De maneira desanimada, Davi respondeu: "Não é meu, é de uma amiga," disse ele olhando pela janela, "eu nem sei dirigir."
"Tendi, isso faz bem mais sentido." Resmungou baixinho.
"O quê que você disse?!" Vociferou exigindo uma resposta.
"Hã? O que eu..." Antes que pudesse terminar a frase, ele foi cortado, e o outro murmurou, "Deixa quieto..."
Talvez pelo acúmulo de sentimentos de injustiça em relação a sua pessoa, os pensamentos de Miguel em protesto às atitudes do detetive explodiram num instante: "Sério mesmo! Por que sempre faz isso comigo? Quando eu te ofendi?
Mas naquele instante algo suspeito foi percebido em meio à escuridão. Em uma tentativa de acalmá-lo, levou uma das mãos de forma ágil até os lábios do outro e proclamou: "Xiu!! Espera, olha ali!" Fazendo assim a quietude voltar a reinar.
Assim que se acalmaram, viram uma figura suspeita se aproximando e se afastando, um homem vestido de preto, na frente da loja Florescência Bijoux.
"É ele?" Indagou Miguel, tirando a mão que selava seus lábios.
"Provavelmente. Ei, não vai tirar uma foto ou um vídeo?"
Miguel rapidamente pegou o celular para registrar a cena daquela noite. Mesmo em meio a desentendimentos, eles conseguiram uma pista.
Logo depois de flagrar o suspeito, ambos foram ao escritório. Ao subirem as escadas, estavam em absoluto silêncio. A discussão anterior havia abalado a relação meio conturbada deles. Foi então que Miguel passou as fotos para serem impressas. Logo após, evitaram fazer contato visual ou dialogar com o detetive. Este, então, começou a falar.
"Olha... você fez um ótimo trabalho hoje, tá?" Davi tentou esconder seu desconforto com sua atitude anterior.
"Uhum..." Miguel murmurou de forma distante.
"Ah! Parece que ele tentou esconder o rosto com uma máscara. Talvez devêssemos manter a vigilância amanhã também? Se ele aparecer de novo, teremos uma chance melhor de pegá-lo em flagrante."
Miguel, ainda um pouco incomodado com a discussão anterior, concordou com um aceno de cabeça, mas não disse nada.
Davi percebeu que ele não ia dar o braço a torcer. Assim, tentou suavizar o clima, virou-se para ele e disse em voz alta: "Olha, foi mal, beleza?! Eu sei que fui rude com você antes..."
"Um babaca", acrescentou Miguel.
"Ugh... Estava um babaca! Mas às vezes sou meio impulsivo, e já fui muito zoado no meu passado."
"Você? Por quê?" Essa parte o deixou muito intrigado.
Ele suspirou e começou a se remoer ao lembrar, sua voz parecia ainda mais rouca: "Por simplesmente ser quem eu sou... Sabe? É por isso que eu não lido bem com piadas sobre mim e acabo indo pra cima mesmo. Me perdoa, tá? Você não tinha maldade na fala."
Miguel, com seu caráter empático e compreensivo, respondeu: "Tudo bem, Davi. Eu consigo entender seu lado. Acho que preciso aprender a lidar melhor com nossas diferenças, né? Tipo, eu quero que você me ajude a encontrar meu pai."
Davi sorriu pela primeira vez desde que se juntaram, feliz pelo mal-entendido ter se dissipado. Continuaram a planejar o que diriam para a cliente e sua estratégia para descobrir quem é o culpado.
No outro dia eles chegaram num consenso...
Agora era a noite do outro dia. A Sra. Torres se preparava para fechar a loja. Dando uma última olhada, ela fechou o portão da frente e foi embora.
Durante a madrugada daquela noite, mais uma vez o portão foi aberto. O ladrão mascarado foi até as caixinhas de música de sua forma habitual, mas quando estava prestes a ir embora, foi surpreendido por Miguel e Carlos. Ele foi competentemente rendido pelos dois homens que o imobilizaram. Então, viu sair de um lugar escondido o detetive Davi, que se revelou. Sua primeira ação foi ligar para a dona da loja para revelar finalmente o culpado.
Com o culpado detido, os homens esperaram a senhora chegar. Assim que ela chegou, revelou seu estado cheio de preocupação.
"Descobri algo interessante...", Davi começou. "O ladrão é alguém com um conhecimento bem específico sobre a loja. Além disso, conhece bem os horários e sabe exatamente quando deve vir." A senhora, ansiosa, o olhou com surpresa e ele continuou: "Isso nos sugere que o ladrão é alguém próximo, pois ele tem muito conhecimento do funcionamento da loja."
A dona arregalou seus olhos: "Meu Deus, mais será possível?!" com o ar preso, parecia que poderia desmaiar a qualquer momento.
"Sim, e ele está aqui. Nas fotos que tiramos, não é possível ver seu rosto, mas agora ele está na nossa frente. Olhe quem ele é, minha senhora!" Parecia uma cena digna de revelação do fantasma em Scooby-Doo.
Mas assim que ele retirou a máscara, eles se viram diante de um homem com olhos castanhos, cabelo preto e corpo musculoso. Ao ver isso, a senhora finalmente desmaiou. Ela foi socorrida por Miguel e Carlos e foi levada para se sentar. Assim que se acalmou, o detetive continuou seu monólogo, era hora de interrogá-lo.
"Bom, Gustavo, hora de explicar por que invadiu a loja da sua própria irmã e por que roubou só essas caixinhas de música?"
"Hum..." ele estava de cara fechada e não queria falar com este homem caricato.
"Isso tem a ver com o que aconteceu no shopping no final de semana?" Ao ouvir essa frase, o homem parecia ter se assustado de forma repentina. Tentando esconder o nervosismo, vociferou para o outro:
"Como?! Está jogando verde." Mas a essa altura, o detetive já havia conseguido o que queria. Assim, ele rebateu de forma satisfeita:
"Mas consegui uma reação." Acalmando o clima da sala, ele disse com uma voz rouca mas acolhedora: "Conte a história para mim ou para a polícia, o que prefere nesse momento?"
"Eu não roubei nada! Me obrigaram a guardar a jóia!" Ele finalmente confessou.
Miguel, do outro lado da sala, parecia estar confuso, então indagou: "Mas por quê?"
O homem ao chão bufou e respondeu: "Por... hahaha, é claro que por causa de dívidas. Eu estava cheio delas, então pedi um empréstimo a uns caras, mas acontece que eu tinha que devolver o que não tinha. Então eles me fizeram esconder um pequeno anel. Depois descobri que ele era roubado. Quando fui à casa da minha irmã ajudar a levar as coisas para a loja, escondi o anel em uma das caixinhas de música. Eu escondi o anel dentro do mecanismo de uma das caixinhas de música, mas as caixas acabaram se misturando. Estava nervoso, por isso não podia procurar à luz do dia, então tive que entrar escondido e levar algumas para casa. Sinto muito."
Chorando ao se levantar dos braços dos homens que a acudiram, a Sra. Torres disse com uma voz cheia de lamentos: "Se precisava de ajuda, era só pedir. Eu teria ajudado meu pequeno irmão com o que fosse necessário."
"Eu não poderia fazer isso com você, que sempre lutou e se esforçou de forma honesta desde que chegou nessa cidade...", seu tom cheio de lamúria.
Assim, Davi disse em alto som: "Por favor, devolva o anel. É o melhor a se fazer."
"Não posso fazer isso, senhor!" Aos prantos, parecia desesperado pensando nas consequências posteriores.
"Você precisa enfrentar isso", reforçou Davi.
Ao longe, enxugando as lágrimas, a dona do pequeno empreendimento que fora invadido sem hesitação aconselhou: "Sim, é o melhor para você, meu irmão..."
"Hã?! Por que v..." antes de terminar a frase, foi interrompido.
"O Sr. Gustavo foi coagido e precisa denunciar. Dado que você aparentemente agiu sob pressão e não tinha a intenção de causar dano, poderia receber uma pena mais branda. Se aceitar cooperar com as autoridades e provar que foi coagido, pode receber uma pena reduzida ou até mesmo evitar a prisão, dependendo do julgamento."
"Você acha mesmo?" Ele estava tão absorto que estava prestes a chorar também.
"Vamos ver, só o tempo dirá."
Depois daquela noite, não se ouviu nada sobre os irmãos por um tempo. Mas, em algum momento, a Sra. Torres enviou-lhes uma mensagem dizendo que Gustavo devolveu o anel roubado e as caixinhas de música intactas. Ele confessou seu envolvimento no crime, explicando que foi coagido e ameaçado por pessoas a quem devia dinheiro. Colaborando com a investigação e fornecendo informações sobre os verdadeiros criminosos, conseguiu provar que agiu sob pressão. No final, sua pena foi de prestar serviços comunitários. Disse também que estava muito agradecida pela ajuda e que a loja voltou a funcionar normalmente.
"Uau, é tão bom que eles ficaram bem, né? E graças à sua ajuda!" disse Miguel, satisfeito com o resultado da sua ajuda caso como assistente.
"O quê? Claro que não foi só eu, você ajudou... um pouco," respondeu Davi de uma maneira mais confortável do que o habitual.
Talvez fosse o clima agradável, então Miguel soltou um pensamento bastante intrometido: "Sabe de uma coisa? Agora entendi por que você gosta de ser detetive," sua voz era aveludada.
"Como?" Davi parecia confuso com sua afirmação.
"Ajudar alguém que precisa é tão bom, por mais difícil que seja. Por isso você é tão maneiro! Haha," Miguel riu de forma descontraída.
"Ah tá, bom então, se acha que é tão bom," Davi coçou o nariz, disfarçando a timidez, "hoje é sexta, não é? Vou te levar a um lugar." Ele deu um pequeno sorriso de canto.
Miguel esboçou uma expressão de surpresa. Nos dias em que se conheceram, o detetive parecia sempre querer afastá-lo. Agora, ele queria convidá-lo para sair. Miguel não pôde deixar de achar que era uma pegadinha, tipo as Câmeras Escondidas. Onde Davi o levaria? Talvez para um museu, para passarem o dia entre quadros e esculturas antigas.
Eles fecharam o escritório e saíram. Depois de alguns minutos de caminhada, Davi o levou para uma ruazinha movimentada, não muito longe do prédio onde trabalhavam, cheia de restaurantes simples e barzinhos. Um, em particular, destacava-se pela fachada que lembrava um pub londrino, com belos arabescos, colunas elegantes e lanternas antigas. A cor de cerúleo chamava atenção em comparação com os outros bares, e o nome no topo da porta era no mínimo intrigante.
"Aqui é..." Ele parou atônito. "Eu nunca tinha vindo na Taverna da Rua Baker antes... Hehe, mas esse nem é o nome da rua, não é?" Miguel tenta zombar, mas era evidente que ele estava angustiado com o local que estava prestes a entrar.
Davi, surpreendentemente, riu suavemente em uma tentativa de tornar a situação mais leve para o garoto, mas quando Miguel encarou seu rosto, seu coração começou a palpitar um pouco.
"Pft! Sim, mas o nome é só uma referência. Viemos ver uma amiga minha que trabalha aqui," explicou Davi.
Ao entrar, o bar Taverna da Rua Baker revelava-se um lugar animado e acolhedor, com mesas de madeira e cadeiras de veludo vermelho. O balcão estava repleto de garrafas de bebidas, enquanto uma trilha sonora calma embalava o ambiente, preenchido por conversas.
"Wow, é um lugar tão legal," disse Miguel, olhando ao redor com olhos curiosos.
"Sim, enfim, minha amiga é a bartender no balcão. O nome dela é Sayuri ", indicou Davi com o olhar para uma garota de cabelos pretos e lisos, soltos até os ombros, com uma franja sobre a testa, que estava atrás do balcão. Seus olhos finos e escuros, pele clara, rosto redondo com um pequeno nariz e um sorriso largo eram cativantes. Ela usava um colete preto sobre uma camisa social branca, e mesmo assim, parecia ser uma pessoa meiga.
Ao ver o estiloso detetive de sobretudo verde, ela ficou ainda mais radiante. Davi e Miguel caminharam até o balcão, onde se sentaram em frente a ela. A bartender sorriu e disse:
"Migo, por que não disse que viria hoje?"
"Eu meio que esqueci, até porque não estava planejando," respondeu Davi.
Ela lançou um olhar questionador e perguntou:
"E quem é esse ao seu lado? É o seu novo na-"
"Eh! Ele é o menino que eu falei, aquele com sobrenome Fernandes," interrompeu Davi.
Ela arregalou os olhos para o jovem e então o cumprimentou:
"Olá, prazer. Meu nome é Sayuri Suzuki, sou a melhor amiga do Davi e a sua informante aqui na Taverna da Rua Baker." Ela brincou, fazendo um sinal de paz com as duas mãos, o que a deixava engraçada e fofa.
"Prazer, pode me chamar de Miguel. Mas como assim 'informante'?" perguntou Miguel.
"Ela me ajuda com informações, perguntando para os clientes que vêm aqui sobre alguns assuntos, caso eu precise de ajuda," explicou Davi.
"E ela vai ajudar em...?" começou Miguel.
"Encontrar seu pai," completou o detetive.

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