Jaden. Jaden Smith M. Eu já morava na Irlanda, mas era da capital, Dublin. Eu nunca conheci minha mãe, morava com meu pai em um apartamento quarto-sala e nós dois éramos famosos pelos "negócios da família": Cavaleiros de Dragão. O nome parece bem legal, mas na prática, somos bandidos. O que basicamente fazemos, é capturar um Dragão e treiná-lo para correr e depois, viver das apostas que fazem no melhor Cavaleiro. Como já é deduzível, as corridas são ilegais. Falta estrutura dos tratadores, segurança e respeito pelos animais. Mas por ser ilegal, dá muito dinheiro.
Ao mesmo tempo que somos mau vistos. Primeiro de tudo, roubamos ovos, dragões recém-nascidos. E consequentemente arriscamos nossas vidas por isso. Depois, dominamos as bestas com castigos, e depois as fazemos correr.
As corridas não são fáceis. Podem ocorrer em um ambiente hostil, como em um deserto, e os animais acabam morrendo. Ou por cima do oceano, onde os dragões voadores, acabam morrendo afogados por causa das trapaças dos adversários que se lançam uns contra os outros. É arriscado para o piloto, e para o dragão. E é daí que vem a emoção.
Mas daí também vem o desprestígio na sociedade. Cavaleiros de Dragão na era medieval eram vistos como heróis, hoje em dia são vistos como ignorantes brutamontes fora da lei. Eles não estão de todo errados.
Eu tenho 22 anos e realmente não queria estar nesse quarto da faculdade. Tudo é claro e parece muito sofisticado comparado a minha realidade de comer tofu da geladeira e minhas camisas chamuscadas. Acabei de descobrir que é proibido fumar. Ótimo. Como deixei me convencer a fazer faculdade, ainda não entendi. Na hora pareceu como um plano B se a minha carreira de Cavaleiro acabar. Mas a verdade é que a carreira de um Cavaleiro só tem um jeito de acabar: morto. Acho que só estou tentando fugir da minha vida fadada de "fora-da-lei". No fundo eu quero ter uma vida direita. Mulher, filhos. Um trabalho de verdade onde eu possa voltar vivo no final do dia e dinheiro certo no final do mês. Parece justo. Também não aguento mais a poeira da cocaína pelo meu apartamento consumindo meu mentor e pai. A faculdade me parece só mais uma besta de várias cabeças. Me sinto covarde por deixar Dublin e meu pai lá. Mas ele me apoiou. E eu havia estudado em segredo por alguns anos. Eu roubava livros das meninas da Escola de Magia perto de uma cafeteria onde elas se encontravam. Eu também assaltava alguns caras, quando saíam do cursinho pré-vestibular da UUO e levava as mochilas com todas as apostilas. Eu cheguei a conhecer um amigo, que me explicava toda aula o que ele aprendia, mas eu acabei roubando ele sem perceber, em uma noite qualquer. Ele me viu e depois disso me evitava toda vez. Até mudou o horário do cursinho. Nunca mais nos falamos.
Também houve uma menina mal falada, que acabou transando comigo e eu descobri que ela estudava na melhor escola mágica de Dublin, um internato que ela fugia para poder abrir as pernas em paz. Eu queria que ela me desse algumas informações, mas a única coisa que consegui arrancar dela foram brinquinhos de diamante que me pagaram uma ótima cela para minha próxima corrida. Eu não ligava dela ser mal falada, até que era bonita, divertida, mas não era inteligente. Também não era tão boa quanto os boatos que corriam sobre ela.
Até que conheci uma menina da realidade normal. Eu havia descoberto um portal na biblioteca, e descobri que a realidade não mágica tem preços mais baratos. Derreter ferro para maltar as unhas dos dragões era bem mais em conta. Sobraria mais dinheiro para comida, ou se meu pai não descobrisse, livros. Ela estava lendo um livro chamado Eragon. Eu conhecia aquele livro. Ele era pichado na biblioteca da minha realidade e ela estava lendo-o com tanto carinho, que decidi apagar meu cigarro e limpar o sangue da minha testa:
–Eragon? - eu me sentei ao lado dela e torci para não estar fedendo a suor.
–É. - ela sorriu. - Meu preferido! Já leu?
–Sim, tem continuação. - eu respondi nervoso.
–Sim! Eu quero acabar esse para ler os próximos. Não é incrível?
–Seria incrível se fosse verdade? - eu perguntei por impulso.
–Eu adoraria. - ela suspirou.
Eu quis levá-la pelo portal, mas eu sabia que seria preso por isso.
Voltei na biblioteca naquele mesmo horário, quando ela saía da escola na hora do recreio e comia um joelho escondido na fileira Z-6 da biblioteca, uma bem deserta, onde apenas havia livros de Quântica. Eu me sentava do lado dela enquanto ela lia e fingia ler o próximo exemplar de Eragon, mas na verdade estava olhando pra ela. Havia partes que ela levantava os olhos sobre a longa franja loira e me olhava. Me pegava olhando pra ela e ria. Então nos beijamos e eu nunca mais voltei. Sabia que ia chorar se eu mostrasse minha realidade. Quando visse que o herói Cavaleiro era na verdade filho de um drogado, um pobre fodido ladrão corredor clandestino. E que tinha que machucar as criaturas que ela achava tão majestosas para que eu pudesse ganhar dinheiro. Eu fiquei tão mal por nunca mais voltar que cheguei a cheirar duas vezes. Mas do mesmo jeito que parei de vê-la pensando proteger sua inocência, nunca mais me droguei por ela também.
Quando cheguei na faculdade, mais precisamente no meu quarto (que eu teria de dividir) dei de cara com uma cara alto. Eu sei que eu sou alto, mas o cara era mais alto que eu. O nome dele era Harris e também não estava muito certo sobre sua escolha, mas era um cara legal apesar de parecer meio bobão. Apesar de estar vermelho e ter dito que acabara de quase arranjar uma briga com um patricinho besta. Palavras dele:
–Você acredita que ele me chamou de Shrek?
Eu segurei o riso, mas a fumaça trêmula que saiu da minha boca não conseguiu mentir e ele acabou rindo também. Eu ofereci um cigarro e ele aceitou, mas ele não tragava:
–Nunca fumou, não é mesmo?
–Não... - ele pareceu constrangido.
–Tudo bem, pelo menos você não tossiu. - eu sorri. Harris era um cara legal, e nos daríamos muito bem. Se ele não percebesse que eu provavelmente roubaria os livros dele no decorrer dos períodos.
Comments (0)
See all