Falcon Acquas La Venice. Acquas da minha mãe, uma mulher do mundo mágico, e La Venice, meu pai do mundo mortal. Já ouviu a história da Ariel? Uma sereia que se transforma em humana para casar com um homem normal? Bem, é basicamente a história dos dois e onde tudo começa. Eu vivia na Itália em uma região vinícola chamada Tarento, bem ao Sul e onde meus pais se conheceram em uma praia pedregosa. Meu pai era filho do dono da maioria das terras do sul italiano, quando faleceu e deixou tudo para o filho. Em uma de suas cavalgadas, viu uma mulher nua precisando de cuidados. Depois de se apaixonarem, minha mãe contou a verdade e eles se casaram. Mas minha mãe só me contou essa história, quando fiz 15 anos. Foi o melhor presente de aniversário e ela ficou aliviada pelo meu bom humor quanto as notícias que sua mãe é na verdade um ser sobrenatural.
A partir daquele dia, pesquisei tudo sobre o mundo mágico e pedi que ela me contasse histórias e me mostrasse sua verdadeira forma. Mamãe comprou um feitiço de uma bruxa do mar que a deu a versatilidade de ser humana quando quisesse. Minha mãe nunca mais voltou pro mar.
Mas eu estudei, e a relação da família nunca ficou tão entrosada e bem humorada, parecia que o peso do mundo tinha saído das costas dos dois. E logo surgiram as piadas internas por causa do cabelo ruivo dela, e suas nadadeiras. Fomos felizes por mais 4 anos, até que papai morreu. Foi algo tão repentino que feriu toda a família. Minha mãe vendeu as vinícolas, já que eu dissera que não tinha interesse nelas, mas fiz questão para que vendesse para alguém da família Venice, para que honrasse a memória dele. Ele odiaria ver o trabalho de várias gerações vendido para um qualquer. Mas minha mãe não aguentou muito mais sem ele, e logo adoeceu. Teve de voltar pro mar, onde tinha uma chance maior de se recuperar, mas não aguentou por muito mais tempo, quando faleceu na mesma praia onde ela e ele haviam se conhecido.
Fiquei órfão bem no dia em que a carta da admissão da faculdade chegou. Eu fiquei feliz, mas ainda me sinto pesado pelos acontecimentos. Mas sei que eles queriam muito isso, tanto quanto eu e não quero desapontá-los. Irei para Westport Galway com o maior prazer. Anos dentro de um quarto focado, estudando 8 anos que eu não havia cursado no mundo mágico, mais a matéria do vestibular, só para ver e sentir de perto o maravilhoso mundo que a minha mãe viveu e teve a caridade de contar. Eu nunca seria feliz sendo agricultor, ou contador.
Na região da Itália, além da cova dos meus pais, deixei pra trás uma pessoa que não sabe nada sobre essa parte da minha vida, mas sabe tudo sobre mim. Helena e eu namoramos 4 meses, e ela foi a única que compreendeu meu momento introspectivo de estudo, mesmo sem saber que eu iria embora alguns dias depois para a Irlanda, e ficaria por lá por 4 anos. Mas ela chorou quando eu contei. Tive de dizer que faria Engenharia na Bélgica e que era melhor nos separarmos. A verdade é que eu também chorei, mas eu ainda tinha de pegar o trem para chegar na estação 12:00.
Órfão, solteiro, desgarrado dos amigos e jogado em um mundo perigoso onde monstros pré-históricos cospem fogo e têm asas, sem noção nenhuma do que vai acontecer ou que tipo de pessoas vou encontrar. O meu medo é de conhecer alguém e esquecer Helena. Eu sei que é possível e eu já estava de olho em uma menina que pegou o mesmo ônibus que eu direito pra faculdade. Tinha belos olhos claros e cabelos castanhos e feições finas, mas ao mesmo tempo tinha lábios cheios. Tão redondos quanto... Bem, outras partes sedutores da mesma. Me senti um cretino por dentro, mas um cretino feliz. Afinal, uma aventura melhor que a minha vida acho muito difícil que exista.
Os meus aposentos são particulares graças a fortuna que a venda da vinícola e as heranças me foram... herdadas. É um dos luxos e caprichos dos quais eu não resisto. Eu teria espaço para os meus livros e o meu horário para acender e apagar as luzes. Deixar tudo para a camareira limpar, sem ter de me preocupar com pertences alheios nem "vistantes sexuais alheios". É o melhor dos dois mundos do qual me orgulho muito.
Depois de ver o Campus, e fugir dos veteranos que cismavam em realizar umas brincadeiras ridículas e piadas escrotas sobre o meu smoking mostarda, eu fui checar a grade escolar e...
–Opa! Desculpa cara... - o maior brutamonte da Terra havia acabado de praticamente me rebocar no saguão. Eu tinha de olhar para cima para podê-lo ver completamente.
–Aqui não tem graduação em Trolls. - eu olhei-o de cima a baixo e segui meu caminho. Que tipo de desculpas eram aquelas? Que postura era aquela? Se aquele cara fosse iguais ao resto dos alunos da UUO, eu já estava desapontado.
–Ei, quem você pensa que é? - ele disse puxando meu ombro. - Sou aluno igual a você, seu viadinho.
–Eu sou Falcon Acquas La Venice. E você? É o Shrek?
Ele partiu pra cima de mim, quando uma professora interveio e salvou o grandão da maior humilhação que ele teria vivido. Se eu tivesse deixado ele vivo. Algo era diferente nele, e não era o tamanho. Talvez algo nos olhos amarelos. Talvez na pele escura, ou no excesso de pelos, eu não sei.
Eu só sei que me dirigi ao lado contrário daquela besta humana (ou meio humana) e a raiva estava passando no terceiro passo, quando ouvi o idiota gritar:
–Eu sou Harris! Aluno de Dracologia! - ele desviou da professora e correu até mim. - Igual a você.
Nos olhamos por segundos enquanto ele me devolvia a grade que eu havia deixado cair quando ele me puxou pelo smoking.
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