Me devolva!
Inocência
Anos de relações confusas, sentimentos contraditórios e paixões platônicas cobertas por um véu de completa ignorância levaram Sachiko a descobrir que o amor entre mulheres poderia existir realmente apenas depois de ser presa, quando ela foi finalmente obrigada a lidar com esses dilemas sozinha, sem poder fugir.
E agora, uma criança de apenas quatro anos estava diante dela já a questionando sobre esse assunto com uma clareza que muitos adultos não possuíam.
-Er... Não... Eu... - Sachiko abria a boca, mas não conseguia formar palavras certas para escapar da situação.
-Tudo bem, moça. A mamãe disse que existem garotas que namoram outras garotas. Ela disse que não tem problema. –
Fazia sentido a criança ser tão perceptiva, considerando a mãe que tinha e a quantidade de mulheres que ela deve ter visto entrando e saindo do seu quarto, em algum momento ela começaria a fazer perguntas, Sachiko apenas não imaginava que Naomi daria esse tipo de ensinamento tão cedo a sua filha, ou que ela aceitaria isso tão bem.
-Sua mãe esta certa... - A mulher se aproximou e acariciou a cabeça da criança - Mas, não. Somos apenas amigas... – Sachiko disse tentando esconder seu aparente nervosismo.
-Mas mamãe nunca deixa ninguém entrar no quarto. –
“Droga, que criança insistente. O que eu faço pra sair dessa situação?”
-Estávamos conversando sobre algo importante, coisas de adulto, você não ia entender. - Sachiko disse provocando-a. Era sua ultima cartada.
-... A noite toda?-
-Sim, sim. Foi... Er. Uma conversa bem longa. –
- Nossa. Você deve estar com sede!- Aiko então sorriu e pegou Sachiko pela mão. – Vem comigo! Eu te dou um copo d’água!-
-Aiko sama, sua mãe já não avisou para não incomodar as visitas?- Disse uma das empregadas que se aproximava enquanto arrumava seu avental. – Me desculpe Murakami san, ela esta naquela fase de fazer perguntas. –
“Otimo! Salva pelo gongo!”
-Não, não tem problema. -Sachiko mentiu educadamente. –Eu vim lhe fazer companhia enquanto o senhor Tojo não vem. – Disse a empregada enquanto a criança voltou sua atenção para uma borboleta laranja. - Obrigada. –
Mesmo frequentando sua casa, Naomi fazia questão de não deixa-la sozinha. Precaução ou paranoia, a mulher de cabelos negros se sentia constantemente vigiada naquela mansão assim que se afastava dos braços de sua patroa.
Sachiko suspirou fundo enquanto observava a criança correr atrás da borboleta.
-... Ela é cheia de energia não é?- Disse a empregada enquanto quebrava o silencio com um riso abafado. – Sim. Só de olhar eu já me sinto cansada. – Sachiko brincou.
-Gosta de crianças?-
-Hm... Não muito. Não sei como lidar. – A mulher de cabelos negros disse enquanto coçava o queixo em um tom pensativo.
-Eu adoro. A melhor parte do meu trabalho é cuidar dela. –
-Da pra notar. - Sachiko sorriu e começou a mexer no seu celular em silencio para matar o assunto.
-Ah!- A empregada gritou, surpreendendo-a. – O que foi?!-
-Esse jogo!!! Eu adoro! Como você conseguiu chegar num level tão alto??-
-Ah, eu só tenho bastante tempo livre para gastar procurando por itens... -
-Murakami San! Posso te adicionar para jogarmos juntas? Eu adoraria ter um parceiro nesse jogo!- A mulher disse ao se aproximar com enormes olhos brilhantes, com uma expressão de empolgação daquelas, era difícil soltar um não.
-Bem, acho que não tem problema. Aqui, vou te passar o meu contato... –
Logo em seguida o portão gradeado preto se abriu, e Tojo começou a acenar para a Ex-presidiária.
- Saaa chaaaaaan!-
O homem buzinou com a outra mão no volante, apressando-a.
Sachiko coçou sua cabeça com raiva. -Urgh que homem barulhento... Eu já vou seu idiota!- Ela reclamou enquanto ajeitava a gola de sua camisa preta.
-Obrigada, Murakami san! Depois do trabalho nós vemos no jogo!-
-Certo. - Sachiko acenou um adeus com as mãos enquanto seguiu para o carro preto. Após chegar em seu quarto e tomar um merecido banho quente, ela finalmente fez como o de costume e checou seu celular.
O tempo passou e entre uma ida e outra até a mansão de sua chefa, Sachiko pegou o costume de jogar e conversar com a mulher toda noite pelo celular. No começo a proximidade a deixava um pouco incomodada, mas depois de algum tempo essa se tornou a hora mais divertida da sua rotina. Não que o sexo com Naomi fosse ruim, muito pelo contrario, mas mesmo com as novidades e brinquedos que eram apresentados, com o tempo tudo passou a ser apenas mais uma obrigação a ser cumprida.

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