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As consequências da honra

Trindade

Trindade

May 26, 2017

“Ilumina-me com tua sábia luz
Guia minha mão para espantar o caos
e impedir sua entrada em nossos domínios.”

Lembrava-se bem a primeira vez que empunhara a espada. Uma cerimônia simples, com apenas os três irmãos e seu pai às margens do rio que dividia as árvores e a cidade. Pouco depois de sua mãe, a Guardiã anterior, ter falecido pela praga. Elle ajoelhou-se perante a floresta, recitou o juramento e tirou Nur Al-Huda de sua bainha, fazendo o metal brilhar e iluminar o caminho para a Fonte, no coração da floresta.

Nur Al-Huda existia muito antes da construção do castelo e da formação da floresta que o cerca. Passado de primogênito para primogênito, Ellesin não tinha certeza do que sentir quando foi a vez dela de proteger as terras da família.

Juro a ti meu viver e meu morrer,
e me acompanharás a cada passo
meu, igualmente sob os meus cuidados,
selado em nosso contrato de iguais”

"Uma maldição."

— É uma honra! — Artaris disse ao primeiro sinal de dúvida em sua mente, como se simplesmente soubesse — Se eu tivesse nascido primeiro, estaria conten--— Não, estaria em êxtase só de pensar em poder controlar a espada!

"É fácil falar" ela pensou, é o mais novo.

Mas estava certo, não havia como negar. As chaves de Paradiso eram agora dela para manter e proteger. Sua criação girou em torno desse dia, cônjuge ou trabalho algum mudaria isso. Preparou-se por muito tempo para isso.

Mas por que se sentia tão nervosa?

Valia a pena abrir mão de sua liberdade pela honra de uma espada antiga?

“Protegerei Paradiso, sua terra e
vida, nas tantas formas que requeres,
pois eu juro que não falharei a ti. ”

Lembrava-se também de sua primeira ação real como protetora da floresta, dois irmãos que se achavam muito espertos e muito gananciosos, o que os guiou à morte. Há algumas gerações o simples som do desembainhar da espada era o suficiente para afugentar jovens aventureiros da floresta e dos portões, mas um deles decidiu testar o poder da espada. Crianças se tornando cada vez mais ousadas. Quando tudo acabou, precisou da ajuda de um sacerdote para purificar novamente a água, num processo que demorou semanas de oração e sacrifício.

Era perturbada até hoje pelas vozes das melíades mortas, em seus sonhos, mas preferia não dar muita atenção a elas.

“Peço-lhe que me aceite, Nur Al-Huda
Como tua portadora e tua voz.”

Era perturbada também por Ekuy, o irmão do meio, e uma moça que não fazia ideia de quem era. Fazia seu desjejum em pé, caminhando preguiçosamente de um lado para o outro. O rabo de vaca da mulher acompanhava o movimento.

A espada descansava ao lado da primogênita, sem qualquer manifestação.

— Uma huldra? Mesmo? — Comentou enquanto a mulher saíra por um segundo. Teria que revistá-la antes de ir, para que não levasse nada do castelo consigo.

— Você disse que queria uma governanta, saiba que o tipo dela já está ligado a bosques naturalmente. Achei que ela se acostumaria fácil ao lugar — Ekuy espreguiçou-se, alongando as asas, e sentou-se à mesa — Faz parte da seleção, irmã.

Nove anos depois do juramento, Ekuy parecia não ter mudado. Como o trabalho de Ellesin foi o de proteger as terras dos que invadiam, o de Ekuy era se certificar que ninguém se atrevesse a ultrapassar a fronteira. Espalhava boatos e distraia as cidades próximas à Paradiso com festivais e melhor qualidade de vida. Se havia tranquilidade na cidade, para que se aventurar nas redondezas? Claro que havia alguns que fugiam à regra, e era principalmente aí que Ellesin entrava em ação.

— Não me olhe assim, Elle. — Apontou a colher na cara da mais velha, depois usando-a para puxar a tigela de frutas para si — Sei o que estou fazendo. Não quer poder visitar Artie? Sair daqui e ir além do rio e das montanhas?

Olhou a espada por um momento, e então seu irmão.

— Tire-a daqui. Nur Al-Huda não a quer.

Levantou-se, pegou sua espada e saiu do salão, sabendo que o irmão não questionaria a sabedoria da espada, mesmo sendo uma mentira. Ao passar pela huldra novamente, demorou-se em suas costas. Não-alados lhe pareciam um tanto... Desprezíveis. Não conseguia imaginar uma vida condenada a manter-se no chão. Limitada à floresta, claro, mas o voo era uma de suas mais queridas satisfações.

— Essa espada mexe com a sua cabeça, irmã — ouviu Artaris em sua cabeça, apenas para depois perceber que apenas entrava em outra lembrança. Estavam na fronteira da floresta com a cidade, demarcada por um riacho. Cada irmão em seu lado, impossibilitado de cruzar a água.

— É o que nossa mãe enfrentou. Devo ser forte para fazer o mesmo — Não tinha a espada perto de si. Uma vez que presenciara do que ela era capaz, Artaris não se mostrava confortável perto de Nur Al-Huda. Então evitava ter os dois no mesmo espaço.

— Não sei... Me parece muito o peso para carregar sozinha. Mamãe não foi titulada até os 30 anos, teve muito mais tempo para aprender e se adaptar — suspirou e buscou algo em sua bolsa. Tirou de lá um pequeno cubo, com uma pequena luz vermelha em uma das faces — É uma armadilha, um dos meus clientes deu permissão para reproduzir. Poderíamos espalhar pelo lugar todo e mandar atacar apenas as espécies não-nativas.

A criança mais nova, rebelde desde sempre. Recusava-se a seguir as tradições da família à risca e tinha paixão pelo metal bastardo dos humanos. O pai banira assim que Artaris trouxe o aço deles para dentro de Paradiso, um presente que ganhara de uma cidade vizinha e uma grave, grave violação ao Alake, o livro com todas as diretrizes da família.

— Não poderei mais visitar você, — Artie continuou, tateando o cubo com cuidado suficiente para não ativar a armadilha — A oficina tem recebido muita demanda esses meses, e com a chegada das indústrias, eu preciso trabalhar mais na qualidade para não perder meus clientes...

O menor dos irmãos deveria promover a paz entre os habitantes da floresta, como conciliador, esse era seu dever a seguir. Entretanto, Artie via as coisas de forma diferente. Queria o caos e o avanço. Mudou-se então para além das montanhas, onde ficaria longe do alcance do pai, e livre para moldar o metal bastardo ao seu bel-prazer. Usava-o para suas criações: quase-seres imortais, servos daqueles que ofertam o maior preço, armas de morte em massa... O medo em comum era o melhor conciliador, assim pensava Artaris.

Elle permaneceu em Paradiso com Ekuy, mesmo após a morte de seu pai. Artie, uma vez banido, nunca pôde voltar, mas recusava-se a deixar de cuidar dos bosques que lhe criaram, então oferecia suas bugigangas como presentes a Paradiso.

A espada dizia-lhe para não deixar o metal bastardo dentro das terras. Apenas trar-lhe-ia revés. Mas a guardiã confiava em Artaris. Se dizia ter o controle sobre o metal dos humanos, a irmã creria.

Não plenamente, mas creria.

Acolheu as invenções de Artie em sua floresta com um pé atrás. Ekuy havia dado o seu apoio, e era apto a entrar e sair das terras, mandando notícias dos dois lados, mas a cada vez que se aproximava de suas invenções, Nur Al-Huda a advertia a banir o metal bastardo do território da família.

Anos haviam se passado desde a última vez que viu Artaris, e uma previsão para sua próxima visita não existia.

— Sabe, Elle... — Ekuy disse, uma vez — Ontem lia Alake e--

— Tirou o Livro do lugar? Não--

— Sim! — Ele a interrompeu — Mas me escute. Lia os deveres do guardião. Você pode sair das terras!

Ellesin olhou o irmão como se não tivesse visto aquele rosto pelos últimos vinte e tantos anos. Ekuy sorriu e se afastou, buscando alguns papéis da estante.

— As regras dizem que Nur Al-Huda deve permanecer em Paradiso com seu protetor em todos os tempos. — Apontou uma citação do Livro em seu papel, sorrindo como num primeiro dia de neve — Mas caso o guardião não esteja presente, caso morra antes do juramento, se recuperando de algo ou coisa parecida, a espada pode escolher outro para tomar seu lugar.

— Outro? O próximo na sucessão seria--

— Eu. Sim. Mas a responsabilidade é muita para mim e Nur Al-Huda sabe — Deu de ombros e virou a folha — Agora, se pudéssemos encontrar alguém digno da espada, esse seria o protetor das terras até que o guardião, você, se apresentasse novamente.

— Irmão, pessoas das cidades não são bem-vindas nas terras.

— Pessoas comuns não são bem-vindas — Era notável o quão animado ele estava. Amava os irmãos plenamente, assim como ela e Artie o amavam. O desejo de ter o trio junto era recíproco em todas as partes. — Tenho bom olho para isso, deixe-me escolhê-los quando for à cidade e a espada fará o julgamento!

Elle olhou Nur Al-Huda em seu colo e tateou as pedras que a enfeitavam. Se Ekuy estivesse certo, poderia voltar a ver Artaris. Apenas precisaria de alguém para tomar seu lugar, mesmo que só por um tempo.

E assim passaram outros dois anos com a mesma cena matinal. O irmão traria pessoas das três cidades mais próximas, enquanto Ellesin e a velha espada fariam a decisão final. E a cada manhã perdia um pouco mais a esperança de ver Artaris novamente.

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Primeiro capítulo do arco "Busca".

O juramento foi feito seguindo a métrica poética decassilábica, contado até a última sílaba poética tônica.

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Olha só.... Um uma história do Nyah!? Estarei lendo!

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"Ilumina-me com tua sábia luz
Guia minha mão para espantar o caos
e impedir sua entrada em nossos domínios.

Juro a ti meu viver e meu morrer,
e me acompanharás a cada passo
meu, igualmente sob os meus cuidados,
selado em nosso contrato de iguais

Protegerei Paradiso, sua terra e
vida, nas tantas formas que requeres,
pois eu juro que não falharei a ti.

Peço-lhe que me aceite, Nur Al-Huda
Como tua portadora e tua voz."

Presa por um juramento, Ellesin passou preciosos anos longe de Artaris, parte querida do trio Kersan. Por quase uma década não lhe foi permitida a saída do bosque que a família se dedicava a zelar e proteger desde o início dos tempos, até que seu irmão, Ekuy, achou uma alternativa; uma brecha nas leis da família que possibilitaria a primogênita de ter a liberdade que lhe foi tirada pela honra e de ter os três juntos novamente.
Mas a reunião de família pode desencadear fatores que coloquem em risco não apenas as terras as que a família tanto se dedicou, ao passar das gerações, mas todo o equilíbrio que o bosque proporciona.
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