ENTRE A COROA E A LÂMINA, QUEM SANGRA PRIMEIRO?
E lá estava Frost, segurando firmemente sua espada que refletia seu próprio rosto, frente a frente com o seu alvo, que não havia até aquele momento, nenhum sinal de hostilidade.
Uma voz ecoava pela sua cabeça, como um sussurro, que o lembrava frequentemente de seu objetivo, e enquanto segurava sua espada, a silhueta do rei, que estava a sua frente, ia sumindo lentamente como uma sombra em um corredor mal iluminado.
Sua espada que antes refletia seu rosto, agora refletia uma luz que emanava um calor ardente, e distorcia levemente a lâmina de sua arma.
Sua visão começava a ficar turva enquanto instintivamente se afastava do alvo, andando lentamente para trás e os inimigos que antes o cercavam, já não estavam mais presentes, diante da grandiosidade de seu rei.
O calor e as chamas ficaram tão fortes que Frost pensou estar no próprio inferno, havia algo posicionado em direção a sua cabeça, uma lâmina com o dobro de tamanho de sua arma, que estava imbuída em fogo, tal arma tão poderosa que podia mudar a temperatura de uma parcela do ambiente.
Frost permanecia encarando enquanto se preparava para atacar, mas antes que ousasse desferir seu primeiro golpe, ele decide pacientemente responder ao questionamento de seu oponente, acreditando que tais palavras fossem as últimas que o mesmo fosse ouvir.
— Sua vida acaba aqui Paranorman, eu vim para acabar com a sua vida, nada além disso.
Ao escutar as palavras de Frost, Paranorman lentamente abaixa sua arma e mais uma vez questiona o adversário.
— Quem o mandou aqui? Quem o pagou para acabar com a minha vida? Responda, se me falar, ao menos pouparei a sua.
Frost começa a sorrir sarcasticamente, ele inspira e respira lentamente até que seu corpo começa a sumir diante daquele espaço em frente ao rei, junto com as suas vestimentas e sua arma, de modo que Paranorman não consiga mais vê-lo.
— Poupará minha vida? Seu rei arrogante, você quem é a presa aqui, Não percebe? Serei generoso, direi quem me mandou, mas não confunda meu ato de humanidade com fraqueza, eu vim a mando de Jeff, o rei da minha terra, mas isso não significa que eu goste dele, muito pelo contrário.
— Espero que apesar de estar em seus últimos minutos de vida, entenda que apenas estou fazendo o meu trabalho, nada além disso, você teve uma boa vida Paranorman, farei o possível para que tenha uma boa partida.
Diante de tal ousadia, Paranorman não disse uma única palavra, a voz de Frost e sua sombra eram as únicas referências que o rei poderia ter naquele momento, ele rapidamente levanta sua lâmina imbuída em chamas, e todo o local começava lentamente a ferver.
A energia que passava dos seus pés, a seus joelhos, dos joelhos a seu peito, e lentamente preenchia sua cabeça, era transformada em combustão, diretamente em sua arma, de modo que assim que qualquer inimigo encostasse em sua lâmina, poderia derreter o membro encostado instantaneamente, Paranorman não havia intenção de matar Frost, mas com essa técnica, ele poderia ter o equilíbrio perfeito entre defesa e ataque, além de mostrar com clarividência a sombra de Frost, que não sumia completamente durante sua invisibilidade.
Diante de tal afronta, percebendo a inteligência do inimigo, Frost continuava recuando, e com a ponta de sua espada fortemente derretida, ele a joga na direção de Paranorman.
— Maldito, não pense que estou me livrando de minha arma, nessa temperatura é possível que o aço da arma que joguei em sua direção derreta e consequentemente acerte o seu rosto, o dano não será grave, mas ganharei tempo suficiente para agir por cima disso.
Diz Frost para si mesmo enquanto joga sua arma em direção ao rei.
Paranorman ao observar a agilidade de seu oponente rapidamente esfria sua enorme espada e ataca ligeiramente a arma branca jogada contra o mesmo no ar, protegendo a si próprio, enquanto a arma cai no chão próxima aos pés de Frost.
Frost percebe que a abundante iluminação daquele ambiente seria um problema, pois assim Paranorman ainda poderia enxergar a sua sombra, mesmo que com certa dificuldade.
Ambos estavam próximos de um quarto, um quarto que acreditava-se ser do próprio Paranorman, o mesmo estava de costas para a porta aberta, enquanto Frost diante daquele chão com um grande tapete vermelho, decide correr para a direita.
Frost naquela situação tinha apenas dois caminhos, direita ou esquerda, o formato peculiar do castelo não permitia que o mesmo continuasse a andar para trás, se isto ocorresse, o mesmo acabaria se jogando da parte superior do castelo e seu fim seria trágico.
Então ele decide correr para direita, enquanto vai rapidamente apagando as tochas e os candelabros lotados de velas daquele local, que funcionava como um corredor, ele usava sua agilidade causada pela energia de imencionável, fazendo com que qualquer movimento causasse uma leve pressão de vento que rapidamente apagava o fogo, naquela altura Paranorman podia ouvir os passos de Frost correndo, mas não podia mais ver a sua sombra pelo lado direito.
Então Paranorman mais uma vez acende as chamas em sua espada, e corre posicionando-a em direção as velas, de modo que o mesmo pudesse acendê-las enquanto corria e percebia a posição de seu oponente.
Muito adiante à direita do corredor, havia uma enorme escada, que ia diretamente para a parte inferior daquele castelo, Frost agilmente descia as escadas, enquanto o peso da arma de Paranorman influenciava negativamente em sua corrida para acender os candelabros e as velas.
Frost rapidamente chega na parte inferior, e decide ir em direção às escadas que também existiam na esquerda inferior do castelo, o mesmo com sua agilidade chega rapidamente nas escadas, enquanto Paranorman continuava a sofrer com as consequências de sua arma.
Frost rapidamente sobe as escadas e retira duas pequenas azagaias de sua bolsa, as pontas eram feitas de ferro forjado, ambas em formato de folha e a haste de madeira resistente, propriamente projetadas para lançar e atacar de forma eficaz os seus adversários.
Ainda invisível, ele corre e mais uma vez segue com a mesma estratégia, dessa vez, apagando as velas da esquerda para a direita com o vento causado pela sua agilidade direcionada de suas armas para os candelabros e tochas.
O mesmo percebendo que Paranorman havia perdido tempo demais com o lado direito, rapidamente chega próximo do mesmo quarto que ambos estavam antes, e ligeiramente lança uma azagaia na direção do rei, que estava em uma leve desvantagem naquele momento, já que o mesmo não podia enxergar a posição direta de seu oponente, enquanto guardava novamente a outra.
Por sorte, Paranorman consegue desviar da arma lançada contra ele, o mesmo avança para a posição onde acredita estar seu oponente, mesmo que não consiga enxergá-lo, ele avança correndo para a esquerda exatamente de onde veio o ataque.
— Desgraçado, pare de lutar como um covarde e apareça maldito!
Disse Paranorman com semblante raivoso, mas ninguém respondeu.
Frost sabia que tinha enorme desvantagem corpo-a-corpo, e tentava evitar a todo custo revelar a sua posição diante da escuridão, enquanto Paranorman se aproximava da porta do quarto, onde estava o assassino.
Diante desta ocasião, Frost rapidamente avança em direção a arma ligeiramente derretida pelo calor, que antes havia jogado em Paranorman.
Enquanto Paranorman se aproximava de Frost, o calor de sua lâmina acabava por continuar derretendo a arma do assassino, que por sua vez, teve uma ideia genial.
Frost estava disposto a fazer o que fosse necessário para vencer aquele combate e matar o rei, mesmo que ele tivesse que queimar suas próprias mãos para isso.
Ele contava o tempo e os passos necessários para que Paranorman se aproximasse de sua direção, levando em consideração que seu imencionável estava ficando fraco, e logo sua invisibilidade acabaria, assim revelando sua posição.
A velocidade de aproximação de Paranorman naquele momento, era equivalente a velocidade que Frost recuava, posicionando suas mãos que seguravam sua arma a sua frente, fazendo com que a lâmina e o fio ficassem próximos das chamas da enorme espada do rei.
E conforme ambos avançavam em direção a esquerda, a lâmina de Frost que ficava próxima das chamas ficava maleável devido ao derretimento causado pela alta temperatura da lâmina de Paranorman.
O contato do aço com as chamas ardentes fazia com que Frost pudesse torcer e moldar o formato de sua arma, e o mesmo fez, usando a pressão do vento com o imencionável que lhe restava e também as suas próprias mãos.
Sua invisibilidade acaba, e enquanto ambos avançavam em direção ao fim da linha na esquerda, Frost conseguiu moldar a sua arma no formato de um bumerangue letal improvisado, tendo como consequência, uma grande queimadura na sua mão esquerda que estava mais distante, e deformando parte considerável de sua mão direita.
No momento decisivo, como seu último recurso, enquanto permanece recuando sobre a pressão do rei a sua frente, ele lança a sua arma improvisada no ar para a sua direita.
Sem perceber que se tratava de um bumerangue, subestimando seu inimigo, Paranorman apaga as chamas de sua espada, e a medida que ambos avançavam para a esquerda, Paranorman é atingido brutalmente no seu olho esquerdo pelo bumerangue metálico, que fez um giro de 360º e voltou para o ponto de onde foi lançado.
Naquele momento, Paranorman para de avançar, e ambos estão exatamente próximos a escadaria da esquerda que levaria para a parte inferior do castelo.
Paranorman friamente retira a arma que foi fincada em seu olho, devido ao tamanho da lâmina, os danos não foram severos a ponto de causar sua morte de forma instantânea, porém ele havia perdido a visão do seu olho esquerdo, e a quantidade de sangue que jorrava do seu olho naquele momento deveria ser tratado de forma rápida.
Pensando em situações como essa, ele havia um pano guardado em sua roupa, que se bem utilizado poderia estancar o sangue que jorrava de seu olho, mas ele não havia tempo para isso e qualquer movimento naquele momento seria fatal, pois o mesmo estava diante de seu adversário.
Paranorman sabia que ao retirar a arma que estava em seu olho, faria com que ele ficasse em grande perigo naquele momento, mas a adrenalina causada pelo combate falou mais alto, ele estava confiante de que poderia vencer em uma pequena quantidade de tempo, contando a partir daquele exato momento.
Aproveitando-se da situação do oponente, Frost lembrou que ainda havia uma azagaia em sua bolsa, durante o período de cinco segundos que Paranorman estava parado, ele retira a sua arma, e como ambos estavam muito próximos um do outro, a sua única opção era partir para o corpo-a-corpo, mesmo que sua arma tivesse grande desvantagem.
Então Paranorman diante daquela situação, toma uma decisão inesperada, ele larga sua arma no chão e pode-se escutar o que antes vinha do seu adversário, vindo do próprio Paranorman, uma lenta respiração, o ar entrava e saía lentamente de seus pulmões, enquanto sua perna direita começava a ter uma silhueta levemente branca, que rapidamente cobria toda sua perna.
— Kick…
No momento exato em que Frost avançou com sua azagaia, ele foi surpreendido com um forte chute semicircular brilhante desferido com grande potência em seu rosto, nem mesmo um assassino experiente esperaria por aquilo, no momento em que foi atingido, ele sabia que havia perdido o combate, e o mesmo acabava sendo lançado bruscamente de cima para a parte de baixo do castelo, já inconsciente, sobrando acima apenas sua azagaia como prova do que já foi o seu objetivo algum dia…
— Você foi um bom oponente, é por meio de combates assim que nós nos fortalecemos como seres humanos.
Diz Paranorman enquanto pega lentamente o pano grosso que havia em sua roupa.
Com movimentos bem aplicados, Paranorman enrola o pano com força em seu rosto, de modo que cubra completamente o seu olho direito e seu ferimento fatal.
A conclusão do combate não havia acabado com as dúvidas Paranorman, ele precisava saber quais eram as intenções de Jeff, se o mesmo o mandou assassinar era tendência que Jeff tentasse algo contra ele nos próximos dias.
Paranorman esfrega sua coroa melada de sangue com sua própria mão, limpando-a, enquanto desce as escadas em direção ao Frost que estava inconsciente naquele momento.
— Cuidarei de seus ferimentos, mas irei confiscar sua bolsa e seus pertences por precaução.
— Guardas! Levem-no ao médico e recolham seus pertences.
Quatro guardas se aproximam, os mesmos que foram impedidos de atacar o Frost anteriormente.
— Senhor, este homem tentou matá-lo, tem certeza disso?
— Não questione minhas ordens, apenas faça, este homem será de crucial importância para mim.
Diz Paranorman enquanto caminha lentamente de volta para cima.
Os guardas não tinham outra opção além de respeitar a decisão do rei, e logo levam Frost para o médico do Reino.
Um dia se passou, Frost abre lentamente seus olhos, e tudo que pode enxergar é uma terrível escuridão que o lembrava de seu fracasso como assassino, o mesmo pensou naquele momento que estava em alguma prisão ou estaria sendo levado para a execução.
Seus dois braços estavam presos em volta de uma estaca, entretanto suas mãos e os hematomas de seu corpo tinham sido tratados.
— Podem soltá-lo.
Duas armaduras de prata que antes não estavam visíveis para Frost, brilham de sua direita e esquerda, e no mesmo momento ele sente seus dois braços sendo soltos.
Até que as luzes são acesas e pode-se enxergar a figura do rei e do assassino, ambos frente a frente um com o outro, Paranorman coloca suas duas pernas apoiadas sobre a mesa de mármore que lá estava, e faz um leve alongamento de braços sobre sua cabeça.
— Eu preciso de respostas…

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