Souta parou de ser chamado para os treinos coletivos.

Sem mana.

Sem presença.

Sem propósito.

Todos os 20 Zangões da Corte possuíam uma Relíquia Divina — artefatos que os classificavam como heróis:

Espada. Escudo. Lança.

Adaga. Relógio. Pistola.

Livro. Espelho. Katana.

Cruz. Matracas. Anel.

Flecha. Leque. Megafone.

Machado. Laço. Amuleto.

Pulseira e Tornozeleira.

…E o Pendente.

Todos estavam ocupados.

Exceto o Pendente.

Algumas ministras sussurravam:

— Deve ser o de Souta… 

— Mas até os pendentes quebram em suas mãos.

Era como se o mundo dissesse:

Você tem essência de herói… mas é inútil para o reino.

A Rainha, por sugestão da filha mais velha, decidiu dar-lhe uma função.

Faxina.

Souta aceitou.

Humilde.

Frágil.

Evitava conflitos.

E aos poucos, sua reputação virou poeira.

Só mais um homem inútil no castelo.

Madrugada.

Duas sombras escalam as muralhas.

Goblins. Rank D. 

Passaram pela segurança como fumaça.

Souta limpava janelas.

Viu os goblins se aproximando.

— Inimigos… o que eu faço?

Cansado de ser subestimado, correu.

Sem pensar.

Tentou pegar uma espada.

Ela quebrou.

Rejeitou sua mão.

O goblin sorriu.

Golpe de cajado.

Souta sangra.

Cai.

Se arrasta.

Outro goblin chuta.

Pisoteia.

Souta mal conseguia ver.

Visão turva.

Cabeça explodindo.

— Eu sou… só um faxineiro…

Os goblins riam.

Cruéis.

Até que…

Um som fino.

Agudo.

Cortante.

O sorriso do goblin engasgou.

Quebrou em dois.

Um jovem surgiu da sombra.

Gabriel Gaiden. 

Herói da Espada.

17 anos.

Armadura dourada.

Olhos firmes.

O goblin tentou reagir.

Inútil.

Foi decapitado.

Souta, no chão, tossiu sangue.

Sorriu.

— Você sabe mesmo entrar na cena, hein, moleque…