Branca Shimizu Nakajima, de Yokohama, Japão. 22 anos e já tenho formação em Metamorfose, o que consiste na habilidade de mudar de forma para seu bel prazer e práticas profissionais. Me formei aos 21 anos na Universidade Osaka de Práticas Mágicas. Venho de uma família que é dona da Yokohama Rubber Company, uma fábrica de pneus multimilionária e patrocinadora de corridas de F1. Além disso, também são patrocinadores dos Duelos Mágicos, onde cada mago se transforma em um animal e tenta aniquilar o outro. É o melhor dos dois mundos mortíferos.
–Branca, seu noivo está aqui! - eu moro com minhas 3 irmãs em um bairro vizinho ao de meus pais, e adoro minha vida do jeito que está, principalmente com Daisuke, meu noivo.
–Daisuke-san!! - eu corri escadas abaixo e o abracei.
–Onde estão suas malas? - ele perguntou confuso, com aqueles olhos estreitos e negros,que me fazem ter arrepios sempre que olho pra eles e vejo fogo. É inexplicável a atração que sinto por Daisuke, e eu não teria noivo melhor se não fosse ele.
–Lá em cima, pode buscá-las pra mim enquanto me despeço das minhas irmãs? - ele fez aquela cara de quem está de má vontade, mas nos beijamos selando os lábios por um segundo, e ele foi de bom grado.
Eu abracei as meninas como se Tokyo fosse explodir no dia seguinte, eu sentiria tanta falta das minhas bakas queridas, todo dia de manhã perguntando o que fariam para esquentar o corpo, se correríamos juntas pela orla ou iríamos no parque com os Shih-tzus., ou dar pão aos patos do lago.
–Volte logo, Bishoujo! - a caçula começou a lacrimejar e uma lágrima minha não pode deixar de escorrer no canto do olho também. Eu sentiria falta delas, dos cãezinhos, do meu apartamento maravilhoso, da vista dele, sentiria falta dessa cidade colorida que é Yokohama, sentiria falta de outosan e okaasan, sentiria falta dos cafés da manhã, do jantar agitado e do cheiro dos restaurantes. Só não sentiria falta de Daisuke porque ele iria comigo para Westport Galway.
–Pronta? - ele desceu as escadas com todas as minhas 8 malas e 3 necesecéires.
Dei um último abraço nas minhas 3 irmãs e dei um afago nos espanadores que abanavam o rabo sem ter ideia que eu iria embora logo.
Quando encostei a porta do apartamento e fui para o elevador, ainda não tinha caído a ficha que eu ficaria sem ver esse lugar por muito tempo... Eu poderia sossegar, mas queria fazer mais uma faculdade e trabalhar com o que eu amo, Dragões. Consegui convencer mamãe e papai depois que peguei o primeiro diploma, logo voltaria pra casa com mais uma alegria para a família Nakajima, e nada me deixa mais feliz do que fazê-los felizes.
–Pronta, Branca? - ele me deu um beijo na testa e um ajudante veio colocar as malas no táxi enquanto chovia horrores e eu me preocupava com o horário do vôo. Meu pai insistia que poderia emprestar o jato, mas há um longo tempo que venho pensando em abdicar do luxo que minha família pode pagar. Não quero viver na sombra deles pra sempre, quero ter tudo por minha conta. E tudo é onde eu quero chegar, ser reconhecida pelo meu trabalho e meus dons.
–Vai dar tudo certo. - ele entrou no táxi e segurou minha mão, e sua blusa social azul estava molhada, e eu não pude deixar de sentir calor. Daisuke sempre notou quando estou com vontade dele, e ele tem sempre a mesma reação de sorrir e desviar o olhar, enquanto desliza a mão para algum lugar bobo e me faz rir e sentir mais calor. Poderíamos fazer isso o dia todo, e nunca nos cansaríamos um do outro, nunca.
–Eu queria poder ficar com você. - eu olhei para a minha saia amarela e minhas pernas cheias. - Não acredito que tenho que ficar no dormitório da Universidade. Vai ficar com a king size toda para você!
–Vamos ficar juntos a tarde, e finais de semana. - ele beija minha bochecha enquanto puxa a minha mão que tem o anel de família.
Ele me pediu em noivado na data do nosso primeiro ano de namoro e disse que tinha certeza, e fez isso debaixo de orquídeas multicoloridas suspensas, quando a luz do Sol passava por suas pétalas e folhas verdes e fazia sombras coloridas no chão, como vitrais e eu nunca fui tão feliz. Ele pediu minha mão antes, para a minha família e conseguiu manter segredo de mim, e me fazer a pessoa mais feliz de toda a Ásia, e meu amor por Daisuke ficou escrito no chão daquela estufa, com pétalas jogadas ao chão.
–Vai dar tudo certo. - e eu sorri para ele.
Durante o vôo, ele estava em seu notebook, e eu tentava dormir:
–Muito trabalho? - perguntei.
–Muito. - ele respirou fundo. - A Toyota está fazendo pressão na nossa empresa para nos engolir. Eles são a maior empresa japonesa do mundo, e eu não sei como convencer o meu chefe que podemos crescer... Mas a proposta de compra é boa demais.
–Isso parece estressante. - eu beijei seu ombro.
–Tem sorte de ter seu mundo de princesa. - ele bateu no teclado com força.
Eu o encarei perplexa, e saí da primeira classe para ir no banheiro da classe executiva, de tanto ódio que senti. Mundo de princesa. Era assim que todos se referiam ao meu mundo, como se ele não fizesse parte. Como se ele não soubesse como era difícil e tão merecedor quanto o mundo normal, e isso me revoltava. Era como se eu fosse uma garota loira estúpida falando sobre fadas e duendes. Olhei no espelho a minha maquiagem forte e me dei de cara com o maior dilema que venho enfrentando desde meus 10 anos, quando disse que queria fazer parte do mundo fantástico, quando disse que não via graça nos números da empresa:
–Quem sou eu?
A pergunta bateu no espelho e refletiu na minha pele branca, no meu cabelo platinado e no meu batom nude. Como se nenhum desses itens também se sentissem não pertencentes à mim. E eu me senti fraca. A minha idade só impressiona quando falo da minha carreira estudantil, mas parece que meu corpo não evoluiu junto com o cérebro. As vezes me sinto assim, princesa. Daquelas que se casaram com 16 anos e esperam príncipe. Daquelas que moram no luxo e querem tudo cor de rosa.
–Quem sou eu?
Me de conta também que estava agindo que nem uma louca sem autoestima, e me recompus, voltando para minha poltrona e cruzando as pernas como se nada tivesse acontecido.
–Me desculpe.
Ele tinha fechado o notebook e tinha os pulsos apoiando a cabeça.
–Eu não quis dizer isso, não quis ser mau.
–Eu sei. - e respirei fundo relembrando o céu de orquídeas. E o que eu penso do mundo chato de números e dinheiro. Acho chato. Acho mundo de gente vazia. Mas nunca dissera isso a ele, porque eu não o acho vazio.
–Sakura, eu estou sendo sincero. Eu só estava estressado e não queria descontar em você nem fazer aquela piada idiota.
Quando o olhei, ele estava chorando como eu estava e no segundo seguinte estávamos nos engolindo no banheiro. Quando penso que talvez sejamos muito jovens e tenhamos ficado um ano apenas, eu sinto algo mais forte que me faz esquecer todas essas questões, e eu só rezo que essa coisa mais forte seja o sexo de Daisuke, pois isso é a receita para o desastre.
–Alguém vai nos ouvir! - eu disse entre gargalhadas enquanto ele colocava tudo para fora do meu sutiã.
Quando nosso fogo cessou, voltamos para nossas poltronas para enfrentar mais 20 horas de voo. O que resultaria em várias idas ao banheiro a dois. E isso soou bizarro.
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