AURORA
Um lugar pra lá de estranho
Olhei ao redor, descrente. Este era mesmo o lugar? Não havia nada de mágico por perto: apenas uma parede laranja desbotada, manchada por o que parecia ser mofo. O prédio, se erguia sobre nós, e lá no alto, em um outdoor azul, li o nome: “A Lusitana”.
— “Tem certeza de que este é o lugar? Não tinha algo sobre virar à esquerda no papel?” — Pergunto a Imogen
“Não tinha. E eu sei ler, menina” — Imogen respondeu, com um olhar de lado.
“Aquela porta ali” — Baltasar aponta — “Talvez um porteiro possa nos dizer se estamos no lugar certo.”
— “Ou um fantasma pronto para nos assombrar” — diz Diego
Cutuco-o com o cotovelo — “Não se preocupe, tenho feitiços para isso.”
“Parem de tagarelar e vamos de uma vez” — a senhora diz, já caminhando para a portaria.
Sem outra alternativa, eu a segui, com os outros nos acompanhando.
Na janelinha, avistamos um homem com o rosto coberto por um jornal. A manchete, “RECESSÃO NO BRASIL”, me causa uma certa estranheza, pois não me lembro de estarmos passando por uma recessão.
Imogen se aproxima da janela e recita — “Que as sombras nos protejam dos males.”
“Sempre nos protegeram”, o homem responde em um murmúrio.
O homem se levantou da cadeira e saiu da sala. Alguns minutos depois, a porta à nossa esquerda se abriu. “Vocês devem ser da DS” — disse uma voz — “Nos informaram que mandariam pessoas para resolver o desaparecimento do objeto ilegal.”
Ele fez um gesto, nos convidando a segui-lo. Nos conduzindo por uma série de corredores, até pararmos em frente a uma porta de ferro enferrujada. Ao abri-la, era um escritório comum. O homem então se moveu para um canto e se abaixou, removendo uma das placas do piso. O que se revelou não era um solo em baixo , mas sim o início de uma escadaria que desaparecia na escuridão do subsolo.
Um odor antigo, invadiu a sala. Pelo pouco que entendo, o que é velho é poderoso. A minha mente correu para a escadaria, imaginando os objetos incríveis lá embaixo… Será que eu poderia tocá-los?
Descemos , e o que encontramos foi um lugar maravilhoso. Parecia um museu, um labirinto de salas e corredores. Como tudo aquilo podia caber no subsolo de um prédio? A única explicação que me vinha à mente era magia.
— “Bem, é aqui que me despeço.” — Ele aponta para a terceira sala à esquerda — “Esta era a sala onde o objeto estava. Divirtam-se.”
Somos deixados sozinhos naquele lugar magnífico.
— “Caramba, que lugar incrível!” — diz Félix
— “Vamos começar logo” — diz Imogen. — “Quem investiga a sala e quem colhe os depoimentos?”
— “Eu quero investigar a sala!” — Digo primeiro.
— “Eu e o Diego podemos colher os depoimentos.” — Diz Baltasar
— “Ah, qual é, cara!Você sabe que não gosto dessa parte” — retruca Diego, com um olhar fumegante.
— “Então você quer ficar sem mim? Sabe que é uma porta sem a minha ajuda” — ele diz com uma risadinha.
— “Não…” — Diego responde, baixando a cabeça.
— “Combinado. Eu, Félix e Aurora ficamos com a parte divertida; vocês dois, com a parte chata” — Imogen diz, com um sorriso maroto.
Nós nos dividimos, e meu grupo partiu em direção à sala.
DIEGO
Que pessoas esquisitas em
Baltasar pega os registros dos funcionários junto com Imogen e se vira para mim.
— “Vamos começar com quem?” — Diz Baltasar
Penso por um momento antes de responder — “Por ordem alfabética.”
— “Então tá” — diz ele, abrindo a pasta e começando a ler os documento — “O primeiro da lista é o Hugo, um dos licantropos.”
Me aproximo dele para ler o registro também.
REGISTRO N° 1
NOME: HUGO PEREIRA
IDADE : 32
ESPÉCIE: LICANTROPO
ESSE DOCUMENTO PERTENCE A DOMI
LEIA COM ATENÇÃO
O funcionário Hugo Pereira pertence à Segunda Divisão de Retenção de Objetos Mágicos Ilegais, onde exerce suas funções há aproximadamente nove anos. Sua conduta é alvo de suspeitas devido à sua aparente predileção por estátuas, sendo que o objeto em questão contém duas delas.
Realize uma investigação minuciosa.
—“Que diabos é ‘predileção’?” — pergunta Baltasar.
— “Pelo que eu entendi, significa que ele tem uma obsessão por estátuas, ele vive pegando um monte por ai, que cara estranho” — digo, fazendo uma cara de nojo.
— “E aonde seria essa divisão, em?” — Pergunta Baltasar, olhando em volta — “E deixa o cara, tem gosto pra tudo” — disse me repreendendo.
Olho ao redor, avisto uma sala com uma placa onde se lê “Divisão ROI”.
— “Deve ser ali” — respondo, apontando para a porta.
Nos dirigimos à sala. Ao abrirmos a porta, nos deparamos com um espaço de paredes marrons e chão de madeira.Várias estações de trabalho numeradas estavam dispostas pelo local.
—“O documento não tem a foto do suspeito,então teremos que perguntar por aí.” — descontente , falo — “ E nem pra colocarem uma foto, mais que preguiça em” — suspiro.
Seguimos para a estação mais próxima, onde encontramos uma mulher de meia-idade concentrada em seu trabalho.
— “Com licença, Senhora, poderia nos dizer em que área estaria Hugo Pereira?” — pergunta Baltasar.
Sem desviar o olhar da lousa, ela responde — “Na quinta”
Nos deslocamos até a estação de trabalho cinco, onde um homem de cabelos ruivos e olhos verde-escuros estava sentado. A primeira coisa que notei foi a sua mesa, que estava cheia de estátuas pequenas e variadas: animais, pessoas, objetos, entre outros.
— “Senhor Hugo, viemos interrogá-lo sobre o desaparecimento de um objeto mágico da DOMI”— diz Baltasar.
— “Não estão vendo? Estou ocupado” — ele diz, gesticulando para a sua lousa.
— Será um processo rápido. Apenas precisamos que nos informe o que fazia no dia do desaparecimento do objeto — diz Baltasar, tentando o acalmar.
— “Certo…” — suspira Hugo — “Eu ajudo vocês, mas só com uma condição. Se querem meu depoimento, terão que resolver esse caso, eu já fiz todo o trabalho pesado, só preciso de uma mãozinha.” — um sorriso desafiador surge em seu rosto. — “O que me dizem?”

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