Era inverno!
Um inverno tão intenso que Noah era capaz de sentir o frio penetrando seus ossos.
O ranger medonho enquanto caminhava, o trincar estridente de sua mandíbula quando tremia e o silvar do vento eram os únicos barulhos que ele escutava na floresta, que era coberta por uma espessa camada de neve. Os dias de inverno passavam lentamente, principalmente para pessoas que não tinham condições de afastar o frio. E eram em momentos como aquele, que Noah sentia como se o chiar do vento fosse como um aviso, um aviso de que a qualquer momento a morte o levaria.
Ele riu fracamente, sentindo o ar seco penetrar seus pulmões fazendo com que tossisse dolorosamente.
Seu estômago rugia de maneira feroz, querendo que qualquer coisa o preenchesse, algo que pudesse aplacar aquela sensação infernal de fome. Sua visão ficou turva, Noah tentou a todo custo manter-se consciente, porém a brancura que cobria o chão era tão cegante que fazia com que ele quisesse fechar seus olhos.
Apertando firmemente o cabo da velha faca que usava para extrair a pele dos animais que capturava, a pressionou sobre a pele exposta de seu pulso vendo uma linha vermelha se formar e uma pequena quantidade de sangue fluir juntamente a sensação de ardência. Rangendo os dentes perante aquela sensação dolorosa que parecia dez vezes maior que o normal – tudo parecia piorar no inverno. – Mas valia a pena, a dor o manteria acordado.
A fome avassaladora fazia com que a cada cinco minutos ele encarasse os dois coelhos enrolados em trapos, o que evitava que o sangue formasse um rastro na neve, que certamente poderia chamar a atenção de algum animal faminto.
Estava com fome, morrendo de fome, entretanto o frio era tão intenso que seria impossível fazer uma fogueira. Não havia pedras, galhos ou folhas secas, tudo havia sido molhado pela chuva. Uma chuva que durou semanas, semanas em que Noah quase morreu de fome, o que realmente poderia ter acontecido se ele, assim como a maioria dos moradores daquele vilarejo, não tivesse estocado o máximo de alimento que podiam. E, assim que a comida estava prestes a acabar, a chuva cessou e a neve começou a cair, dando início a um dos piores invernos que era capaz de lembrar. Um inverno que fazia o animal mais feroz congelar até a morte e naquele momento, dificilmente algo não estaria congelado, desde os animais até as plantas.
Sorrindo fracamente ao ver o fim daquela trilha, vendo aquele pedaço de madeira tão familiar que ele poderia descrever cada arranhão, marca de carvão e manchas de mofo de olhos fechados. Noah não pode deixar de soltar um suspiro de alívio ao imaginar-se do lado de dentro, longe do vento frio do inverno.
Quando finalmente chegou em frente ao pequeno casebre, sentiu que seu corpo pesava tanto quanto chumbo e ao abrir a porta de madeira velha e desgastada, foi saudado pelo completo silêncio.
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