrou, a voz trêmula e os dedos começando a suar.
Linhas de preocupação se formaram na testa dele enquanto seus olhos escuros encontravam os dela, aluados e sem entender o que queria dizer. Erin umedeceu os lábios e cutucou as costas da mão dele que descansava sobre seu seio. Só então Jake desviou o olhar, seguindo o toque dela. Ele olhou uma vez, franzindo a testa. Depois olhou de novo. Quando a realidade o atingiu, recolheu a mão como se tivesse sido eletrocutado, os olhos tão proeminentes que ela pensou que fossem saltar dos orifícios.
— Porra! Cacete!
Jake se sentou ereto com tanta rapidez que quase caiu da cama. Quando seu olhar encontrou o dela, sua face estava vermelha do pescoço até a ponta das orelhas. Ele parecia um tomate humano.
— D-Desculpa… — balbuciou, passando a mão pelo cabelo desgrenhado.
Erin tentou, mas não conseguiu se conter: riu. O som de sua própria risada aliviou a tensão em seu corpo. Ela riu tanto que Jake a encarou com os olhos ainda maiores e o rosto muito mais rubro.
— Essa foi sua maneira de se vingar por eu ter entrado no banheiro quando você estava tomando banho, coelhinho? — brincou, secando uma lágrima com a respiração ofegante.
— O-O q-quê? N-Não! Eu nunca tocaria uma mulher sem permissão! — Jake retrucou ultrajado, os lábios tremendo. — Por que você tá rindo desse jeito? Não tem graça!
— Você entenderia se visse sua cara!
Jake enrugou a testa e piscou várias vezes.
— Como devo interpretar sua reação, cara pálida?
Erin parou de rir, pois, subitamente, ele a observou com uma seriedade intensa que a fez sentir um calafrio na espinha. Com a sobrancelha esquerda erguida, seu olhar penetrava a alma dela, e a fez desviar os olhos com a garganta seca. Ela pegou o celular com dedos trêmulos, tentando disfarçar a chama que subia por seu pescoço até as bochechas. O quarto, antes preenchido com suas risadas, agora estava tomado por uma tensão tangível, quebrada apenas pelo som melodioso de sua respiração acelerada.
— Caramba, já são 15h45?! — Era raro que ela dormisse até tão tarde. — O que tinha naquela água que me deu?
— Quem você acha que eu sou? Primeiro quase me mata de susto, depois me pergunta se te toquei sem permissão por vingança e agora isso? — Ele balançou a cabeça com uma expressão exageradamente trágica, os olhos se estreitando como se tivesse levado um tapa. Então suspirou, deixando os ombros caírem. — Vou tomar banho primeiro. E de banheira, bem demorado.
Jake se levantou da cama, ainda com o rosto avermelhado e bufando. Ao chegar à porta do banheiro, ele se virou para encará-la.
— Esse é seu castigo. Vou ficar aqui por duas horas. Se esquecer, bate na porta antes de entrar — avisou com um meio-sorriso, antes de fechar a porta.
Um súbito rubor subiu as bochechas dela quando as lembranças do episódio no banheiro saltaram em sua mente. Seu estômago revirou e um leve tremor percorreu suas mãos.
— Caramba! Você tinha que me lembrar disso! — murmurou, enterrando o rosto entre os travesseiros, tentando sufocar a mistura de vergonha e excitação que pulsava em suas veias com aquelas memórias.
Dessa vez, ela ao menos tinha noção de que ele estava nu lá dentro.
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