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Sincronicidade

Brasas - 2 (pt.2)

Brasas - 2 (pt.2)

Jun 04, 2025


Ele tremeu: eram dois guardas enormes, trajando armaduras de metal batido e parecendo furiosos. Normalmente eles só reclamavam de vadiagem depois do pôr-do-sol, mas não era difícil eles arranjarem um motivo para lhe espancarem. Faryeh pensou em correr, mas antes que pudesse ir muito longe, seu braço foi agarrado, a pele morena e marcada exposta ao Sol.

— Desculpa! — pediu de imediato, temendo outra surra. A primeira tinha sido ruim, a segunda também, e particularmente, não desejava uma terceira. — Não tenho nada a ver com a não-humana!

— Que merda você está falando?

— A garotinha... — Apontou para os escombros da ferraria, mas assim como ela apareceu, sumira na mesma respiração. Os olhos de Faryeh se arregalaram. Será que ele estava começando a ouvir e ver coisas? Estaria mesmo ficando louco? Ou ela conseguiu escapar sem vestígios?

— Ele é louco, Pierre — um dos guardas comentou para o outro.

— Que seja doido ou maluco, moleque, me diga — o que segurava seu braço ordenou. — Essas suas marcas são de verdade? Não é bosta?

— Parte delas é bosta, sim... — Teve de concordar. Ainda não tinha tomado banho, e aparentemente nem iria mais. — Mas eu nasci com elas.

Um guarda olhou para o outro, e então, disse:

— Venha conosco.

Ele deu um passo para trás. Sabia que correr era a melhor opção quando se tratava de porcos como aqueles, mas eles repararam na sua postura de esquiva, e um deles segurou com mais força seu braço e ombro antes que fugisse.

— Ei! Vocês não podem me prender por ter marcas!

— Calado, moleque. O Rei está procurando um rapaz com a sua descrição.

— O que você fez? Roubou as joias da coroa? — um dos guardas riu da sua própria piada sem graça.

— Não, eu não fiz nada...

— Não importa o que você fez ou não fez. — O guarda deu de ombros. — Vai ter que pagar as contas com o Rei, agora.

Deu uma última olhada para a ferraria, o conhecimento de que seria a última vez que a veria afundando o estômago. Nenhum vislumbre de branco, no entanto. Ele fechou os olhos, resignado, e aceitou o destino.

Eles o arrastaram, e apesar de Faryeh não oferecer nenhuma resistência, não quer dizer que tivera o melhor dos tratamentos. Xingamentos e maldições quanto ao seu cheiro (que eram seguidos de pequenas desculpas não aceitas) acompanharam seus ouvidos até chegarem ao Portão de Jade. Era onde aconteciam a entrada e saída da cidade interior, e seus olhos se abriram. Eles realmente o levariam até o Rei? Que reviravolta mais digna dos contos de fada… O que quer que Faryeh fizera, certamente fora uma ofensa gravíssima, e esperava pagar com sua vida. Ao menos seria o fim de sua existência miserável. Ele fechou os olhos e deixou ser arrastado. Os guardas não tiveram problemas para lhe dar passagem, e quando os portões fecharam atrás de si com um estrondo, Faryeh soube que sua vida anterior acabara de ser deixada para trás.

As casas eram arrumadas, ao contrário dos escombros da cidade de fora. Todas de madeira, algumas de até dois, três andares. Os cidadãos passeavam com tranquilidade, exibindo suas bolsas de ouro presas a cintos na cintura. Perguntou-se se teria coragem de roubar ali, a essa altura da vida. Se o Rei o liberasse com vida, talvez conseguisse alguma coisa na Cidade de Dentro...

Embora os olhares sobre ele fossem como se fosse a mais abissal das criaturas, uma mácula naquela cidade perfeita. Foi arrastado por mais alguns metros, porque os guardas marchavam em um ritmo rápido demais para ele. Em poucos minutos, chegaram à entrada do Castelo. O pânico atingiu a sua garganta ao ver os portões decorados de ouro, mas os guardas o arrastaram para uma das entradas laterais. Faryeh passou por corredores escuros e úmidos, com algumas portas dando para os alojamentos dos servos, todos vazios àquela altura do dia. Em poucas passadas chegaram à cozinha.

Era interessante ver o quanto a Guerra havia afetado a população. Ser Rei tinha seus privilégios, mas seus servos exibiam as marcas da guerra; cicatrizes e grandes queimaduras enfeitavam as peles dos servos, mesmo debaixo dos grandes saiotes de seus uniformes. Uma das mulheres, cuja manga estava presa ao saiote por não possuir o braço inteiro, tirou uma fornada de pãezinhos quentes de dentro da assadeira, e o cheiro fez o estômago de Faryeh roncar audivelmente. Ela o olhou, primeiro com nojo, então com pena. Sabia qual seria seu destino.

Nem teve coragem de pedir algo, mesmo com a fome apertando as entranhas. Com mais algumas passadas, deixaram a cozinha, e a decoração simples dos corredores tornou-se cada vez mais suntuosa. De repente, os candelabros eram de ouro, a prataria reluzente, a decoração das paredes em mármore. Como se o verdadeiro tesouro estivesse bem mais à frente. Nem imaginava o luxo de um quarto da realeza, o quão suntuoso seria.

Chegaram a uma porta, e Pierre, um dos guardas, se empertigou, largando-o por fim.

— Vou precisar de dois banhos para me livrar do seu fedor — ele reclamou.

— Três, meu amigo — o outro comentou. — Três.

Não era uma ofensa, por se tratar da verdade. Faryeh fedia. Por que, então, precisava se apresentar ao Rei naquele estado? Não teve tempo de indagar, quando as portas de pedra branca se abriram e convidaram toda a luz para invadir seus olhos. Demorou um pouco para se acostumar com a claridade, e absorver todo o salão principal. Ele tinha um pé direito alto, e era vasto em sua expansão. Um carpete confortável e macio estava sob seus pés descalços, o tom vermelho como o sangue. A luz entrava e se refletia nos vitrais, e pelo que pode ver, eles contavam a história de como a Deusa Fênix acordou neste mundo para salvar os humanos. Aos poucos, a Fênix ia nascendo e atrás do altar, existia uma grande estátua da Deusa, com sua plumagem avermelhada e alaranjada. Faryeh se sentiu muito pequeno.

Abaixo da estátua, estavam dois tronos. Um pertencia ao Rei, pois ele estava sentado em um deles, suas robes compridas tocando o chão e distribuindo beleza conforme a luz do sol refletia arco-íris de suas pedras. Era fascinante e o deixava completamente cego.

Um dos guardas o empurrou:

— Adiante, moleque.

Caminhou, chegando perto das escadas que davam para o trono. Do alto dele, o homem parecia imponente. E também, um pouco entediado. Suas mãos seguravam seu rosto e ele ameaçou bocejar pelo menos umas três vezes até que ele chegasse perto. Depois, se empertigou.

Era uma visão muito diferente de si e mesmo das pessoas da cidade de fora. A pele de Faryeh era marrom, marcada por marcas negras de queimaduras. Ele, não. Sua pele era alva como leite, e provavelmente medicada com tal. Faryeh sequer se lembrava da última vez da qual provou daquele líquido, enquanto em suas mãos havia um cálice feito de ouro, e ele o mexeu um pouco antes de falar.

 — Qual o seu nome, meu jovem?

Ele engoliu em seco. Estava sendo avaliado dos pés à cabeça, e o resultado não era bonito.

— Faryeh. Faryeh das Cinzas.

— Um órfão de Guerra?

— Sim. — Suspirou pesaroso. — Meus pais faleceram na invasão da cidade baixa.

E as memórias me aterrorizam até hoje.

O rei apenas continuou com aquele sorriso secreto, como se estivesse avaliando uma mercadoria interessante da qual teria que pagar bem pouco. Como se ele precisasse pagar algo no reino sendo o Rei de Fogaréu.

— E estas marcas, meu jovem?

— De nascença, Vossa Majestade. Meus pais diziam que vim ao mundo com elas, e sairei dele com elas.

— Não lhe  incomodam?

Aquelas perguntas eram estranhas, mas quem era ele para refutar uma pergunta do soberano? Ele estava curioso demais para que fosse apenas uma visita real comum. Estava começando a desconfiar que ou era uma brincadeira de mau gosto, ou Faryeh estava ali para ser morto. O motivo, ele não fazia a menor ideia.

— Um pouco. Os olhares machucam mais.

— Não há ninguém mais que lhe olhe com gentileza?

Encarou os pés. Havia alguém, mas... Do que adiantava relembrar os mortos?

— Foi há muito. Meu irmão.

Aquela pequena informação pareceu entreter o velho, que se aconchegou mais em seu trono e o encarou com uma expressão divertida. Como se ele soubesse de algo que Faryeh não. E aquilo o irritou um pouco. Pessoas ricas eram sempre condescendentes com pessoas de sua condição. Ele não era mais esperto só porque tinha nascido em berço de ouro.

— Ele não se encontra mais entre nós?

— Acredito que não. Ele foi para a Guerra, senhor.

— Vossa Majestade! — um dos guardas o corrigiu, e Faryeh endireitou a coluna no processo. Era difícil, aquela vida de realeza. Ter que seguir regras e condutas e ser absolutamente perfeito. Nunca conseguiria se acostumar com aquilo.

— Ele foi para a Guerra, Vossa Majestade — corrigiu-se, e o guarda assentiu. 

— Perdeu a vida nela?

— Sim. Um colega de seu batalhão me disse que ele perdeu a vida explorando o território inimigo. Como grande parte do exército o fez, não tenho motivos para acreditar que meu irmão tenha sido uma exceção à regra.

— Não coloca fé na força de seu irmão?

— Claro que coloco. Mas vi a desgraça que aqueles demônios trazem... Gostaria de pensar que sim, meu irmão está longe e feliz, mas a cada dia que passo nesta Terra percebo que não existe essa coisa chamada gentileza. Ehre o era demais para este mundo.

O homem murmurou, satisfeito.

— O rapaz é sagaz. Com alguma ajuda, quem sabe, Ehre... Ele daria um bom herdeiro.

Os olhos de Faryeh se arregalaram quando as portas do lado se abriram, e uma voz profunda, mas muito familiar, disse com um sorriso:

— Tenho certeza de que Faryeh não irá decepcioná-lo, Vossa Majestade.

— Ehre! — Não era possível. Seu irmão morreu na Guerra. Não? Faryeh correu até o mais velho, os dedos tocando as roupas alvas e limpas e caras. — Está vivo!

Era Ehre, e ao mesmo tempo, não era. Seus trajes eram elevados para a classe social deles, as robes também brancas e uma pequena coroa de prata em seus cabelos, que estavam mais compridos desde a última vez que os vira, quase tão longos quanto os de Faryeh. O dele estava enfeitado com pequenas fitas douradas e acessórios de ouro e prata. No seu pescoço, colares desciam até a cavidade de sua roupa, e anéis com pedras coloridas decoravam seus dedos. 

Mesmo bem-vestido, a primeira reação de seu irmão foi abraçá-lo, e por um momento, Faryeh perdeu-se em memórias. Era seu irmão que estava ali, vivo, depois de todos esses anos procurando por algo familiar e não encontrando. Apesar de todo o cheiro almíscar dele, ainda conseguia sentir vagamente o de cinzas, o amargor da fornalha. Até mesmo a forma que se agarrava a si, com o mesmo afã e mesmo carinho era igual. Era mesmo seu irmão, e nada mudaria aquele fato.

Ehre parou para observá-lo. Sentiu vergonha de seus membros magros e flácidos, de sua barriga que ainda roncava. Apenas sua altura era considerável para a sua idade, mas Faryeh era um rapazote franzino e feio, enquanto seu irmão era um homem forte e parrudo, pronto para liderar um exército.

— E você também. — Ele sorriu para ele, que sentiu um pouco mais de paz. — Já é quase um homem feito. Descobri o que houve com nossos pais, e fiquei preocupado que tivesse o perdido também, Faryeh.

— Ehre... — ele murmurou, afundando o rosto em seu pescoço, para se recordar de seu estado. — Ehre, estou imundo! Vou lhe sujar! — O rapaz deu dois passos para trás, preocupado.

— Não se preocupe. Não há lugar no mundo que eu prefira estar que não nos seus braços, Faryeh.

Ele correspondeu ao abraço, sentindo lágrimas quentes nascerem em seus olhos, mas a moça que vinha atrás de Ehre tinha uma expressão de nojo no rosto. Ela também vestia vestes brancas e uma saia rodada, cheia de tule por debaixo para aumentar o volume. Em suas mãos, um leque branco e dourado, combinando com seus cabelos loiros e a diadema em sua cabeça.

— Argh! Que cheiro vil é este? — Ela virou o leque para si, escondendo o rosto, enquanto o de Faryeh esquentava. Ehre soltou uma risada selvagem, que pareceu ofendê-la.

— É o fedor de Faryeh. Tenho certeza de que sairá com um banho ou dois.

Ouviu a mulher murmurar:

— Nem toda a água termal do castelo irá acrescentar-lhe nobreza, caro Ehre... — Estava acostumado a ser xingado, mas Ehre pareceu irritado com ela. Ele se virou rapidamente para a moça, com um sorriso tranquilizador.

— Minha querida Princesa Leise, terá que se acostumar. Este é Faryeh, meu irmão. — E com um sorriso, anunciou:

— O príncipe herdeiro.


Que reviravolta, não é? Você acordar com um banho de fezes, à tarde, tomar banho de ervas??? Realmente, não é todo o dia que acontece! Parece que é o destino...

E você, qual é o seu sabonete e shampoo favoritos? Eu certamente gosto de sair bem perfumadinha do banho com meu sabonete dove de amendoas!!

Lembrando que dá pra ler adiantado no meu apoia.se e no meu site!

Nos vemos na sexta,

Lacie

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Lacie

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#lgbt #sincronicidade #synchronicity #CLAMP #bl #boyslove #yaoi #tragedy #romantasy #gay

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