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Softness Remix

Capítulo 2 (part II): Nainainai

Capítulo 2 (part II): Nainainai

Oct 22, 2024

Um grupo de alunos atravessou o corredor apressadamente, os rostos virados para a frente, como se uma linha invisível os puxasse. Ignoravam Larissa de um jeito tão deliberado que parecia até coreografado, como se tivessem ensaiado.  Apenas observou o conjunto passar, cada um imerso na sua própria bolha de conversas animadas e de olhares que evitavam qualquer possibilidade de desvio.

"Uau, que atuação digna de Oscar, hein?" pensou, uma sobrancelha arqueada em uma expressão que só ela via. "Devem achar que ignorar alguém é um esporte olímpico."

Ela sentiu o peso do desprezo não dito, uma rejeição que se arrastava com as sombras pelo chão. 

Larissa apertou os punhos com tanta força que sentiu as unhas se cravarem na palma da mão, uma dorzinha aguda que contrastava com o calor que subia pelo seu corpo. Aquela sensação que começava no estômago e se espalhava pelo peito, até chegar ao rosto, esquentando as orelhas. 

Eles sabiam de algo? Será que os risinhos e cochichos eram planejados, conspirando em corredores que ela jamais veria? Ou, na realidade, eles eram apenas bonecos—pobres marionetes sendo puxadas por fios invisíveis, repetindo o que alguém lhes havia dito, sem parar para pensar se faziam sentido?

"Se é que dá para chamar essa galera de bonecos... parecem mais aqueles brinquedos com três frases pré-programadas, que você aperta e falam 'tudo bem, Larissa?', 'nossa, que estranho' e 'já viu isso?'", pensou, e a ideia quase a fez rir. Um riso amargo, é claro, mas o tipo que ajuda a lidar. Ela observava os rostos deles, tão concentrados em si mesmos, e imaginava se alguma vez já tinham tido um pensamento próprio.

"Acho que não," concluiu, com um cinismo que só crescia dentro dela.

Ela mal conseguia distinguir mais entre o que era real e o que era invenção. A raiva, no entanto, essa permanecia clara como cristal, cortante como uma lâmina fria.

As meninas da sala, especialmente as mais populares, não perdiam a chance de trocar olhares cúmplices toda vez que Larissa falava algo. 

Ela sabia que riam dela, de seu jeito, de seu sotaque. Larissa tentava se convencer de que aquilo não a afetava, mas a verdade era que, a cada risada abafada, a cada cochicho no corredor, algo dentro dela se partia um pouco mais. 

Um incômodo. Estar ali, naquele ambiente, cercada por jovens que a tratavam como se fosse um corpo estranho exótico se tornava cada vez mais sufocante.

Respirava fundo, tentando não se afogar no oceano de pensamentos dispersos. 

Entre os rostos indiferentes e os olhares vazios que cruzavam seu caminho. Que eram irrelevantes, como se tarjas escuras de criminosos tapasse sua aparência, havia um que não se encaixava naquele padrão sufocante;

“Acho que o nome dele é Makoto…”

Um garoto comum, nada nele realmente se destacava — o cabelo preto curto, uniforme impecavelmente passado, a postura retraída. 

Não era alguém que se destacava por presença ou palavras, mas havia algo nele que sempre a intrigava: aquele olhar entediado que não parecia carregar a mesma malícia dos outros.

Ela se lembrava de tê-lo notado várias vezes, sempre parado em um canto, as mãos nos bolsos, observando com uma expressão que oscilava entre desinteresse e curiosidade. Mas não para todos. Sempre em sua direção.

Nunca fora diretamente amigável, mas também não se envolvia. Ele era uma espécie de espectador silencioso, alguém que parecia assistir ao desenrolar dos eventos com uma certa distância. 

Às vezes, Larissa notava o olhar dele pousado nela. Um daqueles momentos estranhos, em que a presença de outra pessoa se tornava palpável, e por um segundo, tudo ao redor parecia se calar. Não era aquele olhar que ela tanto conhecia, o de escárnio que a espreitava pelos cantos dos corredores ou a condescendência disfarçada por sorrisos sem graça. Não, era algo diferente, meio hesitante, como se ele carregasse nas retinas uma pergunta que nunca se atrevia a sair.

Parecia juntar coragem para dizer um simples “Bom dia”.

Havia uma timidez ali, um quase pedido de desculpas que ele não sabia como formular. Era como se ele estivesse à beira de dizer algo, mas a língua tropeçasse, e as palavras ficassem presas no meio do caminho. E ela, que já havia se acostumado a decifrar olhares carregados de intenções, ficava se perguntando o que, afinal, ele queria dizer. E por que, diabos, não dizia de uma vez?

Talvez fosse só impressão, um devaneio rápido que ela se permitia enquanto fingia ignorar aquela presença incômoda. Ou talvez ele realmente tivesse algo ali, perdido nas entrelinhas de um silêncio que ela não sabia como traduzir. Seja como fosse, Larissa achava curiosa aquela incerteza no olhar dele, como um passo dado na direção errada, que ele não conseguia corrigir.

Makoto poderia ser um aliado? A ideia parecia improvável, mas ali, em meio àquela atmosfera hostil, até mesmo a neutralidade já parecia um gesto de bondade. 

Mas, no fim, nada mudava. Ele não dizia nada, e ela também não perguntava.

No fundo, sabia que ele via o que acontecia.

Makoto se mantinha em sua bolha de amizade. Um grupo estranho que, diferente dele, já não importava tanto. 

“Não vou julgar. Parece ser sua personalidade.”

Ou, quem sabe, Makoto estivesse esperando o momento certo. 

“Esperando o quê?” Ela se perguntou. Havia algo sob aquela camada de silêncio que ela não conseguia decifrar, mas que a deixava curiosa.

E, de repente, essa curiosidade se misturou com uma centelha de esperança.

Não importava. São apenas pensamentos dispersos.

E assim, com o passar dos dias, Larissa começou a se afastar mais e mais. Inicialmente, ainda havia algum ímpeto em se aproximar dos outros, em tentar iniciar conversas, mas a cada tentativa fracassada, essa energia se dissipava. 

Chegou o ponto em que ela evitava interagir, preferindo passar os intervalos sozinha, 

Colocava seu fone e passeava enquanto ouvia algumas músicas. Às vezes fazia alguma leitura. Mas na maior parte do tempo simplesmente dormia. 

Os sorrisos que antes existiam desaparecem, dando lugar a uma expressão fechada e defensiva. Estar sozinha era menos doloroso do que enfrentar a indiferença.

Nas últimas duas semanas, Larissa perambulou sem direção pelos corredores, decorando cada canto, como um mapa mental que desenhava em sua cabeça, tirando fotos de lugares que achava charmosos.

Notou detalhes que antes passavam despercebidos, como os azulejos desgastados, cujas bordas já eram arredondadas pelas incontáveis pisadas de estudantes. As portas de metal estavam desbotadas, com a pintura já descascando em certos pontos, deixando à mostra a ferrugem que se alastrava, como se fosse uma planta parasita que crescia sem ninguém perceber.

Os muros que cercavam o colégio não eram diferentes, com musgos em seus cantos mais úmidos, onde a luz do sol quase nunca alcançava. Entre as rachaduras do cimento, raízes finas se infiltravam, forçando passagem como se quisessem se agarrar ao que restava daquela estrutura. 

E, se prestasse atenção, podia ouvir a água escorrendo em algum cano antigo, que insistia em gotejar ao ritmo de um relógio que ninguém mais consertava.

Havia uma gatinha pequena ali, de pelos pretos macios e olhos curiosos. Larissa começou a brincar com ela, oferecendo pedaços de pão de vez em quando. A cada encontro, a gatinha se aproximava mais, até que as visitas se tornaram rotina. Larissa se apegou tanto que decidiu chamá-la de Korin-chan. 

Era uma vitória inesperada e doce, afinal, ela finalmente tinha feito um amigo.

Em dias de chuva, as gotas pingavam dos telhados inclinados, formando pequenas poças nas esquinas dos corredores. A escola, embora ainda funcional e bastante convencional, parecia mais um organismo que se recusava a morrer, um ser envelhecido que se misturava ao ambiente, quase fundido com o terreno ao redor. 

As árvores cresciam tão próximas das janelas que as folhas batiam nos vidros, como dedos que pediam para entrar. 

Havia uma beleza meio melancólica naquilo. Era como se a escola e a natureza estivessem num eterno jogo de disputa pelo espaço, mas de alguma forma coexistissem, em um acordo tácito e silencioso.

Foi durante esses passeios sem pressa, nas horas livres entre uma aula e outra, que ela descobriu o velho prédio abandonado nos fundos. 

Ele se erguia como um monólito de outros tempos, afastado do burburinho diário dos estudantes. A maioria das pessoas o ignorava, como se fosse apenas uma parte da paisagem esquecida, mas Larissa se sentia atraída.

Subir as escadas laterais, que serpenteavam pelos fundos do prédio, era uma aventura por si só. As grades enferrujadas ao longo do corrimão pareciam prontas para ceder a qualquer momento, mas seus instintos não a deixava com medo. Ao contrário. Cada degrau que subia era um pequeno desafio, mas Larissa gostava da sensação de estar em um lugar que era só dela, um espaço que ninguém mais parecia se importar.

Quando finalmente alcançou o terraço, a visão se abriu para ela como uma recompensa. Lá de cima, podia ver a escola inteira, seus telhados, as quadras de esportes e o pátio que, de tão pequeno lá de cima, parecia um tabuleiro de xadrez onde as peças eram estudantes em movimento. 

O céu estava sempre um pouco mais próximo ali, como se aquele espaço fosse um lugar secreto fora do convívio mundano.

A pintura descascada do parapeito revelava camadas de tinta antiga, cada uma contando uma história de diferentes épocas em que o prédio tinha sido utilizado. 

Gostava de passar os dedos pelas texturas ásperas e desiguais, sentindo cada rachadura como se fossem cicatrizes de algo que sobreviveu a seu próprio tempo.

Se apoiou e admirou uma pequena vista da cidade.

Ali, no seu canto particular. O vento soprava forte naquele ponto, bagunçando seu cabelo, mas também trazia um frescor que parecia limpar a mente.

E, de algum modo, aquela solidão era reconfortante. A escola viva de um lado e o prédio esquecido do outro, como dois mundos que coexistiam em equilíbrio precário. 

O contraste entre os risos dos estudantes que passavam pelos corredores e o silêncio profundo do prédio abandonado lembrava Larissa de que, mesmo nos lugares mais solitários, ainda havia um tipo de vida, uma resistência silenciosa que persistia. 

Ela encontrou um pouco de si mesma naquele espaço, onde tudo que era velho e desgastado se misturava ao presente, criando um mundo que só ela conhecia.

“Filosófico demais na minha opinião.”

Ela se perguntava o que aquele prédio tinha sido antes de ser esquecido. Talvez uma extensão da escola, ou quem sabe uma estrutura temporária que havia perdido seu propósito. Não importava muito, afinal.

Era quase engraçado pensar nisso. A escola, que deveria ser um lugar de aprendizado e socialização, acabava empurrando-a para um canto deserto onde ela encontrava mais paz do que em qualquer outra parte. Ironia pura. 

Mas Larissa gostava assim.
Shintomoe
Okinawano

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