O motorista decide sair para dar uma olhada e, claro, o Gusta vai atrás dele, curioso como um gato.
Ayzen, com aquele brilho de aventura no olhar, empurra o Alu e diz:
— Bora, Alu! Vamos ver o que tá pegando!
Quando todos saem, o motorista tá com uma cara de quem viu um fantasma. Alu, percebendo a expressão preocupada do Márcio, não resiste:
— É muito grave, motor?
Ayzen, segurando a risada, dá um tapa na nuca do Alu.
— Para de fazer piada, doido! É coisa séria!
— Acalmem-se, garotos. Só estourou o pneu. Tenho um reserva no porta-mala — diz Márcio, indo em direção ao bagageiro do ônibus.
Nesse momento, o Yuto enfia a cabeça pra fora da janela, todo descabelado, como se tivesse acabado de acordar de um pesadelo.
— O que deu aí, rapaziada?
— Passamos por um lugar e o pneu furou — explica o Gusta.
— Ninguém tem um pneu sobrando aí, não? — pergunta o Yuto, com aquele olhar de desespero.
Alu, esticando o braço e apontando pra ele:
— Olha lá, esse delinquente só dorme e, quando acorda, me mete uma dessa.
— Cala a boca, Alu! Se foi capturado por bicho e não quis colocar a máscara de veneno pra chegar aqui — disse Yuto, tirando sarro do Alu.
— Ô, Zé! Você tá me tirando? Quer apanhar? — disse Alu, já irritado.
— DUVIDO que você tenha coragem! — provoca Yuto.
Alu, em um ato de raiva, pega uma pedra do chão e joga na direção do Yuto, que desvia como se estivesse em um filme de ação.
— Vesgo! — ri o Yuto, se divertindo com a reação do Alu.
De repente, a pedra que Alu arremessou atinge algo, e um choro de bebê ecoa pelo ar. Todos param o que estão fazendo e vão verificar a origem do choro.
— Eee, Alu, só faz merda, hein? — provoca Yuto.
Ayzen, no meio da confusão, tira a mochila das costas e a arremessa dentro do ônibus, acertando a cara do Yuto, que fica irritado e grita:
— Ô, Ayzen, fela da puta!
— Bora, Yuto! Deixa de ser criança e desce logo! — responde Ayzen, sem perder a compostura.
— Olha quem fala — retruca Yuto.
Yuto, revoltado, pula pela janela do ônibus e começa a seguir o grupo. Ayzen se aproxima do Alu e, como verdadeiros amigos, eles se cumprimentam com um soquinho.
Quando eles se aproximam, veem uma cesta com um bebê dentro e uma mensagem junto. Com a respiração pesada e o coração acelerado, Ayzen pega a carta e lê em voz alta:
*"*Se você encontrou esta carta, então meu tempo acabou. Eu não tenho mais forças para segurar meu pequeno, para protegê-lo deste lugar amaldiçoado. Eu vivi entre monstros por tanto tempo, mercenários e traficantes, que o cheiro da morte se tornou familiar. Mas agora, uma nova praga devora nossa cidade, transformando-nos em feras, em canibais sedentos... e eu... eu sinto que ela já corre nas minhas veias.
Meu bebê nasceu em meio a todo esse caos. Eu tentei lutar, tentei fugir. Mas as paredes desta cidadela são altas, tão altas que escondem o reino além delas, onde os governantes se trancam em suas torres de marfim, nos deixando apodrecer aqui, sem esperança. Eles não deixam ninguém entrar, condenando-nos a esse inferno.
Eu queria tanto ver meu filho crescer, vê-lo sorrir. Mas agora, minhas mãos tremem e o desejo de carne é insuportável. Eu não posso mais estar ao lado dele. Deixei-o escondido num lugar que, com sorte, alguém de bom coração encontrará. Se você for essa pessoa, cuide dele. Dê a ele uma vida que eu nunca poderia oferecer.
Eu peço perdão... por tudo.
Com esperança no fim, Uma mãe perdida"
Conforme ele lê, o clima muda. O ar parece ficar mais denso, cada palavra pesando nos ombros de todos. Os rostos de Yuto, Gusta e Alu vão perdendo o tom descontraído e, pouco a pouco, uma sensação de desespero começa a crescer. Eles sentem como se estivessem sendo observados, como se a praga descrita na carta pudesse alcançá-los a qualquer momento.
Ao fim da leitura, um silêncio pesado toma conta do grupo.
O vento sopra, frio e cortante, como se estivesse trazendo uma mensagem sombria. Gusta engole seco. Ayzen tenta esconder a tensão, mas suas mãos tremem. Até Yuto, sempre tão provocador, fica sem palavras. Eles sabiam que a cidade era perigosa, mas agora, parecia que algo muito maior estava à espreita, algo que eles não podiam entender.
Eles não estavam lidando só com uma cidade cheia de criminosos. Estavam diante de um horror que eles mal podiam imaginar.
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