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Softness Remix

Capítulo 2 (Part III): Nainainai

Capítulo 2 (Part III): Nainainai

Oct 22, 2024

Larissa se sentava na carteira, o olhar perdido na frente do quadro, mas era como se os conceitos e palavras simplesmente atravessassem sua mente sem deixar rastro. Não era uma questão de não entender a língua — ela compreendia cada palavra, cada explicação — mas havia algo naquelas aulas que a deixava constantemente desnorteada. 

Enquanto os outros alunos anotavam com pressa e balançavam a cabeça em concordância, Larissa sentia que havia uma espécie de nevoeiro ao seu redor, uma cortina opaca que a separava do resto da sala.

Os professores falavam sobre fórmulas matemáticas, estruturas gramaticais, fenômenos históricos, e Larissa apenas observava, como alguém que alheia a tudo. 

Ayumi-sensei estava diante da turma, com o entusiasmo peculiar de quem vive para as palavras, questionando quais eram os melhores elementos narrativos para prender um leitor. Ela lançava a pergunta no ar, esperando que o conhecimento pairasse como uma rede, pronta para capturar as respostas dos alunos. 

Larissa, apoiava na mesa, arriscou: 

—Conflito interno é sempre um bom ponto de partida.

A professora ergueu a sobrancelha, curiosa. 

—Mesmo em narrativas mais tradicionais?

Larissa deu de ombros. 

—Funciona tanto nos romances ocidentais quanto nos contos de fantasmas japoneses.—Ela tentou se lembrar das poucas obras de autores nipônicos que lera, resgatando nomes como Natsume Soseki e os fantasmas de Lafcadio Hearn. 

Pensou que estava saindo bem, embora sua experiência com a literatura japonesa ainda fosse superficial. 

—Acho que a natureza dos personagens... e as sombras sempre têm um papel importante também, certo?

Ayumi-sensei sorriu, satisfeita com a tentativa, mas Larissa não teve certeza se era por sua resposta ou pela simplicidade com que ela tentou lidar com a questão.

A matéria mudava, os quadros se enchiam de símbolos e diagramas, mas a sensação de deslocamento persistia. O ambiente ao seu redor parecia acelerar e desacelerar, deixando-a para trás, em um ritmo próprio. 

Ela via as bocas se movendo, ouvia as palavras ecoarem pelo espaço, mas tudo soava distante, como se ela estivesse ouvindo através de uma parede fina de vidro.

Depois, outro professor—o nome dele escapava a Larissa, era algo com "Kawa", talvez?—encarava o mapa na lousa e fazia perguntas sobre geografia. 

—Watanabe, poderia me dizer qual a localização do arquipélago Nansei?

Larissa pulou ao ouvir seu nome. Estava em um estado de sono igual ao um urso em hibernação.

—Entre Kyushu e Taiwan, certo?

E, ao perceber o olhar de aprovação do professor, acrescentou mentalmente: 

"Pelo menos, isso eu lembro..."
 
E novamente tudo parecia voltar ao normal vulto do dia e continuo a dormir acordada.

Às vezes, Larissa tentava se forçar a focar, a prender sua mente naquelas informações que escorriam pelo quadro negro. Mas, antes que se desse conta, já estava desenhando espirais na margem do caderno ou observando a luz que entrava pela janela e criava sombras que dançavam pelos cantos da sala. 

Era como se seu cérebro tivesse uma espécie de mecanismo de fuga, desviando-a para qualquer coisa que não fosse aquela enxurrada de fatos e fórmulas que pareciam tão triviais, tão sem vida.

O som das canetas riscando o papel, o farfalhar das páginas viradas com pressa. E nesse estado de divagação constante, o tempo escorria sem que ela sequer percebesse, as aulas se transformavam em um borrão de vozes e gestos repetitivos, que se misturavam ao cansaço que pesava em suas pálpebras.

Seus pensamentos vagavam por territórios distantes, num vai e vem constante entre a nostalgia de sua casa e a irritante sensação de inadequação que parecia impregnar cada momento. 

Muitas vezes, se pegava perdida, sentindo o peso de lembranças que traziam o cheiro familiar de sua antiga vida, misturado ao gosto amargo de não conseguir encontrar um lugar para si naquele novo ambiente. 

A saudade vinha em ondas, cada vez mais intensas, tornando-se uma companhia constante que a acompanhava nos corredores da escola, nos intervalos solitários, nos caminhos que ela percorria sem destino.

À medida que os dias se arrastavam, ela começou a perceber que havia uma barreira invisível que, não importava o quanto tentasse, nunca conseguia atravessar. 

Era como se estivesse sempre a um passo de alcançar os outros, de participar das conversas, de entender as piadas que faziam os risos ecoarem pelas salas, mas algo a puxava de volta, mantendo-a à margem, uma observadora de fora. Essa sensação de estar sempre ligeiramente fora de compasso, de não conseguir acompanhar o ritmo dos demais, se tornava cada vez mais evidente, como uma nota dissonante que se destaca em meio a uma melodia.

Talvez fosse sua origem estrangeira, algo que carregava como um selo invisível, marcado em cada detalhe de sua fala, em cada gesto que, por mais que tentasse adaptar, sempre parecia um pouco deslocado. 

Mas havia também uma inquietação mais profunda, algo que ela não conseguia identificar completamente. Era como um vazio que se expandia dentro dela, um sentimento de não pertencimento que ia além da língua, das comidas diferentes, dos costumes que ainda soavam estranhos. 

Parecia que algo dentro dela simplesmente não se moldava ao contorno do novo ambiente.

As diferenças culturais, que no início pareciam curiosidades interessantes, pequenos obstáculos a serem superados, começaram a se transformar em muros de Berlim impenetráveis que a cercavam e mantinham distante. 

Em um mês, Larissa já não tentava mais iniciar conversas. Ela havia desistido de tentar entender o que havia de errado. 

Passava pelas aulas como uma sombra, uma presença quase despercebida, mas sempre ali. Quando os outros riam ou sussurravam, ela fingia não ouvir, fingia que aquilo não a afetava, mas no fundo, cada risada era como uma facada em sua autoestima. 

A injustiça pulsava em cada batida de seu coração, como uma pedra incômoda no sapato que, a cada passo, machucava mais. Os músculos de seu rosto se tensionavam, os dedos tamborilavam nervosamente na mesa, como se buscassem uma maneira de descarregar aquela raiva que crescia em sua garganta, pronta para explodir em um grito.

Mas o grito não saía. Ela ensaiava mentalmente todas as frases afiadas que gostaria de despejar, as reclamações que imaginava lançar como dardos certeiros. Mas bastava abrir a boca para que o peso das consequências caísse como uma sombra sobre ela, fazendo sua voz vacilar antes mesmo de ganhar vida.

Como num filme, as cenas de confronto, as discussões inflamadas, o rosto impassível dos outros em contraste com sua própria expressão distorcida pela raiva. E, em seguida, as consequências—sempre as consequências. 

Olhares desconfiados, palavras atravessadas, mais isolamento. Era como estar diante de uma bifurcação, onde um lado levava à tempestade e o outro, ao silêncio conivente. Nenhum parecia promissor, ambos envoltos em um nevoeiro espesso de dúvidas.

Ela poderia escolher a guerra, poderia deixar que cada palavra que fervia em seus lábios se transformasse em brasas e incendiasse tudo ao redor. 

Ou poderia optar pela diplomacia, segurando cada explosão com os dentes, tentando manter a cabeça erguida enquanto a indignação corroía suas entranhas. 

Mas, naquele momento, a diferença entre as duas opções parecia tão ilusória quanto um oásis em um deserto: de um jeito ou de outro, acabaria com a boca seca, amargando o gosto de uma batalha perdida.

Larissa sentia-se presa, encurralada entre duas possibilidades igualmente ruins; declarar guerra contra o que a escola representava – as fofocas, a exclusão, o desprezo silencioso – parecia instintivo pela sua natureza, mas imprudente. 

O conflito direto lhe traria mais inimizades, mais motivos para ser evitada. Seria apenas mais um combustível para a fogueira que já ardia em rumores tortuosos. 

“Eu poderia passar a ser agressora, na visão deles.”

Mas diplomacia? Negociar sua dignidade em troca de uma paz rasa e superficial, submeter-se àquelas interações vazias, fingir que nada estava acontecendo… isso também não a atraía.

Não foi assim que a criaram. 

Ela não foi criada para aceitar o silêncio, nem para abaixar a cabeça.

Cresceu ouvindo que a verdade deveria ser dita, que a voz tinha um peso, e que abaixar os olhos diante do que é errado era uma espécie de traição consigo mesma. 

Mas ali estava ela, em um lugar que não parecia ter espaço para sua indignação, engolindo as palavras que queimavam a língua. 

Era como se cada lição que aprendera tivesse sido arrancada de cada milímetro da sua memória, alma e ser, deixando apenas o vazio, uma versão distorcida de quem sempre acreditou ser.

Não era isso que seu pai gostaria de ver.

Por que deveria escolher? Por que deveria ser ela a baixar a cabeça ou levantar as armas, quando ninguém ao seu redor parecia se importar? 

O mundo deles continuava a girar, indiferente ao que ela sentia, e isso lhe causava um cansaço palpável em seus ombros. Ou sua frustração fazia sua respiração desordenar completamente. Talvez, pensou com amargura, a verdadeira resposta fosse se recusar a jogar o jogo. 

Larissa sabia que não seria tão simples. Se eu não fizer nada, eles vencerão. E a ideia de ser derrotada, de ser esmagada sem sequer tentar resistir, era mais insuportável do que qualquer outra coisa.

Era como se estivesse presa em uma gaiola, observando o mundo ao seu redor sem conseguir realmente fazer parte dele.

Ali, sozinha no seu “cantinho de isolamento” ela podia deixar de lado a máscara de indiferença que usava e permitir que seus pensamentos fluíssem livremente. 

Pensava em sua mãe e na vida que deixou para trás.

Duvidou se sua mãe passou por aquilo. Não que fosse um sofrimento hercúleo. Mas também, não é agradável.

Havia um conforto amargo nessas lembranças, como se o passado fosse um lugar seguro ao qual ela não podia mais voltar.

E assim, os dias passavam.
Shintomoe
Okinawano

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