Me devolva!

Perguntas e um novo começo

Na mesa havia seis mulheres, todas altas e fortes, comendo e conversando naturalmente menos a de cabelo curto, essa que havia recebido Sachiko na porta aparentemente era a encarregada por cozinhar e tomar conta da casa.

Sachiko estava tão feliz ao saborear a sopa que havia se esquecido da presença das outras. Tinha gosto de comida de verdade, era completamente diferente da comida da prisão.

-Então... Er. Sachiko san? Como é a chefe?- Uma delas perguntou, bastou isso para todas as outras prestarem atenção na conversa. Sachiko engasgou e tossiu um pouco ao notar que agora ela era o centro das atenções.

-Hm... Depende? Do que exatamente você quer saber?-

-De tudo! Não é qualquer um que tem contato com a chefe. A maioria de nos nunca falou com ela. - A mulher disse enquanto as outras concordavam com a cabeça.

-Como assim?- Sachiko disse, mostrando sua confusão de forma transparente. Então ela era a única dali que havia sido visitada na prisão e sido testada por ela? – Eu pensei que todas vocês a conheciam?-

Todas então começaram a gargalhar.

-Acho que você ainda não entendeu com quem você estava falando naquela sala, garota. Ela não é uma chefa normal, ela é A Chefe!- A mulher disse rindo enquanto Sachiko continuava sem entender.

-Seguinte, a mulher é a chefe dos dois clans que comandam essa região, ela é peixe grande!- Outra respondeu.

- Então... Quem foi atrás de vocês na prisão?-

-Os capangas dela ué. - A mulher parou para molhar a garganta com um suco e depois continuou- Dizem que ela só vai visitar gente importante.

-Ah... Entendi... – Sachiko mentiu.

-Aff, eu odeio essas novatas! Olha aqui todo mundo é peixe pequeno garota, inclusive você. Ela só foi te visitar na cadeia porque gostou da sua cara, não se engane com isso. - Outra disse parecendo estar irritada. - Ela sempre checa a ficha de quem ela acha que tem potencial pra contratar. Ela só gostou do seu rostinho bonito, então não vá se achando!- Ela disse enquanto se levantou da mesa com um baque, indo embora para seu quarto.

-Não liga pra ela... Ela ta assim porque perdeu a namorada pra chefe, a ex dela foi uma das escolhidas a dedo por ela também... -

-O que aconteceu com ela?- Sachiko perguntou.

-O mesmo de sempre. A chefe foi com a cara dela, pagava pra dormir com ela e depois de ganhar uma grana em cima disso a garota sumiu. –

Sachiko ficou quieta processando a informação na sua cabeça enquanto tomava mais um gole da sopa.

-Todas são do mesmo jeito, altas e com o cabelo parecido com o seu. Dizem que ela faz isso pra compensar a morte de alguém que ela gostava ou algo assim... –

-Besteira! Dizem que ela matou o marido também!- Outra interrompeu. – Mas eu não acredito nisso não!-

Sachiko então se levantou da mesa. –Obrigada pela comida. Eu vou pro meu quarto agora. -

-Ei, mas você não respondeu a minha pergunta!-

-O que você quer que eu responda?- Sachiko respondeu no meio de um suspiro cansado- Ela parece sofisticada, cabelo curto, escorregadia... -

-E o que mais?-

-Mandona. Boa noite pra vocês. - Sachiko disse enquanto seguiu para seu quarto, deixando todas decepcionadas pela sua descrição genérica da mulher.

Chegando ao seu novo quarto, ela jogou seu corpo cansado e dolorido na cama com a roupa que estava, cobrindo os olhos com o pulso.  “Aonde que eu fui me meter?” Ela se perguntou enquanto soltou outro suspiro cansado.

Ela adormeceu, o tempo passou rápido mas mesmo assim, certas coisas não mudavam, com seu corpo ainda acostumado com a rotina da prisão, Sachiko acordou cedo no dia seguinte para começar sua rotina de treino.

Ser acostumada a brigar na rua de vez em quando era uma coisa, mas ser treinada em artes marciais era algo completamente diferente e seu corpo podia sentir a clara diferença.

...

Os dias sem significado foram se repetindo até se tornarem meses, pouca coisa havia mudado em sua rotina: Acordar, arrumar a cama, comer treinar, tomar banho, comer novamente e dormir. Entre um dia e outro Tojo aparecia no alojamento de carro para leva-la até Naomi e era isso.

Com o tempo, a intimidade entre Sachiko e a chefe havia aumentado, apesar de ainda agir de forma subserviente para agrada-la, a relação que ambas tinham já não era tão fria. “Confiança” era uma palavra muito forte para se dizer que se passava entre as duas, ambas eram mulheres assombradas pelos seus próprios passados e cicatrizes, mas com o tempo Sachiko ficou intima o suficiente para poder visita-la em seu quarto em sua enorme mansão quando era chamada.

Hoje era um desses dias, ela havia sido avisada pelo celular novo que Tojo iria leva-la novamente para a casa de sua chefe.

-Oi Saa chan!-

O homem insuportável disse como de costume, esperando-a na frente da casa com o mesmo sorriso amarelado de sempre. Ela odiava esse apelido, e o homem sabendo disso continuava a chama-la assim de propósito para provoca-la.

-Tudo pronto?-

-Eu sempre estou pronta. - Ela respondeu secamente enquanto ajeitava sua roupa preta.

-Do jeito que a chefe gosta! Pontual como sempre, heheh!- Ele disse enquanto abriu a porta do carro preto para ela entrar.

-Já faz quatro meses, hm?- Tojo puxou assunto enquanto dirigia.

Sachiko olhava a paisagem pela janela -... Já?- Ela respondeu. Desde a prisão sua noção de tempo havia se transformado em algo estranho, acostumada a viver literalmente um dia de cada vez, lembrar-se de datas se tornou algo difícil para ela.

-Sim, sim! E os negócios estão indo muito bem!-

-... E o que isso tem a ver comigo?- Ela resmungou.

-Com mais dinheiro entrando, fica mais fácil construir mais estabele....estebeleu...-

-Estabelecimentos?-

-Isso!- Ele riu- Estabelecimentos! Então acho que em breve se der tudo certo você já vai trabalhar. -

-Tomara que sim, não aguento mais só ficar treinando sem ganhar nenhum centavo. –

Uma hora de viagem e ambos já haviam chegado aos portões da enorme mansão branca rodeada de câmeras cães e seguranças. O carro parou na garagem como de costume e Sachiko desceu.

-Te vejo depois, Sa chan!- O homem acenou de dentro do carro e depois colocou os pés em cima do volante para esticar as pernas e tirar um merecido cochilo. Sachiko não respondeu e foi caminhando em direção ao caminho que sempre fazia.

Enquanto caminhava pela enorme entrada, ela pode ver ao longe uma movimentação estranha na casa, as empregadas pareciam andar de um lado para o outro procurando por algo e ao passar por uma das arvores algo chamou sua atenção, um arbusto estava se movimentando.

Sachiko não era de fazer perguntas ou espionar, mas dado a estranheza da situação ela resolveu olhar o que tinha ali.

-Boo!- Um par de mãos minúsculas saiu do arbusto, surpreendendo-a.

-Mas... O que?!-