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Rastros de Silêncio

X. Rastros da verdade

X. Rastros da verdade

Sep 30, 2025

Assim que deixaram o galpão, Wendel combinou de encontrá-los na manhã seguinte. Davi e Miguel foram instruídos a arrumar apenas o essencial em pequenas mochilas. Durante a escura e fria madrugada, os dois seguiram até a frente da casa de Wendel, onde ele já os aguardava com uma van, pronto para levá-los ao encontro de Raziel.

Com um sorriso e as bochechas coradas pelo frio, Wendel os recebeu. Seu rosto transmitia um ar de “viagem em família”, mas o clima era tenso.

A cidade barulhenta ficou para trás, dando lugar às estradas de terra, à paisagem natural e ao rádio tocando em volume baixo. As horas passaram lentamente, talvez pelo cansaço de terem acordado cedo demais, talvez pelo peso da investigação. Enquanto dirigia, Wendel ajustou o espelho retrovisor e observou Davi e Miguel dormindo no banco de trás, um encostado no outro. A cada quilômetro, estavam mais perto da verdade.

Lentamente, Miguel abriu os olhos. Avistou as estradas, as cercas ao redor das casas, o gado ao longe e as árvores, iluminadas por um sol fraco que já começava a se pôr.

"Esse lugar..." sussurrou. "Tem certeza de que ele está aqui?", perguntou, tentando não acordar Davi.

"Tenho. Ele confiou em mim pra proteger vocês, lembra? E sabia que só traríamos pessoas confiáveis até aqui", respondeu Wendel, sem tirar os olhos da estrada.

Ao entardecer, ele estacionou ao fim de uma estradinha de terra. Ali havia uma casa simples e envelhecida, com paredes verde-água, janelas pequenas com grades de ferro e cortinas finas por dentro. A porta, de madeira pesada e escura, tinha um trinco antigo. Um alpendre com dois degraus levava à varanda, onde havia um vaso com uma planta quase seca. O campo ao redor era tomado por mato, flores silvestres e folhas secas.

Davi, que agora havia despertado, desceu da van. Os três ficaram lado a lado, encarando a casa. Ele disse, firme:

"Vamos descobrir a verdade." A voz era firme, mas seus olhos não escondiam a tensão.

Wendel hesitou por um segundo. Respirou fundo e bateu à porta. Uma, duas, três vezes.

Passos lentos ecoaram do lado de dentro. Uma tranca foi destrancada. A porta se abriu.

Ali estava Raziel. Seus dreads negros estavam presos no topo da cabeça. Os olhos dourados, ainda vivos, agora carregavam marcas do cansaço. A pele morena, o rosto retangular e a barba por fazer davam-lhe um ar mais envelhecido. Vestia uma camisa social lilás de mangas curtas, calça jeans com a barra dobrada, cinto preto, tênis com meias brancas, óculos de armação roxa e um relógio prateado no pulso.

Era ele. Em carne e osso.

Miguel deu um passo à frente. O coração disparava, a respiração falhava. Olhou fixamente por alguns segundos, como se o tempo tivesse parado.

"Pai...?"

"Miguel..."

O abraço foi imediato. Miguel o envolveu com força, deixando as lágrimas escorrerem. Raziel fechou os olhos, segurando o filho com os braços trêmulos.

"Achei que você tivesse sumido pra sempre. Tive medo de nunca mais te ver..."

"Eu só queria proteger você. Mas fugir... só adiou tudo. Me perdoa."

Davi observava em silêncio. O maxilar tenso, os olhos atentos. Por fim, deu um passo à frente.

"Você desapareceu, deixou pistas, envolveu gente inocente... Por quê, professor?"

Raziel o encarou com seriedade.

"Porque você e Miguel eram os únicos em quem eu confiava para descobrir a verdade."

Wendel sorriu ao olhar o reencontro familiar.

"Agora que chegaram até aqui... é hora de contar tudo."

Todos entraram. O interior da casa era simples e funcional. A sala de estar era pequena, com um sofá velho coberto por um lençol, livros e uma manta, e um tapete empoeirado sobre o piso de madeira. A cozinha tinha armários antigos, fogão a gás, uma geladeira pequena e poucos utensílios. O quarto estava arrumado, com cama de solteiro, colcha azul-marinho, criado-mudo e roupas no cabide, com um ventilador antigo desligado no canto. O escritório era iluminado por uma luz amarelada e tinha uma escrivaninha de madeira escura. O banheiro era pequeno, limpo e com o essencial.

Sentaram-se em torno de uma pequena mesa, iluminados pela luz do pôr do sol e de um lustre antigo.

"Primeiro... fale sobre as ligações. Eram ameaças mesmo? Ou vinham da Jurema Souza?", perguntou Davi.

"As ligações não eram só ameaças. Parte delas era da Jurema, me orientando juridicamente. Ela me ajudou a esconder documentos e organizar tudo."

"E o Fernando Costa?"

"Ele sabia onde eu estava. Foi meu apoio emocional, meu amigo. Ficou em silêncio para garantir a segurança de vocês. Se dissesse qualquer coisa, colocaria todos em risco."

"E todas aquelas pistas? Por que deixar meu cartão com seu filho, afinal?"

"Foi de propósito. Eu sabia que Miguel recorreria a você se visse seu cartão. E sabia que você entenderia. Era minha forma de garantir que a verdade chegasse onde precisava."

"Uau... até o casaco foi de propósito pra me levar até você", observou Miguel, com um sorriso impressionado.

"Ah, esse fui eu", disse Wendel, com um leve encolher de ombros. "Tive medo de que alguém ruim os encontrasse antes de mim."

Raziel respirou fundo.

"Ainda assim, o que vou contar agora pode colocar vocês em risco. Vocês ainda querem saber?"

Davi e Miguel se entreolharam, os olhos brilhando com coragem. E disseram, juntos:

"Queremos."

Raziel se levantou, foi até o quarto e voltou com um pen drive vermelho nas mãos.

"Aqui estão as provas. Gravações. Documentos. Isso pode destruir eles... ou destruir a gente."

Ao estender o pen drive a Davi, hesitou.

"Não sei se devo envolver vocês ainda mais..."

O lustre balançou levemente. O silêncio era intenso. Davi segurou o pen drive com firmeza, enquanto Raziel o observava.

"Antes de verem o que tem aqui", disse ele, com a voz baixa, "preciso explicar como tudo começou."

Ele se recostou na cadeira, com os olhos fixos em algum ponto do passado.

Davi apertou o pen drive na mão.

"Já estamos envolvidos. Agora é uma questão de honra."

[Três meses antes do desaparecimento]

A sala de arquivos da Clínica Aurora era fria e deserta. Raziel revisava documentos sem parar, vasculhando prontuários, relatórios e registros financeiros. Arquivos incoerentes surgiam um após o outro: diagnósticos falsificados, assinaturas clonadas, exames que jamais haviam sido feitos.

O telefone vibrou. Ele atendeu.

"Você está cavando sua própria cova, Raziel", disse uma voz fria. Era Breno.

"Eu não tenho medo de você. Quantas pessoas você já destruiu com isso?"

"Deveria se preocupar com quem ama. Seus filhos, por exemplo..."

A ligação caiu. As mãos de Raziel tremiam. Ele gravou a tela com o celular e copiou tudo para um pen drive.

O sistema estava podre. E ele, marcado.

[De volta ao presente]

"Foi nesse dia que decidi desaparecer", disse Raziel. "Se eu continuasse visível, não duraria muito. Tive que sumir... com umas ajudinhas."

"E a história da sua morte?", perguntou Miguel.

"Wendel criou uma pista falsa para despistar a polícia corrupta, e foi Jurema quem cuidou dos trâmites legais e dos documentos que me mantiveram oculto. Sem eles, eu não teria conseguido."

Davi pensava em silêncio. Depois, perguntou:

"E o dia do desaparecimento? Por que toda aquela movimentação?"

Raziel assentiu.

"Acordei às oito horas, fui à missa, como sempre. Passei na padaria, depois corrigi provas em casa. Recebi uma ligação ameaçadora, mais uma. Almocei com Fernando para me despedir. À tarde, passei no escritório da Jurema para resolver as últimas pendências. Encontrei Wendel na taverna da Rua Baker para combinar hora e local. Às dezoito horas, estive na universidade, onde rasurei uma pesquisa como distração. Peguei um ônibus, entrei numa loja às dez horas e desapareci das câmeras saindo pelos fundos. Um carro me esperava. Vim direto pra cá."

"Planejado em cada detalhe..." murmurou Davi.

"Sim. Porque não era só sobre mim. Era sobre proteger todos ao meu redor. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, tentariam me incriminar."

"Mas por que confiar em nós?"

"Porque vocês eram os únicos em quem eu confiava. Você, Davi, pela inteligência... e por nunca ter se envolvido comigo antes. Miguel, pela coragem. Tudo isso foi um rastro até mim."

"E o Breno? Ele realmente admitiu tudo?"

"Sim. Eu inclusive gravei uma conversa. Nela, ele confessou os crimes de corrupção, manipulação de laudos e falsificação de álibis. Disse que eu estava perto demais de expô-lo e que isso teria consequências."

O silêncio se instalou.

"É por isso que tenho medo de entregar tudo. Esse pen drive pode acabar com Breno... ou com a gente."

Miguel tocou o ombro do pai.

"Chega de fugir. Vamos enfrentar isso. Juntos."

Raziel sorriu, cansado.

"Então vamos cair dentro! Não é assim que vocês jovens falam?"

"Haha, é sim", respondeu Miguel.

Lá fora, já era noite. A conversa fez as horas voarem. Como não poderiam permanecer muito tempo, decidiram passar somente aquela noite ali e partir de manhã.

"Amanhã vamos sair cedo, antes que nos rastreiem. Precisamos descansar o máximo possível." Wendel se levantou e foi preparar os colchões no porta-malas, ele realmente estava agindo como se estivesse montando uma festa do pijama improvisada.

Davi se levantou, tirando os óculos. Estava mais comprometido do que nunca. Raziel o observou, entre o orgulho e o temor. Era impossível não ver, no lugar do antigo aluno, um novo líder. Miguel, por sua vez, mantinha-se perto do pai, como se não quisesse mais perdê-lo.

Davi encarou a paisagem sombria pela janela.

"Agora somos nós que vamos caçar esses canalhas."

Do lado de fora, em meio à escuridão, um carro estacionado discretamente permanecia oculto sob a copa das árvores. Dentro dele, uma silhueta observava em silêncio. Os olhos estavam fixos em Davi. A voz, quase um sussurro, transbordava veneno:

"Você foi longe demais..."

O motor ligou. O carro desapareceu na estrada, engolido pela noite.

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