De repente, o som seco de um disparo rompeu o silêncio, espantando os pássaros das árvores ao redor.
Volg abaixou a arma, ainda com o olhar fixo em Gusta, enquanto recarregava com calma, quase como se estivesse ensaiado. A bala havia passado ao lado de Gusta, acertando o chão próximo, só para intimidar. Mas Gusta, mesmo com o coração acelerado, não se moveu. Continuava encarando Volg, como se o tiro não tivesse abalado.
Nos pensamentos de Gusta:
"Mano, quase me caguei. Jurei que ele ia estourar minha fuça!"
— Tô te avisando, moleque — rosnou Volg, a voz fria como gelo.
— Tá, tá, beleza... você venceu — respondeu Gusta, tentando disfarçar o nervosismo.
Algum tempo depois, enquanto andavam pela estrada, Yuto quebrou o silêncio com uma pergunta:
— E aí, Gusta, o que rolou naquela loja?
— O cara achou que a gente tava roubando... aí eu fui lá e provoquei ele — disse Gusta, com um sorriso de canto, tentando fazer parecer que foi tranquilo.
— Uai, que trem é aquele ali? Um ponto de ônibus? — comentou Alu, apontando para frente.
Sem pensar muito, o grupo foi na direção do ponto. O ônibus parado parecia uma boa chance de descanso... ou talvez outra encrenca.
Yuto, Alu e Gusta estavam cochilando enquanto esperavam o ônibus, mas Ayzen estava acordado, incomodado com a demora. Ele olhava para Yuto, que estava jogado no chão, Alu sentado de olhos fechados, e Gusta deitado no banco. Irritado, Ayzen finalmente soltou:
— Como é que vocês conseguem dormir assim, do nada, no meio do nada?
Alu, com os olhos ainda fechados, resmungou:
— Do mesmo jeito que você tá atrapalhando meu sono da beleza... e se nada tá acontecendo, por que você não dorme também?
— Depois do que o velho Blaud falou sobre a cidade feliz, vocês conseguem dormir? Eu não dormiria nem ferrando. — Disse Ayzen
Gusta, ainda deitado e de olhos fechados, respondeu:
— Ainda não chegamos na cidade, então relaxa. e tambem não é toda hora que a gente encontra um lugar confortável pra dormir. Olha o Yuto, dormindo aí igual um cachorro.
Ayzen olhou para Yuto, que estava roncando e até babando um pouco, e riu:
— Yuto é um delinquente com complexo de samurai.
— Nossa, Ayzen dizendo algo inteligente? — Alu comentou, irônico. — Acho que ele ainda tem esperança de usar o cérebro.
Nesse momento, Ayzen avistou o ônibus ao longe e disse:
— Acho que seu sono tá prestes a acabar, Alu.
— Ah, dá um tempo, Ayzen — respondeu Alu, irritado.
Gusta se levantou, pegou suas coisas e disse:
— Ele tá certo, Alu. O ônibus chegou. Bora, rapaziada.
Gusta deu um chute no Yuto, que acordou assustado, pegando sua espada.
— Quem foi o corajoso que me chutou?
Alu e Ayzen que estavam com braço em cima do ombro do Ayzen soltam uma risada do Yuto.
— O ônibus chegou, seu feioso — disse Gusta, rindo e entrando no ônibus.
— Feia é tua mãe — retrucou Yuto, ainda grogue.
Alu segurou na porta do ônibus e, com um salto, deu um chute nas costas de Yuto, jogando ele pra dentro.
— Bora, Ayzen — disse Alu, entrando também.
Dentro do ônibus, eles decidiram dormir. O veículo estava completamente vazio, e Ayzen, curioso, começou a mexer na mochila. De repente, o ônibus passou por um buraco, jogando Alu, que dormia, no meio do corredor.
— Desculpem, garotos! Esse caminho é cheio de buracos — disse o motorista.
Alu se levantou com uma careta de dor.
— Tranquilo, motor. Buraco safado esse.
Gusta, se aproximando do motorista, perguntou:
— Com licença, qual o seu nome? E onde é a última parada do ônibus?
— Ah, claro! Vocês são de fora, né? Meu nome é Márcio, e a última parada é na cidadela de Vecatron.
— O que cê tá bisbilhotando aí, Ayzen? — disse Alu, notando Ayzen mexendo na mochila.
— Já deu a hora de ficar fuçando, bro — disse Ayzen, rindo.
Gusta, intrigado, levantou e foi até o motorista, sentando no banco atrás dele.
— Márcio, já que somos novos por aqui, o que tem de tão ruim nessa cidade? Perguntamos a alguns moradores, mas ninguém foi amigável ou deu qualquer informação.
Ayzen se inclinou no banco e comentou:
— O velho da loja não ia com a nossa cara, não.
— Apontou até uma arma pro Gusta — Alu acrescentou, se debruçando para fora do banco.
O motorista soltou uma risada, mas logo o semblante dele ficou sério.
— Desculpem, mas... os habitantes desse lugar não são lá muito agradáveis. Vecatron virou um poço de desespero, dominada por mercadores que são mais bandidos do que comerciantes. Mas os mercenários... esses são os piores.
— Como assim? Pode nos contar mais? — perguntou Gusta, curioso.
De repente, um barulho ao lado de Ayzen e Alu os faz virar a cabeça ao mesmo tempo. Era Yuto, que tinha caído no banco, ainda dormindo profundamente. Alu, sem acreditar, levantou o braço na direção de Yuto e comentou:
— Tá vendo? Como é que um trambolho desses se acha samurai?
Ayzen, acompanhando o gesto de Alu, também levantou o braço e disse:
— Vê se pode, no meio de um momento importante e esse delinquente me faz isso...
Enquanto os dois riam, a atmosfera mudou rapidamente. O motorista, sem olhar para trás, disse com uma voz baixa e sombria:
— Não deviam brincar tanto... aqui, tudo pode ser um desastre antes mesmo de vocês perceberem.
O ar dentro do ônibus ficou mais pesado, e o som do motor parecia ecoar mais forte à medida que seguiam para o desconhecido.
Márcio deu uma olhada no retrovisor e continuou, sua voz ficando mais grave.
— Vecatron foi, há muito tempo, um reino próspero, com tecnologia avançada e armas poderosas. Mas algo aconteceu... ninguém sabe ao certo. O reino caiu em desgraça, e corpos começaram a se acumular. Uma doença mortal se espalhou, e os poucos que sobreviveram ficaram... insanos. Sem comida, começaram a se devorar. Viraram canibais, mas não mortos-vivos lentos como nos contos de terror. Esses são rápidos, inteligentes... perigosos.
Os olhos de Gusta se arregalaram.
— E por isso a cidade foi tomada por mercenários e traficantes. A fama de Vecatron como a "Cidade Sombria" cresceu, e muitos tentam entrar. Mas ninguém sai... vivo. Não sei o que vocês estão planejando, mas eu não recomendaria.
De repente, um barulho alto ecoou do lado de fora, como um estouro, quebrando o silêncio.
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