Me Devolva!
Hannya
Naomi esperou pacientemente até Sachiko ir embora, a mulher tomou um banho frio demorado para esfriar os pensamentos e colocou seus melhores brincos para sair do seu quarto.
Ela ainda estava de péssimo humor e queria resolver esse problema logo, ao descer as escadas Naomi se deparou com Aiko.
-Mamãe, mamãe! Olha o que eu fiz!- Disse a criança sorridente de forma empolgada, mostrando um desenho mal feito de uma mulher de preto uma menor e outra vestida de empregada feita com giz de cera em uma folha de papel branco.
-Agora, não querida, Mamãe tem que resolver um problema. - Naomi disse olhando rapidamente para o desenho e seguindo em frente. -Porque você esta de mascara?- Disse a criança, seguindo-a.
-Aiko! Agora não!- Naomi disse levantando a voz. –Vá brincar em outro lugar, sim?- Ela disse soltando um olhar furioso para a criança, que recuou em resposta e parou no meio do caminho, soluçando com os olhos cheios d’água.
Enquanto caminhava pela casa, os empregados podiam sentir que algo estava errado só pelo jeito de caminhar de sua patroa. Seu andar era delicado e gracioso, mas agora eles podiam escutar o barulho dos seus saltos de longe. Por onde Naomi passava todos se entreolhavam em silencio, como que em sintonia, nervosamente se perguntando qual seria a cabeça que iria rolar.
A casa era grande demais para ir procurar por onde a empregada andava, então Naomi sacou seu celular e lhe mandou uma mensagem.
“Hanajima san. Estou te esperando em minha sala de reuniões, venha logo.”
Sem saber o que esperar a empregada foi rapidamente ao encontro da sua patroa com um péssimo pressentimento.
...
Na frente da porta preta, Hana respirou fundo para controlar seu nervosismo, ela nunca havia sido chamada para sua sala. Algo parecia estar fora do lugar. Depois de alguns momentos controlando sua respiração, a empregada se muniu de seu melhor sorriso e bateu na porta.
-... Com licença, a senhora me chamou?-
-Entre. - Naomi disse.
A sala branca e retangular não tinha muitos adornos, parecia tão fria quanto os olhos da mulher que a observava do outro lado da enorme mesa preta, sentada em uma das cadeiras de couro.
A única coisa que enfeitava a sala era um quadro enorme de uma mascara Hannya vermelha que ficava atrás da cadeira onde Naomi se sentava. Os olhos enormes da mascara assustadora pareciam encara-la de volta.
-Oh? Vejo que gostou do meu quadro. Bonito, não?- Naomi disse casualmente com um sorriso nebuloso.
- Interessante como o budismo define que a origem desse demônio são oriundas de emoções tão humanas.-
Hana permaneceu timidamente em silencio, ouvindo-a enquanto observava aterrorizada a mascara dotada de olhos e dentes igualmente ameaçadores.
-Sentimentos oriundos do rancor humano causados por ciúmes paixão confusão e ódio transformam homens, mas principalmente mulheres em seres que respiram vingança em certas circunstancias, não é verdade? É isso que essa máscara aqui representa, voce bem deve saber. –
Naomi então se levantou e começou a andar em direção a empregada.
-Vou ser direta com você, Hana san. Se minha filha não fosse tão apegada a você, eu já a teria demitido, mas não pense que isso ira me impedir de fazer isso no futuro caso você ignore meu aviso.- Hana arregalou os olhos, se sentindo confusa e ao mesmo tempo assustada.
-M-mas senhora? Porque isso tão der repente? O que eu...?- Disse a empregada com nervosismo estampado em sua voz, sua cabeça girando por dentro na tentativa de se lembrar de algum erro grave que havia cometido até ser interrompida por Naomi.
- Esse é meu único aviso. Então preste bem atenção. Eu não gosto de sua proximidade com Murakami san. Não me importa como você vai fazer, mas quero que se afaste dela, entendido?-
-Ah... E- Então era isso?- Hana falou aliviada, limpando o suor da própria testa enquanto os olhos afiados de sua patroa analisavam todos os seus movimentos.
-Sim. Apenas isso. Espero que você me leve a sério e que possa cumprir essa ordem, do contrario é melhor pegar suas coisas e ir procurar outro lugar para trabalhar. –
-Sim senhora! M-me perdoe... Eu preciso muito desse emprego!- A mulher disse apertando a barra da saia de seu uniforme de empregada tentando segurar seu nervosismo.
-Então estamos conversadas. Dispensada. – Naomi disse friamente enquanto observava Hanajima deixar a sala.
A empregada ainda podia sentir seu coração pulando em seu peito. Por um momento ela pensou que Naomi a iria ameaçar com muito mais do que uma demissão. Ela teve sorte. Pelos rumores que se espalhavam pela casa e suas frequentes reuniões com homens da yakuza, ela tinha certeza que aquela mulher perigosa poderia sumir com ela a qualquer momento sem deixar rastros se assim ela desejasse.
E tudo isso por quê? Ciúmes?
Seria cômico se não fosse trágico que seu emprego de vários anos naquela mansão estava sendo ameaçado pela presença de uma mulher que apenas frequentava o local recentemente para agir como o brinquedinho da dona da casa.
Hana olhou para seu celular e soltou um suspiro triste. Sachiko apesar de difícil de aproximar inicialmente era uma ótima companhia, mas apesar de tudo... Não valeria a pena jogar seu salário fora por causa disso.
Era uma pena, mas melhor era se afastar. Como ela faria isso?

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