Harris Black Hayek sou eu, e eu nasci da união de uma mulher iraniana e um soldado americano. A maioria dos filhos gosta de ouvir como os pais se conheceram, mas a minha envolve violência, mas que não seja por isso que deixa de ser uma história de amor.
Naheed, minha mãe, tinha 22 anos e era casada, filha de uma família rica, que se casou com um homem ainda mais rico. No entanto, ainda sem filhos. Naquela época, os EUA ainda não haviam invadido o Iraque (aconteceu em 2003), mas o Iraque já estava sendo invadido por outras tropas, e um pelotão de 25 homens invadiu o palacete onde o jovem casal Hayek morava. Saqueram os cofres, e a jovem foi abusada por todo o pelotão. Isso aconteceu em 1996.
Depois da tragédia, ela foi expulsa do Teerã, por ser uma desonra ao seu marido por ter sido estuprada. O contrato de núpcias foi desfeito, e a jovem planejava voltar para casa, mas foi negada pela notícia ter se espalhado até a cidade de Birjand. Foi aí, que ela recebeu o castigo de vagar pelo deserto, a sua própria sorte. Naheed estava grávida pouco antes de sofrer o abuso, mas não sabia. Descobriu depois que eu nasci, com 9 meses completos, ela deduziu que já estava grávida há um mês antes da invasão de sua casa, mas não se atreveu a voltar e contar nem para sua família nem para os Hayek. Antes de eu nascer, uns 6 meses, algumas tropas dos EUA já estavam pousando secretamente no Iraque, e se alojaram no deserto, com suas tendas cor de areia queimada, e Naheed tentava sobreviver de casa em casa, lavando roupas em troca de comida ou água. Foi quando um capitão a viu cair de joelhos.
Depois de seis meses sendo tratada de desnutrição, desidratação, e anemia, os médicos disseram aleluia para o milagre do bebê que ficaria bem, nem sofreria sequelas, apenas tinham de alimentar a jovem e pronto. Dois meses depois, eu nasci. O capitão e Naheed se apaixonaram durante 7 meses e resolveram casar. O capitão só não esperava ficar tão apaixonado quanto ficou, e logo, pedia para ser liberado do serviço militar para poder se mudar para o Canadá, onde sua mulher e filho, ficariam a salvo.
O capitão Black, me pôs seu sobrenome e me criou como filho, mesmo tendo que cumprir serviços internos na base do Canadá, o que ainda me fez ter um pai um pouco ausente. Mas o tempo que conseguíamos ficar juntos, era um amor incondicional. Naheed contou a verdade, e ele disse que a amava mesmo assim, fizeram terapia e nada nunca faltou. Tudo acabou bem, até meu pai ser morto por um ataque de caças, na ilha de Terra Nova. Depois daquilo, minha mãe entrou numa depressão profunda e nos mudamos para o Alasca. Eu tinha 5 anos quando ele morreu, e 3 dias depois houve o 11 de setembro.
Com a pensão que nós recebíamos, ainda vivíamos bem, mas todo o espírito da casa morreu, e tudo ficou cinza até meus 9, 10 anos. Foi quando aconteceu algo comigo que fez todo o brilho de minha mãe voltar, eu havia queimado uma menina sem querer. Não foi bem isso, quando se está muito frio, nós soprávamos aquele hálito quente nas mãos, e eu fiz nas minhas e elas ficaram muito quentes, então eu encostei nos meus amigos, e essa menina pediu que fizesse nela, para ficar quentinha. Saiu mais do que hálito e não foi vômito, foi fogo. Ela chorou, eu pedi desculpas e os meninos acharam irado, mas quando pediram para eu fazer de novo, não consegui repetir.
–Mamãe! - eu voei até a poltrona dela, onde ela se afundava o dia todo, quando não estava na cozinha dando ordem para a empregada. Ficava vendo as medalhas de papai. - Mamãe!
–Harris! - ela sorria sempre que me via, pois apesar de ser filho de seu primeiro marido, ela dizia que eu tinha os olhos verdes de meu pai, o capitão. Era forte apesar de tudo, e não deixaria de me criar por ter ficado viúva.
–Mamãe! - eu tinha bochechas vermelhas, e ela acabara de ficar preocupada.
–Harris, está tudo bem? - ela se ajoelhou me pegando pelos ombros.
–Eu cuspi fogo!
Ela se levantou e trancou a porta atrás dela, e quando voltou a se ajoelhar, havia lágrimas em seus olhos:
–É mesmo, querido?
–É mesmo mamãe!
Então, ela cuspiu uma onda de calor que acendeu a lareira que estava a nossa direita. Depois levou o dedo indicador na boca, me dizendo que era segredo.
A partir daquele dia, fui treinado por minha mãe, com a notícia que eu era da linhagem dos Hayek com os Hassad, duas famílias de dragões orientais, e que eu devia respeitar aquilo, e sempre manter segredo. Um dia, quando tinha 15 anos, perguntei:
–Mamãe, papai sabia que você era um dragão?
–Não. Nosso mundo não pode ser conhecido por eles.
–Os não mágicos. - eu completei.
–E isso incluía seu pai. Eu também não contaria a você se não fosse como eu.
Com 17 anos, podia me transformar em um monstro de mais de 100 quilos, com 13 metros de envergadura, de uma asa até a outra. Uma enorme besta com dentes afiados, garras que faziam curvas, cuspidor de fogo, de cor amarronzada. Minha mãe era de um cinza azulado, ligeiramente maior que eu, também capaz de cuspir fogo.
–Não tem a cor de Hayek, nem a minha. - ela disse, voltando a ser humana. - Deve ser o peso do seu nome.
–O que quer dizer?
–Black, o nome de seu pai. Até alcançar a maturidade, deve ser mais escuro.
–Mas você disse que papai não fazia parte... disso.
–Não importa, você carrega o nome dele. Como carrega o nome de Hayek, mas não carrega o meu. Isso interfere na sua forma.
–Que bom, prefiro ser filho do capitão.
Ela sorriu, e eu ajoelhei para que ela beijasse minha testa, com 17 anos, já tinha 1,87 de altura. Atualmente tenho 19 anos e 1,96 de altura e provavelmente vou crescer mais um pouco. Homens Draco tendem a ser gigantes.
Eu estava fazendo minhas malas para ir para a faculdade, quando Naheed começa a chorar:
–Mamãe, você não queria que eu orgulhasse você e papai, fosse pra faculdade? Vou viver minha vida, ter um emprego, uma casinha e quem sabe uma namorada.
Ela chorou mais e me bateu na mão:
–Quero netos, não conhecer namoradinhas! Quero uma nora! Odeio ficar sozinha! Parece que você está indo como meu marido foi!
Ela afundou na poltrona de sempre, e eu me senti muito mal, mas prometi que voltaria para vê-la na primavera. Dera dois cachorrinhos de presente para ela, e dissera para a empregada Koi, poderia trazer a filha pequena dela, para que fizesse barulho pela casa, para que Naheed não se sentisse tão sozinha em uma casa tão silenciosa. Os cachorros e a criança alegrariam aquela casa e ela mal sentiria minha falta.
Quando entrei no carro a caminho do aeroporto, senti o coração pesar. Também morreria de saudades dela e talvez tivesse de comprar um cachorrinho também, mas o campus nunca toleraria. Mas o gostinho da liberdade fora daquele chalé também me excitava. Dracologia, Westport Galway, aí vai um dragão.
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