Ir devagar significava ir para o chuveiro para Cayden, aparentemente. Ou melhor, depois que Andrew explicou sobre sua rinite, ele apenas riu e propôs que fossem para o banho. Era uma boa forma de quebrar o gelo e ainda faria Andrew ficar mais sóbrio no processo. Win-win situation.
Seria impossível não ficar sóbrio vendo Cayden tirar a roupa, porém. O contrato, as chatices, até o apartamento sem televisão, tudo valeu a pena no segundo em que pousou os olhos nas pernas torneadas. Só vira músculos tão bem desenhados nas pernas de cowboys. Os braços eram grossos e ele claramente malhava, mas não chegava a ser nada exagerado. O peitoral peludo e saliente era a cereja reluzindo no topo daquele bolo divino. Nenhuma quantia de vinho bastaria para Andrew encarar a virilha fixamente — até ele tinha limites — mas estava realmente satisfeito com o que vira de soslaio.
Mal posso esperar pra…
Enfiou a cabeça debaixo da água no segundo em que Cayden veio em direção ao box, não teria graça se deixasse seu interesse assim tão gritante. Ou melhor, pulsante. Água quente não era tão efetiva nessa tarefa, mas bastava se concentrar em algo que não fosse a bela imagem mental do pau de Cayden.
Nem era assim tão mais baixo que Cayden, o que destoava entre eles era o perfil físico. Andrew era sedentário demais para competir com aqueles músculos. Seu único exercício físico eram as caminhadas entre a redação, a cafeteria, a gráfica e a lavanderia. Mas era óbvio que o Sr. Perfeição também manteria o físico impecável, assim como o histórico escolar, o carro, e a carreira como criminalista.
— A água ajudou? — perguntou Cayden, após um suspiro de alívio, ao se molhar inteiro. O chuveiro era tão grande que cabia os dois sem muito esforço.
— Sim, obrigado. — Continuava encarando os frascos sem rótulo na prateleira de vidro. O cara não tinha televisão, mas o banheiro parecia de hotel caro. — Produto forte acaba atacando minha rinite sempre.
— Como consegue trabalhar em uma redação desse jeito? — Cayden pegou uma bucha vegetal e a besuntou com o conteúdo do frasco preto grande da prateleira. Sabonete líquido, então os outros três deviam ter shampoo, condicionador e… Andrew não fazia ideia.
— A tinta não me incomoda, só tenho que ficar longe do papel. — Seus instintos o diziam que o segundo pote maior seria o shampoo, mas estava com medo de pagar mico. — Uso máscara se estiver ruim demais, o pior é o fumódromo. Meu chefe adora me arrastar pra lá e a fumaça arde nos olhos.
Coçou o nariz que se irritara um pouco. Era tudo ou nada, se lavasse o cabelo depois de esfregar o corpo corria o risco de ter alergia ao shampoo de Cayden e passar o resto da noite com os olhos lacrimejando. Aproveitou que Cayden se afastara para se esfregar e encheu a mão com o conteúdo do segundo maior pote. Parecia shampoo, meteu nos cabelos e esfregou. Aparentemente sua rinite gostava de produtos caros, porque nem sinal de incômodo.
Depois de enxaguar o cabelo e finalmente abrir os olhos, foi difícil fingir não ter notado as cicatrizes nas costas do ruivo a sua frente. Circulares e pequenas, espalhadas através da lombar e subindo até a altura das omoplatas. Dezenas delas. Andrew tivera colegas com cicatrizes como aquelas no Ensino Médio e sabia bem que derivavam de cigarros. Tirou os olhos dali tão rápido pôde e se ocupou com o pote que talvez fosse condicionador.
Era hidratante, Cayden riu da cara dele ao notar a confusão, mas o banho foi tranquilo a partir daí. Um banho comum com outro cara.
A euforia do vinho se fora, deixando-o tão relaxado que quase esqueceu o que estava fazendo ali, até ter Cayden White o abraçando por trás na área seca do banheiro. A mão agarrada forte em sua cintura e os lábios fazendo uma trilha convidativa através de seu ombro e pescoço.
Quis girar, mas Cayden não pareceu disposto a permitir. Suspirou graças a um chupão forte num ponto mais afastado do ombro. Pretendia deixar marca para ter o cuidado de escolher um ponto mais escondido. Andrew não se importava.
— Não sabe como queria te deixar quietinho assim desde que veio com aquelas perguntas cretinas — sussurrou bem aos pés de seu ouvido, eriçando cada pelo de Andrew. — Você fala como quem adora uns tapas mesmo, notei na hora.
A mão em sua cintura deslizou, dando uma bela apertada na bunda e quando deu por si fora não só girado entre os braços de Cayden, como ele o erguia sem muito esforço. No instante seguinte estava sentado sobre a superfície gélida do móvel da pia com Cayden entre suas pernas. Lábios colados, línguas enroladas, puxava-o pelo cabelo liso para si, não tinha nada contra resolver a questão ali mesmo.
O frio arrepiando a espinha eriçava mais seus sentidos, um incômodo delicioso, que o fez arfar quando o beijo de Cayden deslizou para um chupão em seu pescoço. A bunda se empinava por reflexo. Fincou as unhas no ombro direito de Cayden, fazendo-o suspirar rouco contra seu pescoço.
Assistiu-o se afastar, trazendo uma frustração palpável a Andrew, com respiração entrecortada e as pupilas dilatadas. Andy mordeu o lábio inferior, vidrado na forma com que a água pingava através dos fios alaranjados pelo pescoço grosso e os ombros largos de Cayden, escorrendo por todo o peitoral delicioso até chegar…
— É muito apressadinho, Andrew. — Cayden passou o polegar pelo canto do lábio inferior, risonho. — Já sei o que fazer com você. — Ao dizer aquilo, os olhos de Cayden pareceram mudar de verde-chá para um tom claro de amarelo-narciso. Qualquer que fosse o efeito das lâmpadas amareladas, Andrew preferia se focar em outras coisas.
— E o que vai ser? — O ar faltava, fazendo as sílabas se perderem um pouco.
— Edging, docinho. — Aquele sorriso não despertava confiança em Andrew. — Sabe como funciona?
— Sei. — Espremeu os lábios, descendo da pia. Descontentamento talvez o definisse.
Não era que não curtisse edging particularmente… apesar de não achar ruim o lance de ser dominado, era reclamão demais para o fazer calado. Tivera três péssimas experiências com homens dominadores no passado graças a isso. Era estranho ver homens que não eram héteros pagando tanto de machão para se ofenderem com uma besteira dessas, mas se acontecera três vezes poderia rolar uma quarta.
— Ei. — Cayden o puxou pelo queixo, obrigando-o a erguer o rosto. — Se tem algum problema preciso que me diga.
— Não, é que… — Precisava parar de ser tão reativo a tudo fora do trabalho, as pessoas o liam fácil demais entre quatro paredes. — Não faço o tipo subserviente, sabe? Não desgosto de ficar de sub, mas a galera acha que não posso falar nada por isso, e eu resmungo.
— Eu não tenho problema com brat nem gente me questionando — explicou sem rodeios. — Na verdade, fiquei a fim de você porque parecia ser o caso mesmo. Quer dizer, te conheci jogando na minha cara que não estaria onde estou sem o dinheiro da minha família. — Cayden forçou o riso, passando a mão para o lado do rosto de Andrew. — Te machucaram por isso? — Fez que sim, não estava a fim de pensar naquilo. — Vamos com calma, mas tem minha palavra que não vou fazer nada que você não queira também. Além do contrato, claro.
— Tudo bem, é só um receio, sei lá.
— Vou te ensinar a confiar em mim, não se preocupe. — Cayden o puxou delicadamente pela mandíbula, Andrew teve que ficar na ponta dos pés para alcançar a boca dele daquela vez.
A água pingava um pouco fria entre eles, arrepiando o corpo de Andrew, mas ele não estava disposto a tirar o braço que enlaçara ao redor dos ombros de Cayden. O que importava eram aqueles lábios, fez questão de cravar os dentes assim que teve a chance, Cayden suspirou de um jeito que não soava como deleite aos ouvidos de Andrew. Riu na cara disso. O White voltou a sorrir maroto, afundando a mão livre por baixo da bunda dele com força.
— Pronto pra implorar?
Andrew queria muito descobrir qual a magia por trás do amarelo habitando aqueles olhos.
— Não vai demorar muito.
Finalmente conseguiu desmanchar o risinho de Cayden com um beijo, impulsionado pelo apoio que a mão dele fornecia. Agarrou os cabelos do ruivo, afundando os dedos tanto quanto conseguia, aqueles suspiros, sim, soavam como deleite. Cayden entreabria os olhos e os lábios, o pau subira roçando contra o abdômen de Andrew. Ele suspirou também, não reclamaria nem um pouco em ser virado contra uma daquelas paredes até dizer chega. Cayden o deixaria louco rapidinho, não precisava de cerimônia.
O caminho entre o banheiro e a cama foi rápido entre beijos, sugadas, mãos firmes e risinhos cúmplices. Cayden só saiu de perto dele para estirar as duas toalhas por cima do lençol, o cabelo dos dois ainda pingava e ninguém parecia disposto a parar para usar o secador.
— Tem alergia à látex? — questionou Cayden mexendo numa gaveta da cômoda.
Andrew estava deitado por cima das toalhas, tentando não olhar na direção das cicatrizes nas costas de Cayden — tarefa quase impossível considerando aquela bunda maravilhosa. Durinha e redondinha, fazia-o delirar sobre como seria delicioso assistir seu pau se afundar ali.
— Não. — Era a primeira vez que alguém o perguntava sobre aquilo, por mais que nem sempre contasse da rinite a todo mundo que pegava.
— Ótimo, então. — Cayden ficou mais algum tempo de costas pegando coisas na gaveta, o que deixou Andrew um pouco tenso.
Ele voltou com um kit completo de brinquedos, mas pareceu ter notado para onde Andrew estava olhando ao se virar. Só pôde rezar para o White ter concluído que estava secando a bunda dele — nem seria mentira.
— Veste isso. — Cayden jogou uma máscara de sono por cima dele. O tom de ordem atiçava Andrew.
— Vai me por pra dormir? — Deu risada ao pegar a máscara, o tecido pareceu confortável aos dedos e tinha cheiro de limpa.
— Sabe que quanto mais me provocar mais vai demorar né? — Depois de soltar uma porção de coisas de lado na cama, Cayden se debruçara por cima dele com um sorriso no rosto e a mão apoiada bem ao lado da cabeça de Andrew. — Você é newbie demais pra safeword, então se quiser parar é só pedir direto. Tudo bem?
— Newbie é a pu… — Andrew colocava a máscara enquanto falava, o que o impediu de ver quando Cayden o calou com um beijo. A mordida forte no lábio inferior foi devolvida, mas Andrew não achava dor algo ruim. Lambeu os lábios assim que se separaram. — Eu sei usar safeword, porra.
Ouviu Cayden rir.
— Sabe, então já usou?
— Não, ué, nunca precisei.
— E quando te machucaram de verdade? — Andrew não tinha resposta para aquilo, então se calou. — Pois é. Leva um tempo para se acostumar com essas coisas, normalmente se diz um “não”, um “para”, precisa se condicionar a usar outra palavra. Então, até lá, pode simplesmente me dizer que não quer e nós paramos.
Ouvia o som do termostato, o ruído dos movimentos de Cayden sobre o lençol, o próprio coração estrondando em pura expectativa e a respiração que se fazia cada vez mais audível. Aquilo era muito diferente de transar no escuro, só ele não enxergava nada, à mercê de Cayden.

Comments (0)
See all