Makoto mantinha seus olhos fixos em Larissa quando raramente conseguia ver seu vulto. Sempre à distância, como se fosse uma aparição que apenas ele era capaz de enxergar nos corredores movimentados da escola, flutuando de maneira quase imperceptível, como um fantasma perdido em meio a uma realidade que não era exatamente a sua.
Ela parecia sempre à procura de algo, embora nunca revelasse o que era. Seus passos incertos compunham um ritmo que destoava ao redor. Um compasso próprio, deliberadamente lento e desconcertante em alguns momentos, e em algumas vezes apressados e direitos.
Como um ritual secreto, Larissa percorria quase os mesmos caminhos.
Costumava passar pela entrada da biblioteca, atravessando o corredor silencioso que levava às estantes. Em alguns dias, apenas observava as prateleiras e seguia adiante, sem levar nada consigo. Em outros momentos, parava, folheava algumas páginas, escolhia um título e saía com ele debaixo do braço.
Era um vai e vem irregular, entre entrar de mãos vazias e sair com um livro nas mãos.
Havia dias em que Larissa cruzava seu caminho na biblioteca, onde ele fingia estar absorto em um livro, espiando-a pelo canto dos olhos como um menino tímido perto de uma modelo.
Era como se tudo ali, tudo à sua volta, fosse tangível apenas por um instante antes de se dissolver. Assim que ela passava, o espaço ao redor parecia voltar ao normal, como uma onda que submergia e deixava a superfície calma outra vez.
Makoto sabia que ela não notava sua presença—nem mesmo seus olhares. E, mesmo que ela o visse, não se deixaria tocar por isso.
E, por fim, no mesmo banco solitário no jardim dos fundos, aquele meio torto, que ninguém mais parecia notar.
Ele a seguia apenas com o olhar, claro. Nada de perseguições óbvias, nada de chamar a atenção—até porque, sinceramente, isso não combinaria com seu estilo.
Makoto gostava de pensar que sua maneira de observar era quase artística, como um pintor estudando a musa antes de colocar o pincel na tela.
Só que, nesse caso, a tela estava em branco fazia semanas, e ele não tinha a menor ideia do que fazer com ela.
No fundo, sabia que essa mania de espiar Larissa tinha algo de patético, mas preferia não pensar muito nisso.
“É pura curiosidade,” dizia a si mesmo, toda vez que seus olhos a seguiam como um reflexo involuntário. “Nada mais do que isso.”
Só que o próprio pensamento vinha com uma risadinha interna, como se sua própria mente não acreditasse nem por um segundo naquela desculpa. A verdade era que ele não sabia exatamente por que a observava tanto—e, talvez, isso fosse o que o mantinha ali, dia após dia, como um espectador sem ingresso.
E se alguém, algum dia, o pegasse no ato? Ah, ele tinha a resposta perfeita na ponta da língua:
“Estou apenas estudando o comportamento humano, coisa de gente curiosa.”
Mas sabia que ninguém acreditaria.
E quem acreditaria?
Na verdade, ela era um ponto fora da curva. E isso ele próprio admitia. Uma garota que deveria ser notada, mas que parecia pertencer a um mundo distante.
Uma contradição viva—ela se destacava, mas ninguém a via. Exceto Makoto.
O que a fazia parar debaixo da sombra de uma árvore, olhar para as folhas caídas no chão e permanecer ali, imóvel, como se esperasse que algo fosse acontecer?
Ele se pegava imaginando se talvez ela estivesse buscando mais do que pontos no espaço—talvez estivesse à procura de um lugar onde pertencesse, mesmo que esse desejo jamais fosse colocado em palavras.
Ele não sabia se ela tinha amigos ou se sequer desejava tê-los, mas havia algo em sua solidão que a envolvia como uma névoa fina.
Talvez fosse isso que tanto procurava.
Desejou perguntar a ela o que a fazia ficar tão sozinha, tão perdida entre todos, mas sempre que pensava nisso, algo em sua garganta se apertava.
"Por que não consigo...?" O pensamento se repetia e se repetia, constantemente na sua mente, ecoando junto com o som dos passos que se distanciavam.
A vontade de dizer algo, mesmo qualquer coisa, se esvaía assim que ela desaparecia de vista, deixando um gosto amargo de frustração.
A cena se desfaz e, de repente, o intervalo de aula traz um contraste agradável.
Makoto sentado em um banco de concreto no pátio, os cotovelos fincados nos joelhos, os olhos perdidos no livro. Tentava encontrar algum sentido em tudo aquilo, mas a quietude do pátio não ajudava.
"Talvez eu devesse tentar de novo... Ou só deixar pra lá."
Pensamentos se acumulavam sem direção, enquanto ele fingia que o frio do concreto nas mãos era mais interessante que a confusão em sua cabeça.
Quando uma sombra familiar e amigável se aproximou.
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