Me devolva!

 

Relações plásticas

Sachiko sentiu um frio na espinha ao ouvir a historia da própria Naomi, mesmo assim tentou se aproximar para consola-la, mas a mulher se afastou. Conhecendo-a, ela jamais admitiria que matou o próprio marido e isso seria o Maximo que ela iria admitir que havia feito.

O sorriso da mulher já tinha murchado a essa altura. -A pior parte disso foi dormir na mesma cama que ele, eu sempre gostei mais de mulheres e ainda sim eu tinha que me submeter ao seu toque nojento. -

Naomi ficou em silencio por alguns instantes rangendo os dentes, a mulher que antes agia como uma baronesa de ferro agora parecia pequena e frágil. Lembrar-se de tudo aquilo claramente ainda lhe causava dor.

-Mas as dores que eu senti que eu ainda sinto todo o ódio e o rancor, me fizeram a mulher que eu sou hoje. Eu consegui unir os dois clans e fazer mais dinheiro do que aquele imprestável jamais conseguiria. No fim eu venci. –

Sachiko se perguntava se ser uma mulher quebrada por dentro mas com dinheiro para esbanjar em mulheres e outros luxos era considerado uma vitória. Bem provavelmente era bem melhor do que ser pobre e quebrada por dentro assim como ela mesma. No fim ela sabia que não era a pessoa certa para julga-la afinal ela se aproveitava em parte de tudo isso ao ser seu mais novo brinquedinho.

Ela não era muito diferente de Naomi, no fim das contas relações descartáveis eram mais confortáveis para ela também, intimidade demais e afeto a assustava. Quatro meses vivendo naquele dormitório e ela não havia feito amizades com ninguém, Sachiko falava apenas o básico e fazia poucas perguntas. Desde a prisão ela havia se fechado dentro de si mesma e ainda não havia conseguido a coragem de achar o caminho de volta.

-O pior golpe sempre vem de quem esta mais perto... - Sachiko disse baixinho.

-Sim. - Naomi disse, tentando recuperar a compostura ao arrumar os cabelos. – Somos parecidas, Murakami san. Ambas machucadas, ambas jogando o jogo, mas sem se entregar realmente para ninguém. –

A mulher mais velha se aproximou de Sachiko e colocou sua mão sob a dela.

-Estou errada?-

-Certa até demais. - Sachiko admitiu com um sorriso amargo.

-O amor no fim é só um jogo para pessoas como nós, enquanto for divertido vale a pena, se não for mais o melhor é achar outro parceiro pra jogar. Assim se ganha sempre.-

Naomi disse parando de fumar um pouco para tomar outro gole de vinho. Foi então quando o estomago de Sachiko embrulhou subitamente, seja pelo teor da conversa ou pelo cheiro de cigarro misturado com o vinho, à mulher pode sentir tudo voltando para sua boca.

-Murakami san?- Naomi perguntou em tom de preocupação ao notar a mudança brusca na postura da mulher mais nova, que agora estava com a mão sobre a boca.

-Urgh... Eu acho que vou... -

Naomi se afastou dela e foi em direção à janela mais próxima, abrindo-a, Sachiko foi correndo em direção à mesma para respirar ar puro. Após arfar no lado de fora por alguns minutos o enjoo passou, ela olhou para baixo, aliviada por não vomitar dali de cima quando avistou uma das empregadas brincando com Aiko.

Ambas sorriam com um sorriso puro, pareciam se divertir aos montes ao sol enquanto ela e Naomi estavam presas naquele quarto escuro falando sobre seus problemas.

-Melhor?- Sachiko se assustou ao sentir a mão fria de Naomi bater de leve em suas costas.

-Sim. Bastante. – Ela admitiu. –Ela é linda não é?- Naomi disse apoiando-se sobre seus cotovelos enquanto olhava sua filha brincar iluminada pelo sol da manha. –Posso não ser uma boa mãe, mas pelo menos... Apesar de tudo, eu não consigo odia-la. -

Sachiko suspirou aliviada. –Acho que nenhuma criança mereceria isso. –

Ambas ficaram em silencio por alguns minutos observando a cena pela janela até Naomi interromper a cena, batendo uma única palma.

-Acho que já esta bom por hoje, suponho que não tem mais clima para ficarmos juntas depois dessa conversa e eu não quero você encarando minha filha por mais tempo que isso. Considere-se dispensada. –

Sachiko sorriu e beijou a mão da patroa com cuidado, pegando-a de surpresa. –Sim senhora. – Dizendo isso ela foi em direção à cama pegar as suas roupas espalhadas pelo chão, deixando Naomi com as bochechas levemente coradas.

Enquanto abotoava sua camisa, Sachiko se sentiu abraçada gentilmente por trás.

-E... Obrigada. Por me ouvir sem me recriminar por isso. - Naomi disse afundando a cabeça nas costas da mulher mais nova.

Ambas sempre conversavam sobre coisas casuais quando se encontravam, sendo essa a primeira vez que ela havia sentido a chefe se livrar de sua armadura para se mostrar em uma posição tão vulnerável.

No entanto justamente por serem tão parecidas, essa proximidade não era algo que a incomodava.

- Não tem problema. Todos têm algo na vida do qual não nos orgulhamos. Uns mais ou menos do que outros. Você leu minha ficha então deve saber que eu também não sou exatamente um exemplo a ser seguido... –  Sachiko disse com um sorriso amargo no rosto.

Depois de vestida Sachiko se despediu de Naomi e saiu do quarto, ao descer as escadas devagar ela se deparou com Aiko brincando com um dos cães enormes que vigiavam a casa, o rottweiler estava de barriga para cima deixando-a acariciar sua barriga como um filhote, isso é até notar a sua presença, depois disso o animal se levantou imediatamente mostrando os dentes, fazendo a mulher congelar.

-Bosco Feio! Senta!- Ordenou Aiko batendo o pé no chão.

O cão era maior que a própria menina e grande o suficiente para servir de montaria, no entanto ele obedeceu prontamente ao seu comando, se sentando no chão.

Aiko se aproximou de Sachiko, encarando-a com olhos curiosos. –Então você que é a nova amiga da mamãe?- A garota disse inocentemente, sem saber que estava deixando a mulher com vergonha, procurando um buraco para se esconder.

“Amiga? Era isso que diziam pra ela?!”

-Er... Sim, sim! Sou eu mesma!- A mulher respondeu com um sorriso nervoso cravado no rosto. –Pelo jeito que a mamãe olhou pra você, Eu pensei que eram namoradas. –

Sachiko travou e suou frio. “Essas crianças de hoje em dia não são fácil...!”