Com uma das mãos sobre a chave, preparando-se para abrir a fechadura da porta, porém, temeroso com o que lhe aguardava além dela, seus dedos doíam só pelo fato de estar apertando com força a fechadura de modo inconsequente, tanta força que poderia arrancar o batente da porta. Sua cabeça latejava devido ao conflito interno, uma verdadeira guerra destrutiva com bombas e mísseis. Sua dúvida se concretizaria? Seria uma certeza?
Em seu coração, desejava que estivesse enganado ou estaria preso dentro de um pesadelo como os que tinha quando criança. Afirmava com veemência que era tudo uma grande e horrenda ilusão proporcionada pelo álcool que corria em suas veias. Não sabia ao certo se encontrava no mundo real ou em algum conto macabro. A essa altura, sua visão tornou-se cinza, assim como ele mesmo, sua cor se foi juntamente de sua coragem. Seus medos antigos voltaram todos de uma vez como um soco, quase fazendo-o cair. Suas pernas bambas não ajudavam a manter seu equilíbrio, quase não as sentia.
Seus demônios interiores sussurravam em seus ouvidos, dizendo que sabiam a resposta e oferecendo a proposta que todo oprimido certamente aceitaria, sem questionar o valor da vida: sua alma em troca do seu amor. Um desespero lascivo e perturbador o corroía e se espalhava por todas as suas extremidades, denominado medo. Com suas forças mínimas, tentava reunir o pouco de esperança que lhe restava, tentava trancafiar seus pensamentos para finalmente voltar seu foco e abrir de uma vez a porta. Respirava fundo e mordia seu dedo médio da mão livre profundamente, até sentir o sangue escorrer entre seus dentes. Então, depois de voltar a rodar a maçaneta e abrir a porta, lá estava o homem que era o motivo dos seus sorrisos, deitado sobre a cama, onde tantas vezes se uniram e se tornaram um só. A cama estava forrada com o edredom branco, com detalhes de flores, do qual tanto gostava, agora manchado de sangue. E junto a esse mar, o homem que amava e que lhe dizia "Eu te amo" diariamente. Agora, a vida não teria mais beleza, ele via apenas sua feiura ao encarar a morte. Entre lágrimas, deu um último beijo na testa do amado e, com a mesma faca usada pelo outro, cortou sua garganta, indo encontrar seu único motivo para ser feliz, onde quer que estivesse, pois sem amor não há significado em continuar.
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