Capítulo 1: mudança repentina
Antes de começar, eu tenho algumas perguntas:
Quão monótono você acha que sua vida é? Está contente com ela desse jeito?
Pode ser que ela não seja tão alegre ou agitada. Ter obstáculo não impede você de se divertir. Pelo contrário, muitos riem da própria desgraça depois de passar por ela.
É difícil? Sim. Porém, nem sempre tudo vem fácil. Às vezes o seu chato e normal que está querendo sair é o desejo de outro.
A vida pode estar com falta de “novidades”. No entanto, é tão ruim assim? A verdade é que o normal e o chato são difíceis de obter para muitos. Poucos têm a chance de escolher entre.
Então, para fugir dessa vida monótona, o que você faria? Ser ativo em círculos de amizade e em sua família? Sim? Seria uma boa opção. Não é arriscado, não será tão trabalhoso, contudo, vai sempre funcionar? Será que isso será o bastante? — não quer algo mais exitante?
Digo que apesar de ser tediosa, muitos se sentem confortáveis com isso. Preferem não ser superficiais e ficam satisfeitos sozinhos. Na visão de terceiros uma vida dessa parece triste. Só que como alguém vai falar da situação de outros sem ter passado por algo igual?
Se você acha que ninguém vai falar, saiba, sua visão está completamente errada. Pessoas são hipócritas, falsas, dissimuladas e muitas das vezes te usam para benefício próprio. Acredito que esse seja um dos instintos humanos. Serem capazes de fingir algo que não são, isso é comum para eles.
Talvez você não seja assim, mas e se for para sobreviver?
Essa analogia foi feita por um garoto na adolescência, cujos seus cabelos grisalhos estão meios desarrumados e com olhos acinzentados sonolentos.
Seu nome é Ryan Neos.
Impossível acreditar que uma “criança” como ele tenha vivenciado tanto, não é? Porém não é impossível. Crianças que foram vítimas de guerras ou incidentes causados ou não pela natureza podem ter o mesmo pensamento — até pior —. A diferença é que elas passaram por algo traumatizante.
Escutar de uma pessoa que aparenta ser normal e que vive de forma banal sem nenhuma crise, problema ou necessidade é fora do comum.
O cotidiano dele é como um replay. Ele acorda, vai para a escola e volta para casa. Também tem algumas mudanças que não afetam em nada a vida dele. Então não importa.
Não é estranho esse garoto pensar assim?
Sair com a família — que é apenas sua mãe — ou com amigos é algo que o garoto pensa ser desnecessário. Seria esse o pensamento de um velho? Não. Muitos idosos gostam de sair, festejar e ir a bares.
Porém ele não é o único que acha isso. Deve haver incontáveis humanos que têm a mesma opinião.
Na sala viu sua mãe sentada no sofá assistindo jornal com uma expressão de tédio.
“Só de pensar em tirar-la do suave e confortável sofá para levá-la até um lugar difícil de se movimentar… “, pensou Ryan olhando, “ela também não ia querer, certo?”
O tédio podia ser só por causa do mesmo noticiário que passa a uma semana ou por ficar em casa o tempo todo. A eficiência de não precisar sair da própria casa “debilitou” as pessoas.
A tecnologia e a modernidade deixaram o ser humano preguiçoso. A facilidade trouxe com sigo a fragilidade. Mas o problema não era esse.
Na antiguidade — idade da pedra — era de grande importância estar em grupos, isso para não lutarem sozinhos com predadores. Assim se formavam tribos.
Mas hoje em dia, quão importante é estar em grupos?
O menino não teve problemas para socializar com a mãe ou qualquer outra pessoa. Ele até tinha um bom relacionamento com ela, ainda mais se considerarmos a puberdade. A famosa fase rebelde.
Estar junto de outros indivíduos era fácil, porém sem importância.
Como dito, antes, mesmo que tenha um dia a dia repetitivo, também havia mudanças ligeiras.
No 27-05-20XX. A escola fez uma viagem escolar para todas as turmas do terceiro ano da parte da noite.
Ele não é de acordar cedo já que estudava em outro período, mas por causa desse evento que foi forçado a participar pela mãe, que o pressionou até o ponto de aceitar. Ele teve que acordar.
Já no quarto, pondo o uniforme escolar composto por; camisa social, calça e o blazer bem passado, deixando nítido o cuidado e esforço que ela botava ao lavar.
Indo para a escola, a mãe do Ryan sempre dizia: “Vai com Deus, meu filho.”, e nesse dia não foi uma exceção.
Por outro lado, ele que não sabia como responder por não ser religioso.
Então com um simples: “tchau, mãe.”, ele se despedia e fechava o portão.
Pode parecer uma resposta seca, mas ela entendia. Não é como se fosse uma despedida definitiva, então não fará muita diferença o jeito que ele a responde. O que importa é que ela vai estar lá para dar às bem-vindas sempre que ele voltar.
…
Indo para a escola, ele vê o cenário de sempre. Muitas das vezes vai instintivamente para a escola. Dado que fazem anos que ele pega o mesmo caminho, faz isso duas vezes por dia, quatorze vezes por semana e por aí vai…
Seria possível ele chegar até a escola simplesmente se movendo enquanto ficava perdido em pensamentos.
Mas, dessa vez, foi diferente. Agora, por algum motivo, ele prestou atenção como se fosse a primeira. As pessoas quando passam por um lugar novo, que consequentemente vão ter que passar por ali outras vezes, prestam bastante atenção e buscam referências para não se perderem.
Só que Ryan apenas estava observando para fins nada construtivos.
Ali ele via muitas pessoas conversando. Grupos grandes ou pequenos. E quanto mais ele se aproximava da escola, mais pessoas se aglomeravam. Nem todas iriam para a viagem, só que ainda tinha aula normal para as outras turmas.
Passo por passo ficava mais cheio os arredores. A escola não era particularmente pequena, mas para tantos alunos foi preciso separar em turnos.
A escola que é de classe baixa tinha um muro pequeno que ao decorrer do tempo foi preciso colocar uma grade para os estudantes não fugirem e matarem aula. O portão e as grades azuis são perceptivelmente velhos e que só tiraram a ferrugem e pintaram mais uma vez. No entanto, eles já estavam desgastados novamente.
O muro e as paredes da escola tinham a cor azul escuro e branco. Eles tinham pintado tudo no começo do ano. Também houveram algumas reformas aqui e ali.
Pela descrição dá para saber que eles não são tão restritos assim. Pode até ter regras, regras essas que nem sempre são respeitadas, claro.
Chegando na sala de aula, ele para na soleira, vendo pessoas mexendo no celular, conversando com colegas ou até mesmo casais se pegando. Observando os indivíduos ali, ele pensa: Será que cheguei cedo?
Ele ficou parado divagando e logo é interrompido por um professor que pede para todos — os doze alunos presentes — irem ao local onde estão os ônibus que levaram as turmas.
Essa viagem foi organizada por uma grande empresa que visava futuramente ter empregados qualificados. Então, nada melhor do que fazer um patrocínio que possa no futuro beneficiar eles — pelo menos é o que pensam.
…
Ryan chegou ao local, que fica a alguns metros da sua escola. O lugar fica na via exclusiva de uma escola municipal, assim sendo mais fácil de abrigar os ônibus.
É um fato que a escola municipal é mais bem cuidada. Ali é onde está o ‘futuro do país’. Então todo cuidado é pouco.
Não só a escola tem uma qualidade melhor no ensino, nos materiais e etc. Como também tem um ambiente fresco com árvores em volta. Às vezes os professores fazem uma aula de ambientação, então por ali sempre terão mudas ou até pequenas árvores. Seria motivo de inveja, porém Ryan já estudou ali e muitas das vezes matava aula para dormir.
Parando de observar a escola, ele foi em direção ao seu determinado ônibus que se encontrava na quinta fileira. O ônibus tinha como proteção contra o sol, uma enorme árvore.
Mesmo grande, ela só protegia a parte da frente. Evidentemente o motorista só pensou em si mesmo. Apesar de ter ar-condicionado, eles estavam desligados, mas, mesmo desligado, a temperatura ainda era baixa.
Por algum motivo ele se sentou na parte traseira do ônibus, motivo: o banheiro. Apesar de sentar na parte traseira onde batia a luz do sol, ele sentou no lado contrário, assim tendo uma pequena proteção.
Sentar perto do banheiro só por ser cansativo e complicado ter que andar poucos metros é o cúmulo da preguiça. No entanto, ele se preveniu de um futuro alternativo onde molhava a cueca caso não chegasse a tempo pela distância.
Por ser um dos primeiros a entrar no ônibus, ele tinha bastantes escolhas e poucos motivos para recusar a proposta irrecusável de ter sido pontual, diferente da maioria dos alunos que pararam para conversar em vez de entrar no ônibus.
Sentado ali, com o cotovelo apoiado na janela, ele se viu olhando mais uma vez as paisagens.
O ambiente repleto de pássaros deu um ótimo passa tempo. Restou a ele só espionar e deixar o tempo fluir até a partida do ônibus.
Horas depois, o ônibus já tinha partido.
“Como eu pensei, estou com vontade de ir ao banheiro”, pensou Ryan enquanto se levantava para se aliviar.
Saindo sem incomodar seu vizinho de assento, ele foi até o banheiro.
Na ida até o banheiro, o ônibus fez uma pequena parada, mas foi o suficiente para incomodar todos os estudantes. Contudo, sem se incomodar com isso, Ryan continua em busca de alívio. Pensou que não era nada fora do comum, então entrou no banheiro.
Enquanto isso, o que era uma pequena parada, virou uma parada definitiva.
Após isso, a porta foi aberta. E sem aviso prévio algo como uma granada de fumaça foi jogada dentro. Não parava por aí, depois de jogar a primeira, outras foram despejadas no interior do ônibus. Com isso, as portas se fecharam.
A fumaça que saia daquele objeto alastrou rapidamente, fazendo com que os estudantes entrassem em pânico.
Na cena seguinte eles já estavam gritando e chamando por ajuda. Eles se esforçaram ao máximo, porém não funcionou. Podia ser pelo estado de medo ou só por burrice, eles não perceberam que o local que estavam não havia sinal de vida ou movimentação. Quero dizer, nenhum ser vivo além das pessoas que jogaram os tais objetos.
Logo depois começaram a chutar e socar as janelas. Era tudo o que eles podiam fazer já que no ônibus não tinha o martelo e o lacre de emergência. Mas, assim como antes, eles não tiveram resultados.
Com o esforço exercido e com a respiração irregular, a absorção da fumaça foi mais rápida. Então, de repente, eles começaram a sentir um sono que não era natural, mas agradável.
Dentro do banheiro ele tinha ciência dos acontecimentos. Sabia que algo estava fora do lugar.
De lá, dava para escutar todos os barulhos e de como o ônibus se mexia por causa dos golpes desferidos com intenção de quebrar os vidros. Então ele abriu a porta e a deixou entreaberta para verificar a situação.
Se deparando com aquela cena, ele olhou por alguns segundos e fechou a porta.
Quando foi verificar o do porquê dos barulhos terem acabado, ele percebe que era o único acordado dentro do ônibus.
Mas não podia ficar por muito tempo. Isso porque a fumaça estava o alcançando e sabendo que era um sonífero, ele entrou rapidamente e se trancou para pensar no que estava acontecendo.
“O que foi aquilo?”, pensou Ryan depois de trancar a porta do banheiro. “Será que isso é um…
sequestro?”
Seu coração começou a bater forte. Dava para escutar de longe e sem dificuldades.
Tum-tum!
Ele não sabia se o que estava sentindo era medo ou algum outro sentimento… não agora.
Um tempo passa e a porta do ônibus abre. Homens com roupas e mascaras pretas — aparentemente armados — entraram e começam a recolher os estudantes um por um, até chegar na última fileira.
Um dos homens chama a atenção do companheiro mais próximo e fala:
— Ei! Verifique o banheiro. Falta mais um. Ele deve estar escondido lá.
— Sim, senhor! — respondeu.
Depois de abrir a porta do banheiro, o aparentemente subordinado viu o garoto desacordado em uma posição desconfortável para dormir: sentado.
— Oh! Você realmente tem alguém aqui. Você deve ter pensado que a fumaça não passaria pela porta porta. Que inocente… ou… seria burro? — zombou o homem e deu uma risada no final.
Logo depois pegou Ryan nos ombros e foi em direção a saída.
Porém, enquanto era levado, rapidamente abriu um dos olhos. Ainda consciente, porém sonolento, viu algo que poderia ajudar ou não. Então preferiu ter essa ferramenta para um imprevisto.
É melhor prevenir do que remediar. Pensou
Essa escolha seria a possível salvação dele em uma crise, então não seria tão difícil escolher.
Depois disso, Ryan ficou ainda mais sonolento pela fumaça que inalou. Até que tinha sido pouca, mas o efeito era forte o bastante para apagar um leão.
Enquanto dormia, ele sonhava com algo do passado.
— Ele ainda é uma criança! Você vai fazer isso
mesmo?! — falou a mãe do Ryan, porém com uma aparência mais jovem.
— Isso não é uma criança! Olha o que ele fez! — irritado, o homem acusou.
— Mas ele não tinha essa intenção. Ele ainda não entende as coisas! — argumenta e logo depois acrescenta — como você quer que ele saiba o que fez?!
—Tal comportamento não é de uma criança
normal!
— Como… como pode dizer isso?
Ela caiu em lágrimas e não aguentava mais a situação. A mente fraca dela não suportava. Ela era uma pessoa “simples” se assim podemos dizer.
A briga não tinha começado agora. Já estava acontecendo há um tempo e os vizinhos estavam cientes. No entanto, não conseguem fazer nada além de olhar e esperar.
Então, pela alteração na pressão cardíaca, ela desmaiou. Era evidente que isso ia acontecer cedo ou tarde. Agora, em um momento crítico, não havia ninguém para deter o homem que tinha intenções assassinas justificáveis contra seu próprio filho.
O homem estava se aproximando da criança e ficou e parou a poucos metros de distância.
— V-você… se… arrepende do que fez? — perguntou com a voz trêmula.
— Se eu me arrependo?
— Diga “sim” ou “não”! — disse o homem, levantando a FACA que segurava firme com as duas mãos. — Dependendo… dependendo da sua resposta…. eu…
Ele estava em um estado alterado e com um utensílio mortífero. Era perigoso ficar perto. Qualquer movimento brusco pode desencadear uma reação.
— Fale logo!
— Huh? NÃO.
O homem arregalou os olhos com a resposta imediata que foi dita com convicção. Então, tendo a resposta para a pergunta que ele tanto ansiava, ele perdeu o pouco de controle que ainda o segurava.
Então ele, desesperado, correu na direção da criança com a FACA e...!!
— Patético. — zombou a criança
— Seu desgraçado!! Eu vou te…
De repente, Ryan é acordado de seu sonho por uma voz feminina.
— Eeeeeeei! — Gritou com uma voz fina e acrescentou — você não vai acordar, hein?
Ele abriu os olhos lentamente e virou a cabeça em direção à voz.
Demorou para ele conseguir enxergar de forma apropriada por causa do ambiente muito claro. Mas quando se acostumou, tudo que ele conseguia ver era uma sala branca, fazendo com que as outras cores se destacassem.
Nessa sala havia uma porta que era difícil de enxergar de longe. Mas se prestasse bastante atenção, era evidente a existência dela.
Atordoado, olhou para a garota que o acordou e para as pessoas ali presentes.
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