Wild Melnikov Schweinsteiger sou eu e tenho 24 anos, nascido na capital da Rússia, Moscou. Eu venho de uma família famosa, bem, apenas meu irmão mais velho é famoso: Bastian Schweinsteiger jogador da seleção alemã de futebol. Toda a minha família se separou após um divórcio complicado onde, depois de anos, meu pai decidiu contar a verdade sobre o mundo mágico para a minha mãe, e ela não reagiu nada bem quando descobriu que o marido era um lobisomem. Na cultura dela, ele era um monstro e não havia qualquer possibilidade deles ficarem juntos e ela disse que mandaria seu pai caçá-lo. Foi quando ele a matou para guardar o segredo dos portais. Meu pai foi preso no mundo mortal e não pôde contar o verdadeiro motivo para ninguém, eu e Bastian tínhamos 8 e 11 anos. Meus avós por parte de mãe nos criaram, mas logo mudanças mais severas que a puberdade começaram a aparecer em mim. Meu irmão deu sorte, não havia nascido como uma aberração e seguiu sua vida como atleta. Eu comecei a escrever escondido para papai contando que o que estava acontecendo e uma noite depois, fui levado de casa. Eu tinha 15 anos quando fui levado para morar com meus avós paternos e descobrir a verdade sobre o assassinato da minha mãe e descobrir o que eu e meu pai éramos.
A verdade foi dura, eu tentei fugir daquela realidade por anos mas nunca achei qualquer portal e logo desisti. Virei um adolescente esquálido que vagava por toda a cidade vendo todo tipo de esquisitices e me sentindo deslocado. Foi quando eu decidi que eu deveria tentar me matar e acabar com aquele pesadelo estranho onde lobisomens existem e matam a sua mãe se ela gritar ser casada com uma besta. Eu era filho de uma besta.
Eu decidi que ia me afogar, sem ter noção nenhuma de como ia me impedir de nadar até a superfície e respirar. Eu apenas nadei alguns metros nas águas geladas de uma praia inóspita e comecei a mergulhar, dando braçadas para o fundo. Por mais que eu desistisse na hora e tentasse subir novamente, nunca daria tempo. E não deu mesmo.
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Mas eu estava vivo na areia e chorei de raiva por não ter conseguido. Agora eu era um suicida fracassado e estava com fome, com frio. Talvez se desse sorte, eu morreria de hipotermia, mas quando tentava abrir mais os olhos, havia uma criatura enorme bem em cima me olhando. Eu me assustei como uma garotinha e gritei fino. Quebrei totalmente o clima de suicide boy emo gótico e dei uma boa olhada. Percebi que tinha asas, mas estava molhado:
–Quem é você, garotão? - e tentei chegar perto. O lagarto gigante não fez objeção nenhuma e eu pude até tocá-lo, como se tivesse cativado o monstro por dias, como o pequeno príncipe. Me senti a própria Daenerys e olhei a cor vermelha dele se tornar cinza por causa das nuvens acima de nós.
Foi quando voltei pra casa depois de 8 meses passando fome, e agora, voltava com um dinossauro voador. A minha avó ficou assustada e saiu do banquinho do jardim, onde namorada o marido por 60 anos. Vovô ficou imóvel, quando sentei ao lado dele:
–Aconteceu uma coisa. - eu coloquei as mãos nos meus olhos, com oc cotovelos apoiados no meu joelho, imaginando um jeito de dizer "eu odeio ser um lobisomem".
–Uma coisa bem grande, não acha? - e sorriu pra mim, e pro animal, com seu suéter cheirando a cachorro molhado. - Não precisa explicar, Wild. Não precisa.
Eu suspirei indeciso, se no fundo, não queria meu momento de drama e contar que eu tentara me matar.
–É um Draco Ignis, meu jovem. Sabe o que isso quer dizer?
–Não. - olhei-o no fundo dos olhos azuis como os meus.
–Quer dizer, que cuspia fogo antes de mergulhar para te proteger, caro Melnikov.
–Você.. sabe? Sabe o que aconteceu na praia?
–Seu pai tentou fazer a mesma coisa para não fazer o que fez com sua mãe. Mas também não conseguiu, se transformou dentro da água e se salvou. Não voltou com um dragão. - falava aquilo como se fosse rotina.
–Então, ele não pode mais cuspir fogo? Por minha causa?
–Sabe o que significa Draco Ignis, Wild? Significa "dragão do fogo" em latim. O fogo é a ferramente dele de sobrevivência. É como se defende, cuida dos filhotes e caça. O que ele vai fazer, se não pode mais cuspir fogo?
–Eu não sei, eu não pedi que ele me salvasse!
–Ele está te pedindo alguma coisa, Wild?
E se levantou, gritando para sua mulher que fizesse bolos de todos os sabores, pois um Melnikov havia trazido um "convidado ilustre". Eu nem sabia se dragões comiam bolo. E como os dragões seriam gordos se comessem bolo.
Do outro lado da cerca, ele me encarava como se estivesse me pressionando com a mesma pergunta do vovô "eu estou te pedindo alguma coisa?".
Anos depois, eu havia aceitado minha vida do jeito que é, com um amigo que não era bem um cachorro. Eu ia para a escola, me transformava o menos possível e fazia tudo com Rex, que foi como eu o apelidei. Meu avó me deu um tabefe por esse nome, mas foi o que pegou. Eu descobri que dragões são selvagens e é contra lei tê-los, então ele fica no chalé afastado junto com meus avós, mas é livre para ir onde quiser.
Foi na escola, sem meu companheiro, que achei outro amigo. Bem, era uma menina:
–Melnikov! - ela era a única menina que insistia em jogar lacrosse com os meninos e eu sempre passava a bola pra ela, pois era incapaz de fazer um gol.
E depois do gol feito, ela levava tapinhas no capacete e sorria pra mim. Foi assim o Ensino Médio inteiro, fazendo trabalhos juntos, estudando juntos, saindo juntos, até que ela me disse que era lobisomem. Quando confessei que era um também, nos beijamos e perdemos a virgindade. Eu sei, foi rápido, mas foi o mais próximo do meu antigo mundo que eu consegui chegar. Não me sinto preso quando ela está perto. Sasha era como eu, queria ser normal. Disse que era pior ser lobisomem mulher. O ciclo menstrual se embaralha todo, a pele muda, os pelos crescem mais rápido e engrossam, e ficam mais furiosas. Ou seja, mulheres licantropas não eram boas esposas. Eu vejo isso como machismo até hoje, eu casaria tranquilamente com ela. Mas a verdade é que eu me sentia como um antigo amigo meu que era gay. Sempre tentando esconder, ficando confuso, estressado.
–Wild? - ela tinha olhos amarelos mesmo quando não estava em forma de lobo.
–Sim. - eu fechei os olhos enquanto ela tinha a cabeça no meu ombro e olhávamos a luz minguante.
–Quando vai me contar do seu dragão de estimação?
Eu me engasguei e eu nunca estive em uma situação tão constrangedora quanto aquela. Disse que não era justo e que já me sentia estranho demais.
Quando propus irmos ao jardim conversar, Rex deitou-se aos pés dela como se já se conhecessem. A ficha caiu quando vovô e ela sempre estavam conversando quando eu tinha detenção pra cumprir e eu e ela nos encontrávamos na minha casa. Óbvio que o velho não havia conseguido escondê-lo dela.
–Eu ia te contar. - olhei pro chão.
–Não ia não. Seu avô me disse que há coisas que ele não pode contar. Não quero fazer você se sentir obrigado a me contar, Wild, mas eu não quero só dormir com você. Você é meu melhor amigo. É meu companheiro de jogada, é minha dupla nos projetos de ciência. Você e eu dormimos juntos todas as noites. E mesmo assim você nunca disse que eu era sua namorada. Eu quero ser sua namorada, Wild, quer namorar comigo?
Eu olhei pra ela perplexo e disse que sim. Eu fiquei sem graça:
–É uma história complicada.
Contei tudo a ela. Do meu mundo mortal, do meu pai, do suicídio, tudo. Contei do motivo de Rex não poder mais sobreviver sozinho.
Naquela época, eu só tinha duas coisas: meu trabalho em uma oficina que faz acessórios de segurança para criaturas, e Sasha.
Depois daquela conversa, eu fiquei só com o meu trabalho.
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