— Fala com ele!
— O-O quê? Do que está falando?
— Marco, eu te conheço bem. E ele já deu umas olhadas pra você — Beatriz falou.
— S-Sério?! — os olhos verdes se arregalaram e Marco falhou em conter sua excitação. — Mas ele deve ser casado — disse num muxoxo. — Ele tá com uma garotinha. Deve ser filha dele.
— E ele deve estar pensando que eu sou sua namorada, mas eu sou sua irmã.
Marco não respondeu, apenas calou-se enquanto inúmeros pensamentos martelavam sua cabeça.
Ambos tinham uma diferença de dois anos. Enquanto Beatriz tinha olhos e cabelos castanhos, Marco tinha olhos num tom verde esmeralda e cabelos negros. Depois de muitas brigas, os dois se tornaram inseparáveis e estavam na praia para tentar aturar aquele calor infernal do verão.
A praia não estava muito cheia. Já estava de tarde, quase anoitecendo, e a maioria dos banhistas já tinha retornado a suas casas.
— Vai lá! — Beatriz tornou a falar num tom mandatório.
— Não! — Marco cruzou os braços e fez biquinho.
— Tudo bem. Ele tá vindo pra cá — disso com um sorriso vitorioso.
— O quê?
Marco ergueu o olhar e viu o homem se aproximar segurando as mãos da menina. Não pôde expressar seu desespero porque eles já estavam bem próximos.
— Desculpe incomodar — disse o homem —, mas minha irmãzinha queria te entregar isso — apontou para a criança que se escondia atrás de sua perna.
A menina olhava os outros dois por trás dos cabelos loiros sobre seu rosto. Estendeu uma das mãos à Beatriz e mostrou-lhe uma concha.
— Ela é tão bonita quanto você — disse timidamente.
— Obrigada, princesa! — Beatriz aceitou a concha com um sorriso. — Eu te daria uma flor que é tão bonita quanto você, mas eu não tenho nenhuma.
— Tudo bem — a garota tornou a falar. — Se você virar amigo do meu irmão eu já fico feliz.
— Laura! O que está falando? — o homem perguntou um tanto surpreso.
— Ele não tem muitos amigos — a menina continuou sem dar atenção ao irmão. — Mas deve ser porque ele não sai muito de casa.
— Ok, Laura. Acho que nossos amigos já ouviram o bastante.
— Não, eles ainda não são nossos amigos. Vocês querem ser nossos amigos? — perguntou cravando seus olhos azuis nos outros dois.
— É claro! Eu sou Beatriz e esse é meu irmão, Marco.
Marco sorriu timidamente e balançou a mão dizendo “oi”.
— Eu sou Laura e esse é Miguel — sorriu.
— P-Prazer — gaguejou. Não estava confortável com o que a irmã dissera. Sentia-se exposto.
— Sentem-se — Beatriz ofereceu empurrando Marco e chegando para o lado, abrindo um espaço na canga na qual sentavam.
Os outros dois irmãos aceitaram a oferta e o silêncio se instalou.
— Então… Por que gostam desse horário pra vir à praia? — Beatriz perguntou.
— É mais calmo e tem menos gente. E moramos aqui perto, então podemos voltar pra casa rapidinho — Miguel respondeu. — E vocês?
— O mesmo. Mas moramos um pouco mais longe.
Ficaram em silêncio por mais tempo enquanto Laura lançava olhares ao irmão incentivando-o a conversar.
— Gostei da sua tatuagem — Marco falou por fim.
— Obrigado — Miguel respondeu um pouco receoso.
Miguel estava vestindo apenas uma bermuda, deixando seus torso exposto. Marco reparara em seus músculos, porém, se maravilharam com as asas tatuadas em suas costas.
— Elas te fazem parecer um anjo—- Marco continuou e se xingou mentalmente logo em seguida. “Não flerta com ele agora!”, repreendeu-se.
Miguel sorriu e agradeceu, olhando para baixo e rezando para não verem suas bochechas corarem.
Laura levantou-se e pegou a mão de Beatriz.
— Vamos montar um castelo? — pediu.
Beatriz sorriu e aceitou a proposta, erguendo-se num pulo. Ambas se aproximaram do mar e começaram a brincadeira.
— Seus pais estão por aqui? — Marco perguntou.
— Mães — Miguel corrigiu prontamente. — E não. Elas praticamente me imploraram pra trazer a Laura hoje. A pequena não parava de pedir e elas estavam cansadas.
Marco assentiu e começou a admirar o outro sem perceber. Bom, seus olhos azuis e os cabelos castanhos encaracolados realmente o faziam parecer um anjo.
— Tem alguma coisa errada? — ele perguntou.
— Hã?!
— Você tá me encarando — respondeu com o olhar fixo ao chão.
— Desculpa! Eu nem percebi.
“Me distraí com sua beleza”, pensou.
— Promete que não vai me achar estranho se eu te perguntar uma coisa? — continuou.
— Prometo.
— Posso te dar meu telefone?
Os dois coraram e evitaram contato visual.
Miguel refletiu por um momento. Ele provavelmente estragaria tudo, mas resolveu correr o risco.
— C-Claro!
Marco pegou uma caneta e um pedaço de papel da bolsa da irmã e escreveu seu número, entregando-o para Miguel.
Os sorrisos bobos dançaram nos lábios enquanto ficavam em silêncio e observavam as irmãs um pouco mais à frente. Permaneceram assim por alguns minutos.
— Sabe qual a melhor parte disso tudo? — Miguel perguntou por fim. Marco balançou a cabeça confuso.
O dono dos olhos azuis segurou o outro pelo pulso e o arrastou para umas pedras que tinham ali perto. Não estavam muito longe, pois ainda podiam ver Laura e Beatriz.
Miguel começou a subir as pedras. Estava a aproximadamente um metro do chão. Marco o seguiu.
— Apresento-lhe a maravilha do Universo.
Marco ergueu o olhar e ficou embasbacado com a vista. A Lua brilhava forte e o céu estava salpicado de estrelas. As ondas do mar iam e vinham lentamente, deixando a paisagem ainda mais admirável.
— Este é o meu lugar favorito na Terra. Às vezes eu “fujo” de casa e venho pra cá quando quero me esconder do mundo. Geralmente venho de madrugada, então fico sozinho.
Marco apenas balançou a cabeça. Ainda estava maravilhado para conseguir articular palavra alguma.
Miguel sorriu. Talvez aquilo desse certo.
***
Já eram quase nove da noite quando saíram da praia. Cada dupla de irmão foi para seu próprio canto e se despediram com a promessa de se encontrarem novamente no dia seguinte.
— Satisfeito com o encontro? — Beatriz perguntou quando entraram no carro.
— Muito — Marco respondeu com um sorriso.
— Quando será que conheceremos a esposa de Miguel? — zombou e só não levou uma cotovelada porque estava dirigindo.
Chegaram em casa após cinco minutos na estrada. Marco se surpreendeu ao ouvir o telefone tocar. Era uma mensagem:
“Obrigado por hoje. Eu e Laura nos divertimos bastante! Boa noite”.
Miguel recebeu a resposta pouco depois e não conseguiu parar de sorrir para o visor do celular. Talvez realmente desse certo.
“Boa noite, anjo”.
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