Me devolva!
Contagem regressiva
Coberta de lama sangue e cacos de vidro, Naomi começou a correr enquanto olhava desesperadamente ao seu redor a procura de algum lugar para se esconder. Ao longe ela podia escutar os homens contando e rindo entre si.
-10.-
Estava escuro, eles tinham lanternas e estavam em perfeito estado alem de estar em maior numero, persegui-la não seria nada difícil nessas condições.
-9.-
“De todas as formas que eu tinha que ir, eu não imaginava que fosse assim. Morta por meus próprios seguranças.”
Ao pensar em seus seguranças o rosto de Sachiko lhe veio a mente. Será que ela estava envolvida nisso? E sua filha?! Não. Ela tinha que sobreviver para descobrir isso sozinha.
-8.-
“Não posso desistir! Não posso desistir!”
-7.-
Ela então avistou uma rocha e se escondeu atrás dela.
-6.-
Ela começou a ouvir passos. Os desgraçados já estavam se movimentando antes mesmo de pararem de contar.
-5.-
Apesar de molhada de lama, seu sangue ainda corria quente enquanto em sua cabeça girava com vários pensamentos desesperados de como escapar dessa situação.
-4.-
Foi então que ela respirou fundo e se acalmou. Aparentemente aceitando o que estava prestes a acontecer.
-3.-
Ela então se levantou e arrumou os cabelos, se sentando em cima da pedra, cruzando suas pernas.
-2.-
Ela podia ver as luzes se aproximando. Estava na hora.
-1.-
Um dos homens se aproximou primeiro dos outros e riu.
–A imperatriz não perde a pose, nem quando encara a morte? Interessante. -
-Eu gostaria de culpar alguém por isso. Eu realmente gostaria, mas olhando para traz tudo me trouxe até esse momento. E então? Como vai ser rapazes?- Naomi respondeu com um olhar frio e o mesmo sorriso de sempre. - O homem deu um passo para trás, boquiaberto com a atitude passiva da mulher.
-Deixe de ser mole, cara! Vamos acabar logo com isso antes que a policia chegue!- Outro disse enquanto se aproximava de onde o outro havia parado.
-Você vem comigo de volta para o carro!- Disse ele pegando Naomi pelo braço, que se desvencilhou de sua mão.
-Não precisa se dar o trabalho, eu sei bem o caminho. - Ela disse andando de cabeça erguida na direção oposta que havia fugido.
-Então... É assim que vai acabar. Desculpe-me chefe.–
Sem dar nenhuma outra palavra Naomi foi acompanhada por mais três homens até os destroços do carro.
A mulher ensanguentada desfilou calmamente até que em certo momento, rapidamente se virou bruscamente e de alguma forma conseguiu se esgueirar para trás do terceiro homem que estava logo atrás dela, agarrando sua pistola e tomando-a com força, enquanto girava o braço do mesmo para trás, imobilizando-o.
-Desgraçada, ela vai reagir!- O homem a esquerda retrucou, avisando aos outros, que no mesmo momento sacaram suas pistolas.
Com um olhar agora selvagem estampado em seu rosto, à mulher usou o corpo do terceiro homem, agora desarmado como escudo humano para escapar das balas. Arrastando-o com a pistola apontada para sua cabeça e usando sua altura ao seu favor, Naomi se escondeu atrás do homem alto que agora suava frio.
-Calma senhora! P-por favor. Não atire!-
-Ah. Então AGORA eu sou senhora pra vocês?!- Naomi disse torcendo ainda mais o braço do homem, fazendo-o gemer de dor.
- Eu não faria isso se fosse você, senhora. - Disse um dos homens que apontava a arma em sua direção.
-E desde quando eu recebo ordens de um fantoche como você?!- Ela gritou coisa que não fazia há anos, se surpreendendo com o tom alterado de sua própria voz.
-Apenas uma sugestão. Abaixe a arma, o deixe ir e venha com a gente. - O homem disse com um sorriso cruel.
– Você sabe, somos uma família, não gostamos de envolver civis. -
-Eu sei bem disso. - Naomi respondeu sem entender até onde ele queria chegar com essa conversa mole.
-Nem civis, nem crianças. Mas não vamos poder garantir a segurança da sua menina com o novo chefe se ele souber que você se rebelou contra a família e escapou atirando. –
Naomi arregalou os olhos e suou frio no momento que entendeu o que isso queria dizer.
-E então...? O que vai ser? Vai se entregar e deixar a criança? Ou vai fugir atirando e deixar a menina sumir?-
Naomi franziu a testa e rangeu os dentes se sentindo furiosa e impotente, a mão que segurava o revolver com força agora tremia. Os outros homens sorriram quando com um xingamento Naomi jogou a arma no chão e soltou o braço do homem, finalmente desistindo de resistir.
-Bom. Agora continue andando, você sabe pra onde. - Disse o homem com a pistola ainda apontada para a mulher, que agora não esboçava mais reação, se sentindo totalmente derrotada.
-Vamos!!-
Outro homem empurrou-a forçando Naomi a se mover na escuridão, que apenas seguiu em silencio até o lugar do acidente. - Não da pra forjar um acidente se o corpo estiver com marca de tiros, espero que entenda. –
-Sejam gratos. Se não fosse por minha filha, vocês todos já estariam mortos, espero que entenda... – A mulher retrucou.
Chegando ao lugar do acidente e se sentando na lataria fria, Naomi ponderou enquanto olhava para o céu escuro com um olhar triste e vazio:
“Sempre perseguindo você, te procurando em outros rostos, outras bocas outros sorrisos, você sempre esteve em meu coração entre mim e todos os outros, é o seu rosto que eu mais quero ver agora. Eu não acredito em Deus e mesmo se existisse acho que depois de todo o sofrimento que causei esse seria um final justo para alguém como eu.”
Um dos homens apareceu com um galão e começou a jogar sobre ela e o carro um liquido frio e mal cheiroso.
-É isso que você merece sua bruxa velha! Virar churrasco!- Disse o homem com o braço deslocado, mas ao ver a falta de reação da mulher o homem começou a ficar incomodado.
-Não vai chorar?!-
-Pra que? Já sou experiente o suficiente para entender que isso não vai me salvar aqui. -
-Fria como o gelo não é? Vamos ver se isso vai ajudar a esquentar as coisas. -
Outro homem ascendeu um fósforo. Sua mão tinha apenas três dedos. – Te vejo no inferno. –
Naomi sorriu pela ultima vez e respondeu calmamente. –Igualmente, senhores. –
Dito isso ele deixou cair o fósforo acesso na grama, que rapidamente se tornou vermelha e quente, consumindo tudo o que estava no caminho. Inclusive a lataria do carro e a mulher que estava sentada em cima dela.
“Meu amor, minha filha, me desculpem. Vocês pertencem a um céu cheio de estrelas, um lugar longe daqui enquanto eu mereço colher tudo o que plantei.”
Todos os homens de preto ficaram em silencio observando a mulher e o carro queimarem aos sons de urros crescentes e ensurdecedores de agonia.
-Vamos embora daqui, eu não quero ter que assistir isso... - Disse um deles com um olhar de claro desgosto.
-Não. As ordens são de terminar o serviço e ter certeza que não vai ter sobreviventes. –
-Uff... Que seja...- O outro respondeu tampando os ouvidos, parecendo estar incomodado.
-O pior é que depois de tudo que ela fez, ela nem se lembrou de quem eu era... - Disse o homem de três dedos enquanto ascendia um cigarro com uma careta.
-Pra ela você devia ser só mais um que estava devendo dinheiro... Imagino que ela nunca levou para o pessoal-
-E por isso precisava cortar meus dedos?! Desgraçada!-
O homem cuspiu no chão com raiva enquanto observava a silhueta negra da mulher se contorcer por entre as chamas que agora iluminavam a noite e tudo ao seu redor.
-Vamos, Morro a cima já da pra ouvir luzes e buzinas, acho que os civis já descobriram que tem algo de errado aqui em baixo. Melhor nos separar para distraí-los. -
-Entendido, chefe. -

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