Andrew estava cansado dos seus colegas fazendo corpo mole, mas ele não estava disposto a perder os pontos daquele trabalho por culpa de ninguém. Maldita hora que fora formar trio com dois folgados. Fingiu acreditar nas mensagens sobre estarem doentes de Brian e Dylan, desejou melhoras quando seus verdadeiros desejos eram homicidas e deixou o copo pelando de quente no porta-copos do carro. Era só uma entrevista, não poderia ser grande coisa.
O motor de partida teimou três vezes, engasgando sem parar. Precisava levar o carro no mecânico, só faltava o dinheiro, ou talvez o emprego que fornecesse dinheiro. Respirou fundo, ajeitou o retrovisor e jurou para o reflexo de olhos azuis que faria dar certo.
Cayden White era podre de rico e ocupado, não gostaria de cancelar o compromisso depois de o filantropo ter aberto espaço na agenda para eles — mesmo que fossem míseros quinze minutos. Tempo é dinheiro, Andy. Seu pai sempre dizia antes de tentar o meter em algum negócio maluco diferente.
A cidade estava na correria de sempre, dirigiu por ruas abarrotadas e avenidas cheias de carros. Buzinas, taxistas sem noção e pedestres com vontade de morrer. Nova Iorque não mudava nunca, bebericou do café num farol fechado, que acabou respingando em sua calça. Uma gotinha de nada na calça social marrom, ninguém perceberia. Suspirou, seguiu viagem. O escritório da Blake & White era uma abominação de concreto espelhado como tantos outros prédios caros na cidade.
O segurança do estacionamento da empresa riu de seu carro, mas o indicou uma vaga livre entre dois carros que deviam custar uns cinco anos de salário. Pegou seu café já morno pra frio, arrumou o cabelo se olhando no retrovisor e conferiu se todos os botões do terno continuavam lá.
— É um riquinho que tem caridade por passa tempo. Tá no papo, Andy — disse ao reflexo de cabelo cacheado se recusando a ficar no lugar.
Deu uma endireitada na gravata a caminho do elevador, bebia café compulsivamente por todo trajeto até o balcão da recepcionista. Virara a noite acordado jogando RPG com seus amigos, o banho frio e as bolas de algodão com soro gelado garantiam que não parecia um maluco.
— Bom dia, no que posso ajudar? — A recepcionista loira sorria ao perguntar.
— Tenho uma entrevista marcada com o Sr. White, me chamo Andrew Harris, sou de Harvard. — Puxou a carteira de motorista do bolso, o copo de café menos de meio balançava entre suas mãos.
Ela sorriu, teclando com força enquanto lia algo no monitor. A recepcionista balançou a cabeça, alargou o sorriso e puxou um crachá para ele.
— O Sr. White vai recebê-lo no horário marcado, basta pegar o elevador até o décimo primeiro andar. Obrigada.
Agradeceu, colocou o crachá no pescoço depois de deixar o copo sobre o balcão e seguiu conforme instruído. Depois que o elevador fechou e a musiquinha ambiente já o seguia por três andares, Andrew finalmente se deu conta de que esquecera seu café para trás. Meio copo teria de bastar para manter sua mente ligada. Desceu no andar certo, o recepcionista era um rapaz simpático que o pediu para aguardar numa cadeira até que confortável. Puxou o celular do bolso e matou tempo trocando mensagens com seus amigos no discord, até que o recepcionista finalmente disse "Sr. White vai te receber agora." Andrew desejaria nunca ter cruzado aquela porta num futuro não tão distante.

Comments (0)
See all