Me devolva!

  

Um Convite Irrecusável

Quatro anos haviam se passado, Sachiko agora tinha 29 anos e vagava sem rumo pela cidade... Toda aquela agitação, as vozes, os sons dos carros, as luzes da noite, tudo aquilo parecia novo para ela após sua recente saída da prisão.

Agora, coberta de suor, com a boca seca e o estomago embrulhado, a mulher foi correndo em direção a um beco escuro para escapar de todos aqueles estímulos desagradáveis. Ela não podia ignorar a sensação de que estava sendo perseguida e observada por onde fosse.

-... Merda!- Ela disse enquanto socava a suja parede de concreto.

Sua respiração estava ofegante. Ela se sentia como um animal acuado. Era como se todas as pessoas que passavam pela rua fossem um inimigo potencial.

A sensação era sufocante, durante o dia ela havia feito o seu melhor para evitar a presença das pessoas na rua, mas era Tokyo, portanto, impossível não se deparar com aquela massa frenética de vários trabalhadores engravatados correndo por aquela cidade cinza de um lado para o outro.

Sua náusea se tornou insuportável de superar, fazendo-a vomitar ali mesmo.

Ainda ofegante ela permaneceu ali com os olhos fechados, se acalmando, o que aos poucos foi aliviando sua sensação de paranoia generalizada.

- Nossa você esta um lixo. –

Foi quando uma voz estranha a fez acordar de seu estado de quase relaxamento. Sachiko arregalou os olhos e então se viu cercada por homens altos engravatados e mal encarados.

-... Mas que porra?!-

De onde eles tinham brotado? Ela olhou para o outro lado, se preparando para correr e lutar quando a sombra de um carro preto surgiu atrás de todos os engravatados.

Sachiko não pensou duas vezes e partiu para cima do primeiro que estava na sua frente como um animal selvagem, socando-o em cheio no rosto... O homem recuou com o impacto mas não caiu, pelo contrario ele revidou rapidamente com outro soco, do qual a agora ex presidiária conseguiu desviar por pouco.

Os outros homens rapidamente fecharam o cerco em volta dela, alguns mascarados, outros com tacos de baseball, todos formando um circulo esperando sua vez de bater.

Sachiko aguentou como pode conseguindo derrubar três deles durante aquela cena de violência generalizada, mas eles eram muitos. Enquanto tentava derrubar mais um com um chute, ela foi surpreendida por trás por um golpe de barra de ferro.

Já ensanguentada por ter tomado alguns golpes, a barra atingiu suas costelas fazendo a urrar de dor, mas mesmo assim não sendo o suficiente para derruba-la.

Aproveitando o momento de fraqueza enquanto Sachiko se encolhia, um segundo homem lhe desferiu uma rasteira, finalmente derrubando-a no chão como uma boneca de pano.

Exausta mas ainda consciente Sachiko tentou se levantar, sendo teimosa demais para se dar por vencida ela se preparava para levantar quando um dos homens pulou sobre suas costas e torceu seu braço para traz, imobilizando-a no asfalto.  As juntas do seu braço estalaram quando o mesmo foi virado para trás, causando uma dor lacerante. Quando achava que estava tudo terminado uma voz feminina veio em direção do carro preto.

- Chega rapazes. Eu Já vi o suficiente. -

Os homens então pararam imediatamente o que estavam fazendo, e se afastaram, dando espaço para uma mulher de cabelo curto e batom vermelho descer do carro e passar entre eles em silencio.

- Impressionante. - A mulher de batom deu uma única palma e sorriu com um ar de satisfação. – Não é qualquer um que consegue resistir tanto tempo aos meus homens treinados, principalmente uma mulher. -

Exausta e ainda no chão, Sachiko apenas arfava por ar em resposta, sem entender o que diabos estava acontecendo.

-Não se lembra de mim, querida?-

Querida... Sachiko logo lembrou na hora de quem se tratava, apesar de não lembrar mais do nome, ela sabia que era aquela mulher que havia visitado ela na prisão há quatro anos. Ela estava diferente, parecia um pouco mais velha e agora tinha uma mecha de cabelo grisalho do lado esquerdo.

-Sabe... Foi difícil te achar. Meus homens te procuraram o dia todo, mas você como uma boa gatinha de rua, soube despista-los muito bem. –

Então seu estado de paranoia no fim, serviu apenas para atrasá-los. Ótimo, grande coisa.

A mulher então se abaixou próximo a garota ensanguentada e continuou.

-Me desculpe por isso. Mas eu precisava testar se valeria a pena investir em você, ossos do oficio sabe?- Ela disse casualmente enquanto acariciava a cabeça de Sachiko- Pobrezinha... Você pode ser boa, mas sem o treinamento certo, não vai chegar muito longe... –

-Vai se ferrar... – Sachiko respondeu ofegante.

-É... Pelo visto temos que cuidar desse seu linguajar também. Umas aulas de etiqueta iriam ajudar bastante no seu caso... Sabe, Eu vim vê-la pessoalmente para perguntar de novo... Você gostaria de trabalhar para mim?-

-Você é maluca?! E porque eu ia querer isso depois dessa surra?-

-Porque sua outra opção é definhar enquanto procura por outro emprego que ninguém vai querer te dar. - A mulher disse com um sorriso cruel no rosto. – Eu sou sua melhor aposta.

Sachiko não pensou duas vezes.

-Vai se ferrar!-

-Hmm... Isso de novo?- A mulher disse parecendo decepcionada. – Que vocabulário mais raso... Mas tudo bem, a maioria é como você no começo... Orgulhosos e de péssimos modos. - Ela se levantou e deu as costas à outra mulher ensanguentada no chão.

-Quando você aprender que seu orgulho não enche barriga venha me procurar. –

A mulher mais velha foi embora, mas não sem antes deixar para traz um cartão de visitas. Os homens seguiram na até seu carro preto que desapareceu rapidamente na noite sem fazer barulho.

Sachiko gemeu e rolou no chão, procurando uma posição menos dolorosa, mas tudo latejava.

Esticando o braço dolorido, ela pegou o cartão jogado no chão pensando apenas uma coisa: Vingança.