Dezessete e quarenta da tarde, quase indo embora o sábado nessa cidade grande onde posso correr atrás de meu sonho. Estou ficando ansioso para caramba apenas tendo meu próprio apartamento na frente dos meus olhos de tão bonito que é, principalmente quando tudo está limpo e nos seus devidos lugares. Eu sou bom para limpeza.
E sobre a cidade. Sunomono é grande, mas muito pacífica. Também não é uma São Paulo da vida. A única razão de eu estar aqui é por causa da Universidade de Sunomono, uma das melhores do país e o único lugar onde posso estudar zoologia. É o mais próximo de mim também. Outros lugares eram longe de onde eu morava com minha família. Eu passei no vestibular tendo estudado por meses e meses; agora é minha oportunidade de seguir o sonho para longe, uma nova jornada para seguir sozinho.
Na janela olhando ao redor da rua, na minha frente tem um parque, ótimo lugar onde posso descansar e praticar a meditação quando puder. Essa rua, que mais é uma quadra em torno da praça, não é barulhenta, outro ponto positivo. O verde na minha frente, o bom ar que posso respirar e sentir o doce vir das folhas, a pacífica vizinhança – se eu tenho – e o mercado de ervas próximo, para não dizer sacolão. O que mais posso querer para admirar esse lugar? Bom, o fato de estar sozinho é decepcionante às vezes.
Na família, eu tive um bom crescimento com meus pais numa casa infestada de plantas e ervas de todos os tipos. Aqui começa meu gosto por plantas. Eu lembro que tinha oito anos e minha mãe desapareceu sem explicação. Eu acreditava que meu pai sabia onde ela foi, mas ele nunca disse. Talvez sabia, mas não queria machucar meus sentimentos de criança. Eu queria ter mais tempo com minha mãe. Eu amo muito ela, mas desde então, com meus vinte e dois anos, eu nunca mais a vi nem tive notícias. Cresci com meu pai e às vezes visitava meu avô, pai da minha mãe, um doce de pessoa. Foi ele que me deu um vaso de porcelana verde folha com um cinza leve, cores que ele amava e também porque essa família gosta muito de árvores e estudar as ervas. Não faço ideia de quantas espécies de plantas há na casa dele. Agora, olho para as árvores e vejo o Sol se pôr no seu tom alaranjado de forma leve com o verde das folhas batendo e fazendo uma boa pintura, imaginando se minha mãe estaria no Céu ou peregrinando ao redor do mundo – ou na cidade próxima. Ela dedicou muito para construir a vida que tem. Suspiro e sorrio ao mesmo tempo. Devo ser grato por tudo que aconteceu na minha vida, meu pai cuidando de mim, o sonho que estou tendo a possibilidade de chegar e ser um forte homem sobrevivendo todos os prejuízos, preconceitos e piadas.
Preconceitos que nem lembro direito, mas se sofri passei.
Como eu disse antes, estou aqui para seguir o meu sonho. Consegui passar na universidade e finalmente irei estudar zoologia. Eu sei, é uma área estranha e até exótica para mim – talvez motivo das piadas –, mas sempre gostei de estudar os animais e saber como são seus comportamentos. É tipo biologia. O estudo da vida é muito curioso e interessante.
Virando e olhando o meu novo lugar, uma simples sala de estar com sofá, TV, algumas fotos e um grande leque sobre a mesa. O vaso eu coloquei no meu quarto só para ter o que ocupar.
O que fazer? Ainda é cedo. Não tem como dormir agora. Talvez eu compre alguma comida enquanto escurece.
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