Assim como há outras realidades, há outros planetas habitados que a realidade dos mortais ainda não foi capaz de identificar. Assim como os portais.
Eu sou Kai di Venus. Assim como Leonardo da Vinci, que era de Vinci, sou Kai di Venus, e eu adoro essas piadinhas. Eu fazia parte de uma escola com bases militares, coisas que eu nunca me identifiquei. Meus pais ficaram preocupados até que em uma das aulas de História, estudamos a Terra e suas realidades paralelas, e foi aí que eu me interessei. Meus pais estavam tão desesperados que mesmo achando maluquice me apoiaram, e pagaram meu cursinho e eu passe para a UUO.
A verdade? Eu sabia que teria de ir para outro planeta para cursar Dracologia. E a Terra é o lugar dos paraísos. Meu planeta superficial e toda a galáxia ficam de quatro quando vemos as fotografias da Terra. Toda a natureza, a evolução dos seres vivos e suas orgânicas, sua história e suas mitologias , as pessoas! Não existem oceanos em Vênus e eu nunca fui em uma praia, mas eu imagino como seja. E quando vemos pela TV os shows, e os programas de TV que lá passam, principalmente os que os mortais produzem, é tudo tão colorido e fluido que a primeira coisa que se quer fazer é ir para lá. É bizarro o amor que sinto por um lugar onde nunca estive.
Meus pai é Marechal de Guerra e nesse exato momento, meu planeta está em guerra com Marte e a Lua. Então, sair daqui também foi uma fuga de segurança. Minha mãe é dona de casa e eu tenho um irmão mais velho que é o orgulho da casa. Eu fico feliz, e reconheço que não sou nenhum menino prodígio. Minha família também soube disso quando aos 6 anos eu fui pego dentro do vestiário feminino com uma peruca fingindo colocar batom. Óbvio que as meninas perceberam e chamaram a inspetora. Eu fugi pela janela, mas ainda estava de batom e fui chamado de viado por meses até que todos passaram de ano e eu não.
E no ano seguinte, quando eu fiquei tão apaixonado por uma menina que a empurrei na parede e a beijei, mas quando ela me deu uma joelhada no saco, eu percebi que não podia forçar ninguém a me amar. No próximo ano eu ainda gostava da mesma menina e ela me beijou, e por orgulho eu a empurrei. Eu definitivamente não era muito inteligente. No fundo, a gente sempre sente quando nunca vai crescer. Como todos os dias que eu pintava as bolas de futebol do meu irmão, tentando fazer uma réplica da Terra, ou quando circulei a piscina de casa com farinha de trigo pensando que era a mesma coisa que areia, quando vi que a "areia" estava formando uma massa nojenta nos meu pés. E quando eu pedi uma guitarra terráquea e tocava para os meus amigos alternativos e fazia o maior sucesso. Foi quando perdi minha virgindade com a mesma menina que eu havia tentado beijar com 7 anos de idade. Alguns anos depois ela se declarou lésbica e eu fiquei pensando se não estaria na Terra o meu verdadeiro amor.
É estranho não se encaixar no seu próprio planeta. É estranho cantar as músicas da rádio quando não tem ninguém te acompanhando e é estranho ter sonhos surfando ou achando corais lindos na costa do Havaí. É estranho se sentir jovem imortal. No caso, mortal. No fundo, eu me orgulho. Me orgulho de não ser um fardado qualquer em guerra, e pensar mais se eu beijo bem do que quanto eu vou tirar no CR. Tenho orgulho de gostar de rock n roll e Jack Johnson. E da cara de horror toda vez que minha família faz para meus jeans rasgados e meu cabelo jogado na cara. Eles sabem que no fundo, eu sou um cara muito maneiro.
No meu aniversário de 15 anos, pedi uma viagem para a Terra, queria passar o Carnaval no Brasil. Eles concordaram, mas me mandaram com um grupo de... antropologia. Um bando de caras de 50 anos cheios de parafernalha e papelada. No hotel, eu pulei as sacadas e pulei o que eles chamavam de "blocos" e beijei tantas meninas que na verdade, acho que alguns eram meninos. Mas no final, tudo é corpo e eu sei que faria tudo de novo. Só que pior.
Acabei achando uns caras legais e tomamos "cervejas" e eu fiquei bêbado. E eu vi duas meninas se beijarem. Houve Carnaval por 4 ou 5 dias e depois que acabou eu fugi de novo e me levaram para uma "rave" e eu tomei "balinha" e nós dançamos música eletrônica. E eu vi dois meninos se beijarem. E eu me senti em paz. Eu vi unicórnios e eu achei super legal! Eu fiz coisas que meus pais certamente nunca aprovariam, mas eu só podia me sentir feliz.
Mas foi bem diferente quando cheguei na faculdade. O pessoal parecia bem sério e lá era bem mais frio que o Brasil. Mas eu ainda sim sei que há festas e pessoas boas. Mas descobri que aqui também estão em guerra e foi a maior decepção da minha vida desde a minha falha na operação de ver meninas peladas me fingindo de mulher. E todos os problemas que fazem daqui mais um lugar bem longe de ser o paraíso. A fome, os assassinatos, e até coisas que eles estão atrasados socialmente falando. Machismo, falso moralismo, estados não laicos e um capitalismo extremo. A pobreza também é presente no Brasil como em Vênus, o que me fez pensar se os dois lugares no final, não fossem a mesma coisa. Mas aí eu vi sorrisos por todos os lados e disse que ali definitivamente nunca se compararia a qualquer outro lugar do mundo ou da galáxia.
Mas nada se compara a Praia do Arpoador e a primeira vez em pé em cima de uma prancha de surfe. Foi o melhor dia da minha vida depois do dia do meu primeiro beijo.
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