Andrew esperou por uma mensagem, ligação, mensagem de voz ou um sinal de fumaça que fosse por três dias. Nada aconteceu, então só pôde concluir que Teodoro e Kelly tinham os mesmos parafusos a menos. Apesar de estar na seca, não estava tão desesperado a ponto de ir correndo atrás de qualquer um que lhe sorrisse fácil, então começou pelas coisas mais importantes em primeiro lugar.
Seu pai se irritara com o sumiço depois da formatura e ainda mais quando Brenda fez o favor de comentar que Andrew voltara de carona com um homem bonito. Não sabia dizer se sua irmã o atrapalhava ou ajudava, às vezes. Então não poderia fazer nenhuma bobagem de novo tão cedo, nada de bebedeiras no crédito nem varar noites em claro com D&D.
Na sua odisseia de entregar currículos e comparecer a processos seletivos, alguém finalmente lera sua matéria publicada no jornal da faculdade sobre Cayden White. O redator elogiou tudo que poderia ser elogiado sobre o texto e Andrew saiu de lá contratado para um período de experiência. Um jornal de verdade com foco em temas políticos, aquilo era um ótimo começo de carreira para ele e não se importaria em lamber quantas botas fossem necessárias.
Naquela noite foi para casa de Teodoro onde comeram e beberam em comemoração ao emprego de Andy. Ligou para seu pai por vídeo para contar a boa notícia na manhã seguinte, Adam o parabenizou muito e desejou juízo, parecendo ter esquecido sua raiva. A raiva de Andrew, porém, só fez crescer quando viu sua mãe passando ao fundo da ligação. O sorriso murchou automaticamente.
— Querida, Andy vai trabalhar naquele jornal que seu pai gosta! — anunciou como se Andrew estivesse sendo indicado ao Pulitzer.
— Que coisa boa, amor — murmurou ela exalando desinteresse e sumindo para outro cômodo.
Assistiu a expressão alegre de seu pai se tornar um amalgamado confuso de orgulho e decepção.
— Estamos todos muito felizes por você, filho — remediou como podia.
Andrew se obrigou a pôr um sorriso no rosto e agradeceu de novo, mudando o assunto para perguntar de toda a família. Seu pai era truculento e não entendia bem a situação, já o dissera mais de uma vez que “tudo bem ser hétero ou gay, mas é um ou outro né” quando escutava a palavra bissexual. Andrew desistira de explicar, Adam o amava e tratava seus namorados bem, era o que importava no fim do dia. Lembrou-se do que Cayden dissera e resolveu que se Donna o queria fora da vida dela, não seria ele rastejando atrás dela.
Despediu-se do pai e foi terminar de se arrumar para o primeiro dia na redação. Era um jornalista, estava formado e praticamente empregado. Já começava a pensar em tudo que poderia melhorar no apartamento com um salário bom. Não dependeria mais dos pais e ainda sobraria para alguns luxos. Tudo parecia tomar curso para o melhor resultado possível.
***
Depois de cinco dias de experiência, foi contratado e se tornara mascote da redação. Andy imprime isso, Andy busca café, Andy revisa esses e-mails, Andy atende o telefone. Andy, Andy, Andy. Não reclamava, trabalhava com um sorriso no rosto e começava a cultivar amizades com alguns colegas. O editor-chefe era um carrasco com todos, mas por algum motivo parecia gostar de Andrew. Não era tão rude com ele, ensinava macetes para facilitar o trabalho e, às vezes, o arrastava até o fumódromo para o dar conselhos não requisitados de vida.
Aquela tarde não foi diferente, Aaron soltava mais fumaça que uma chaminé, olhos fixos na vista de horizonte concretado.
— Você tem carinha de quem faz sucesso com as mulheres, moleque — disse com o cigarro entredentes, mal olhava na direção de Andrew. — Se quer um conselho de macaco velho, se divirta, garoto, mas não se apegue. A juventude passa igual nosso cabelo. — Indicou as duas entradas fundas na cabeça. — E aí elas só vão levar metade de tudo que você lutou pra ter. Sem nem falar nos filhos.
Andrew deu risada enquanto negava uma chamada de número desconhecido no celular, não podia atender em horário de expediente e muito menos na frente de Aaron.
— Sempre fiz mais sucesso com os garotos, senhor. — A gracinha não custaria nada demais, as garotas do RH conheciam o Instagram dele de cabo a rabo, não era segredo.
O velho crispou o cenho, dando uma tragada longa no cigarro antes de soltar a fumaça.
— É um Fred Mercury mesmo — Apagou o cigarro e foi embora rindo, Andrew não tinha certeza se estava sendo elogiado ou ofendido, mas nunca era possível ter certeza com Aaron.
Era bom estar num ambiente de trabalho em que ninguém se importava muito com a vida íntima dele. Sua família falava tanto sobre as mais diversas desgraças envolvendo homofobia que às vezes tinha medo até de andar na rua com um bottom colorido. Aaron talvez fosse como Donna, talvez fosse como Adam, talvez fosse um tiozão maluco que aproveitara muito bem os anos 80, não importava. Nada daquilo era relevante ao trabalho, no máximo o usariam para dizer que a empresa apoiava diversidade como forma de atrair anunciantes.
O número desconhecido insistiu outra vez perto do horário de saída. Não estava devendo nada, então supôs que seria alguma divulgação de serviços que não lhe interessava. O expediente encerrava às 06h00 PM para Andrew, despediu-se depois de completar a reserva de papel da impressora, e foi direto pra casa em seu carrinho na teimosia costumeira. Aaron já o indicara um mecânico que cobrava mais barato, estava só esperando as duas primeiras semanas de salário cairem na conta.
Noite de sexta costumava significar sair para beber com os colegas ou ir jogar D&D na casa de Teodoro, mas ele não tinha energia pra nada depois do trabalho. Ainda se habituava a nova rotina e, mesmo que fosse "a menina dos olhos de Aaron" segundo seus colegas, o trabalho era puxado. Era pau pra toda obra, não tinha ficado uma hora escrevendo texto jornalístico de verdade. Estagiário com benefícios, praticamente. Mas sempre soubera que seria daquela forma, se segurasse a onda e mostrasse profissionalismo, a promoção viria em algum momento.
Não era contratado como redator, jornalista nem editor, óbvio que não, era “assistente de redação” e seu trabalho era exatamente isso. Pensava em pedir comida chinesa, subindo as escadas para o apartamento, quando o mesmo número chamou pela terceira vez. Talvez um de seus amigos tivesse trocado de número? Os trouxas sabiam que estava trabalhando, mas tinha colegas bem inconvenientes.
— Alô? — tirou a chave do bolso, talvez só tomasse banho antes de cair na cama mesmo.
— Estava começando a achar que estava me ignorando, Sr. Harris.
A chave caiu por entre seus dedos, tamanho o choque. Duas? Três semanas? Ele não lembrava mais há quanto tempo dera seu número a Cayden e não recebera nem notícia do homem.
— Estava no trabalho — murmurou confuso, não fazia ideia do que Cayden queria. Agachou para pegar a chave.
— Ah, desculpe, te causei problemas? — Como ele conseguia ter a voz mais bonita por telefone?
— Não, só não posso atender mesmo. — Abriu a porta finalmente. — Se tivesse mandado mensagem eu teria visto.
Era muito estranho ter aquela conversa por ligação, Andrew nem sabia que alguém ligava para os outros aleatoriamente assim. Seus pais que faziam esse tipo de pataquada, mas eram pais, tinham direito de serem inconvenientes.
— Nós, mais velhos, não costumamos mandar SMS antes de ligar. — Podia imaginar Cayden rindo ao falar aquilo. Alguém se doera com o comentário dele sobre enviar contatos direto, pelo visto. — Mas indo direto ao assunto, está livre essa noite, Andrew?
Quis perguntar como ele ainda falava SMS, era algo que só seus pais diziam para toda santa mensagem.
Ao acender a luz de casa se deparou com a pia abarrotada de louça, o fogão parecendo uma zona de guerra, a cama toda revirada e roupa suja empilhada ao redor do cesto, não tivera tempo de ir até a lavanderia. Ficar em casa significava dar um jeito naquilo, comer o que achasse no fundo da geladeira e despencar na cama. Livre. Muito mais do que livre, desesperado para se sentir vivo por cinco minutos.
— Estou sim, por quê? — O White era podre de rico, iria aonde ele quisesse se fosse de graça.
— Então te busco daqui uma hora, tudo bem por você?
Direto. Andrew não tinha reclamações sobre isso, combinava com o apartamento de Cayden quando parava para pensar.

Comments (0)
See all