O campo aberto estava em silêncio, exceto pelo som dos passos de Loghain, Felipito e Elizabeth avançando com cuidado. Assim que chegaram a uma clareira, Loghain parou e virou-se para os filhos com um leve sorriso.
— Hoje vamos treinar em condições reais — anunciou, apontando para a floresta ao redor. — Esse lugar está infestado de criaturas menores. Quero ver como vocês se saem sozinhos.
Felipito e Elizabeth se entreolharam, um brilho competitivo aparecendo no olhar de ambos.
— Vamos ver quem mata mais, Liz? — desafiou Felipito, ajeitando a espada nos ombros.
— Você já sabe como isso vai acabar, né? — Elizabeth respondeu com um sorriso confiante, o arco preparado e uma flecha flamejante entre os dedos.
Loghain deu um aceno breve, indicando que poderiam começar. Em poucos instantes, ambos se espalharam pela clareira, cada um focado em sua própria área. Felipito avistou uma criatura menor — um javali grotesco com presas afiadas — e rapidamente avançou, desferindo um golpe preciso. Elizabeth, por outro lado, localizou um grupo de criaturas mais ao fundo e disparou suas flechas, cada uma atingindo com precisão seu alvo.
Os minutos passavam, e os dois irmãos, totalmente concentrados, já acumulavam uma boa quantidade de monstros derrotados. Felipito olhou para trás e percebeu Elizabeth disparando em uma velocidade impressionante.
— Ei, não vale flecha! — ele gritou, vendo a irmã derrubar mais uma criatura com um disparo rápido.
— Eu uso o que eu tenho! — respondeu Elizabeth, rindo enquanto pegava outra flecha.
A disputa estava acirrada, e Felipito aproveitava cada brecha para derrubar mais um monstro, ainda tentando alcançar a irmã. Quando pensou que estava na frente, uma sombra enorme surgiu na frente de Elizabeth: um monstro de duas cabeças, com escamas espessas e olhos vermelhos brilhantes. Felipito arregalou os olhos.
— Nem pensar, esse vale por dois! — ele exclamou, avançando em direção ao monstro.
Mas Elizabeth já estava preparada. Ela rapidamente puxou uma flecha e, com uma concentração quase feroz, lançou-a contra o monstro. A flecha flamejante acertou bem no centro das duas cabeças, fazendo a criatura cair com um baque surdo.
— Vitória! — Elizabeth gritou, dando um pequeno salto de alegria.
Felipito correu até ela, ainda com a espada em punho.
— Isso não vale! Você pegou o de duas cabeças e contou como se fosse só um! — protestou, cruzando os braços.
— Ah, qual é, você que disse que a gente podia competir. — Elizabeth respondeu com um sorriso travesso. — Eu só estava jogando pelas suas regras.
— Da próxima vez, eu quero um arco! — ele reclamou, tentando manter a expressão séria, mas logo riu, vendo a satisfação no rosto da irmã.
Loghain, observando tudo de longe, balançou a cabeça com um sorriso. Vê-los discutindo daquela maneira, mesmo após um treinamento tão intenso, enchia seu coração de alegria e alívio.
Loghain, observando tudo de longe, balançou a cabeça com um sorriso. Vê-los discutindo daquela maneira, mesmo após um treinamento tão intenso, enchia seu coração de alegria e alívio.
De repente, passos apressados ecoaram pela trilha próxima. Um homem ofegante, carregando uma pequena mochila, apareceu entre as árvores. Seu rosto iluminou-se ao avistar Loghain, como se tivesse acabado de encontrar a salvação.
— Finalmente! Você é Loghain, não é? — perguntou o homem, enxugando o suor da testa.
— Sou eu — respondeu Loghain, firme. — O que o traz aqui?
— Mensagem urgente para você! — disse o homem, tirando uma carta da mochila. Ele a entregou com uma reverência rápida, um sorriso aliviado no rosto. — Pensei que nunca o encontraria! Eles disseram que você poderia estar indo para Koujia, mas... aqui está.
Loghain aceitou a carta e deu um aceno discreto, examinando o envelope antes de abri-lo. Seus olhos percorreram rapidamente o conteúdo, enquanto Felipito e Elizabeth se aproximavam curiosos.
— O que está escrito, pai? — Elizabeth perguntou, inclinando-se ligeiramente para espiar.
Loghain ignorou a pergunta por um momento, dobrando o papel cuidadosamente e guardando-o em seu cinto. Então, ele olhou para o mensageiro e gesticulou para que se aproximasse.
— Venha cá, preciso que faça algo para mim — disse ele, em tom baixo.
O homem inclinou-se para ouvir, e Loghain sussurrou algumas palavras em seu ouvido. O mensageiro endireitou-se, assentiu com determinação e exclamou:
— Entendido, senhor! Não se preocupe, vou cuidar disso.
Sem perder tempo, o homem virou-se e partiu correndo pela trilha, sua figura desaparecendo entre as árvores.
Felipito cruzou os braços, intrigado.
— O que você disse para ele?
Loghain apenas deu um sorriso de canto, claramente pouco disposto a compartilhar a informação.
— Vamos voltar para Wingbloom. Precisamos nos preparar antes de seguir viagem — disse ele, mudando o foco.
A caminhada de volta para Wingbloom foi tranquila, com Felipito e Elizabeth tentando adivinhar o que estava escrito na carta e o que Loghain havia cochichado para o mensageiro.
— Aposto que era algo sobre um tesouro escondido — arriscou Felipito, balançando sua espada no ar enquanto andava.
— Ou talvez sobre algum perigo mortal que você nem conseguiria enfrentar, maninho — retrucou Elizabeth, com um sorriso desafiador, ajeitando o arco nas costas.
Loghain apenas balançou a cabeça, já acostumado às provocações constantes dos filhos. Ao avistarem os portões de Wingbloom, sentiu-se aliviado por, pelo menos naquele momento, estar em um local familiar e relativamente seguro.
— Vamos. Primeiro, comer algo decente. Depois, temos que reunir algumas informações antes de seguirmos viagem — declarou ele.
Ao se aproximarem dos portões de Wingbloom, o trio ouviu um alvoroço vindo de dentro da vila. Felipito e Elizabeth pararam, trocando olhares curiosos, enquanto Loghain apertava o passo.
— Pai, o que está acontecendo? — perguntou Elizabeth, ajeitando o arco nas costas.
— Não sei, mas vamos descobrir. Fiquem atentos — respondeu Loghain, com a mão descansando no cabo de sua espada.
Ao entrarem na vila, a origem do tumulto logo ficou evidente. No centro da praça, uma imponente carruagem de madeira escura, reforçada com grades de ferro, estava parada. Dentro dela, figuras inconfundíveis: demi-humanos com características de animais e orcs, todos acorrentados e com expressões cansadas ou resignadas. Alguns aldeões olhavam com desdém, murmurando palavras cheias de preconceito. Outros pareciam incomodados com a situação, discutindo entre si.
— Isso é horrível... — murmurou Elizabeth, franzindo o cenho.
Felipito apertou os punhos e se virou para Loghain, a indignação clara em sua voz.
— Pai, por que eles estão fazendo isso? Por que estão tratando essas pessoas como prisioneiros?
Loghain suspirou, olhando para os filhos antes de voltar o olhar para a carruagem.
— Nem todas as vilas aceitam demi-humanos ou orcs, Felipito. Essa é a realidade. Muitas dessas raças são vistas como inferiores ou perigosas por causa de preconceitos antigos. E o problema principal não está nas vilas em si, mas na nobreza — explicou ele, com uma calma que escondia sua própria frustração. — A nobreza corrupta lucra com o tráfico e a escravidão dessas pessoas.
Elizabeth arregalou os olhos, chocada.
— Mas essa vila... Wingbloom... eles permitem isso?
— Wingbloom é um pouco diferente — continuou Loghain. — Eles aceitam qualquer raça, mas isso não significa que todos sejam acolhidos sem preconceitos. Sempre há quem trate os outros como inferiores.
Felipito olhou para os demi-humanos na carruagem, sentindo uma mistura de raiva e impotência.
— Então o que podemos fazer?
Loghain colocou a mão no ombro do filho, olhando diretamente em seus olhos.
— Nem sempre podemos lutar contra tudo, Felipito. Às vezes, a melhor coisa a fazer é manter o foco no que é mais importante. Nossa missão é chegar a Koujia e descobrir o que está acontecendo de verdade.
Felipito pareceu relutar, mas acabou assentindo. Elizabeth, embora igualmente insatisfeita, entendia a lógica do pai.
Loghain gesticulou na direção da estalagem.
— Vamos. Peguem suas coisas lá dentro. Voltaremos para a estrada antes que algo mais nos envolva nesse caos.
Enquanto os filhos seguiam para o interior da estalagem, Loghain lançou um último olhar para a carruagem. Ele apertou os punhos, mas manteve a expressão serena. Não era o momento de agir, mas aquilo o incomodava profundamente.
Logo, o trio estava pronto para partir novamente.
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