— Me ajuda! Eu preciso ficar bonito sem parecer que estou me esforçando — Marco choramingou.
— E deixar o cabelo brilhando com gel é muito discreto, né? Você vai entrar no mar. Vai bagunçar seja lá o que for que você fizer — Beatriz respondeu.
— Poxa! Muitíssimo obrigado!
— Marco, ele já gosta de você. Não precisa forçar nada.
— Agora sim: obrigado.
A irmã sorriu. — Podemos ir?
Marco tirou o gel do cabelo com uma toalha e assentiu.
Chegaram à praia e encontraram Miguel lhes esperando no calçadão.
— Oi, gente! — cumprimentou e abraçou Beatriz. Ele e Marco não sabiam o que fazer, então apenas apertaram as mãos. — Temos um probleminha: minhas mães vieram e querem conhecer vocês.
— Por que isso é um problema? — Marco perguntou.
— Bem, às vezes elas podem ser um pouco… Excêntricas. Aviso dado. Venham!
Os dois irmãos logo avistaram Laura brincando na areia com duas mulheres ao seu lado. Guiados por Miguel, aproximaram-se.
— Mães, esses são Beatriz e Marco. Essa é minha mãe biológica, Ana — apontou para a mulher mais alta. Ela era negra e possuía cabelos curtos e escuros como os olhos — e essa é Fernanda, mãe da Laura.
Fernanda era mais baixa que a esposa. Era ruiva e possuía olhos cor de mel, além de algumas sardas espalhadas por seu rosto.
— Prazer — responderam os irmãos.
As mulheres sorriram e responderam o mesmo.
— Sentem-se conosco — Ana pediu e recebeu um olhar repreendedor do filho. — Marco, o que achou da tatuagem de Miguel?
O dono dos olhos verdes se surpreendeu com a pergunta.
— Interessante. E bem bonita — respondeu.
— Que bom — Ana falou com um sorriso.
— Alguém quer mergulhar? — Miguel questionou com um tom de voz desesperado e um olhar ainda mais desesperado que implorava por uma resposta afirmativa.
— Sim! — Beatriz, Marco e Laura responderam.
— Eu só vou ter uma palavrinha com minha esposa e já vou tomar conta da Laura pra vocês poderem se divertir a sós — Fernanda disse.
O quarteto moveu-se e Miguel olhou para trás sussurrando um “obrigado” para Fernanda.
— Você tem que parar com isso — a ruiva falou.
— Agora não, tá bom? Me deixa em paz!
Fernanda suspirou pesado.
— Tudo bem, mas nós vamos conversar sobre isso em casa — afirmou e foi atrás dos outros. — Podem deixar comigo — disse ao alcançá-los e segurar a mão da filha.
O trio sorriu e foi para um ponto mais fundo do mar. Ficaram juntos por apenas alguns minutos. Beatriz inventou uma desculpa e deixou Marco e Miguel sozinhos.
— Desculpe por minha mãe. Mas lembre-se que o aviso foi dado.
Marco riu.
— Tá tudo bem. Não precisa se preocupar. Admito, foi uma pergunta estranha, mas tenho certeza que ela tem suas razões.
— Você é bem… Compreensivo. E não sei se é estranho ou não você não questionar.
— Eu também não — riu.
— Peço desculpas adiantadas pelo que elas ainda não falaram. Eu sei que vai ser constrangedor.
— Desculpas aceitas. Minha mãe já foi assim. Como não moramos juntos, consigo escapar dessas situações.
— Você mora sozinho?
— Não. Moro com minha irmã. Fica mais perto do meu trabalho, então eu resolvi morar com ela. Ao contrário do que eu espereva, minha mãe ficou super feliz. Começou a viajar pelo mundo pouco depois, mas nós ainda nos vemos frequentemente.
— Você trabalha em quê?
— Sou professor de Inglês.
— Sério? Eu dava aula de Artes. Será que já trabalhamos na mesma escola?
— Provavelmente não. Eu estava dando aula apenas em escolas de língua. Será minha primeira vez ensinando no Ensino Médio.
— Boa sorte. Você vai precisar se adaptar um pouco para conseguir lidar com adolescentes. Experiência própria! — riu.
— Pelo menos eu vou te ver por lá para receber umas dicas, certo?
— Não. Faz uns dois anos que comecei a dar aula particular.
A resposta não agradou Marco.
— Mas podemos nos encontrar em qualquer outro lugar. É só marcar — Miguel apressou-se em dizer. — E eu posso te dar dicas pelo celular. Você tem meu número.
— Que tal nos encontramos agora? Ok, isso saiu estranho. Enfim, conheço uma sorveteria muito boa aqui perto. Vamos?
Miguel sorriu e assentiu.
Os dois voltaram para o resto do grupo e vestiram as blusas. Comunicaram que iriam à sorveteria e Miguel implorou com o olhar para não deixarem Laura ir com eles. Fernanda compreendeu o olhar e deixou-os ir sozinhos.
— Será que já é amor? — Fernanda cochichou ao ouvido da esposa.
— Não, não é!
— Você acha que não é ou não quer que seja?
— Você sabe como ele ficou da última vez.
— Sim, mas não dá pra impedir pessoas de se amarem.
— Se for necessário, eu o farei.
— Ana, você viu eles. Os olhares, os sorrisos bobos e o rubor nas bochechas quando os olhos se encontram. Pensei que você de todas as pessoas pudesse identificar isso. Talvez eles ainda não definam seus sentimentos como amor, mas é o que é.
Ana bufou e foi brincar com Laura antes que iniciassem uma discussão no meio da praia e em frente da filha.
***
— Qual o seu favorito? — Miguel perguntou enquanto admiravam os diversos sabores de sorvete.
— Pistache.
— Pistache? — perguntou com as sobrancelhas erguidas.
— Qual o problema?
— Nenhum. Só pensei que você tivesse um gosto mais simples, como chocolate.
— É? E qual o seu favorito?
— Paçoca.
— “Pensei que você tivesse um gosto mais simples, como chocolate” — disse com um tom de voz agudo e mostrou a língua logo depois.
Miguel sorriu e também mostrou a língua.
Cada um se serviu e sentaram-se numa mesa fora do estabelecimento.
— Por que você não dá mais aula para o Ensino Médio?
— Estava complicado para mim. Minhas mães não podiam ficar sempre com a Laura, então eu resolvi dar aula particular. Assim posso tomar conta da minha irmã quando Ana e Fernanda não puderem. E você? Porque resolveu ir para o Ensino Médio?
— Não sei ao certo. Acho que eu precisava de um desafio — sorriu.
— E decidiu começar pelo nível mais difícil?
— Parece que sim— deu de ombros.
Quando o silêncio se fez ouvir, Marco repousou uma de suas mãos sobre a mesa. Poucos segundos depois, Miguel fez o mesmo. O dono dos olhos azuis foi receoso: esticou apenas o indicador e tocou a mão de Marco. Não havendo rejeição, envolveu-a por completo. Ambos sorriram e coraram, evitando contato visual logo de início.
A conversa seguiu meio tímida. O assunto foi livros, filmes e jogos.
No caminho de volta à praia, seguraram as mãos e pareciam transbordar felicidade.
— Lá vêm os pombinhos — Fernanda declarou ao avistá-los. Ana bufou e Beatriz sorriu.
Os dois rapazes mal chegaram ao grupo, Ana levantou-se num pulo e começou a arrumar as coisas.
— Estamos indo pra casa — falou ríspida.
— Já? — Laura perguntou desapontada.
— Sim, pequena. Temos que acordar cedo amanhã, esqueceu?
— Sim — disse fazendo biquinho.
— Mas é claro que o Miguel pode ficar mais um pouco se quiser — a ruiva interviu.
— Não, não pode. Somos uma família. Ficamos juntos.
Miguel suspirou pesado e soltou a mão de Marco.
— Desculpa. Depois eu te explico — falou e foi ajudar as outras a organizarem seus pertences.
A família se despediu e foi embora poucos minutos depois, deixando os dois irmãos a sós.
— Me conta tudo — Beatriz disse.
Marco sorriu bobamente e contou os nem tão emocionantes eventos que aconteceram.
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