A primeira vez que te vi andando esgueiramente pela noite fria me fez pensar o quanto éramos de uma raça diferente, seu nariz era fofo como uma batatinha, sua pele era tão dourada quanto a sua jujuba, tinha cabelos muito mais altos que meus escuros pelos e apesar de andarmos sobre duas pernas, parecia que não tínhamos mais nada em comum... pensara Henrique, apenas um guarda do palácio real, que fora chamado aos gritos para aprisionar a temida "besta" a solta.
A primeira vez que te vi me seguindo pela noite estrelada, você mais me parecia um lobisomem espreitando a melhor oportunidade para me atacar, eu, sozinha, mulher, presa fácil para um animal tão grande nesse reino desconhecido que eu acabara de desembarcar... pensara Ana Beatriz dos Santos, apenas uma enfermeira de 32 anos, que por azar caira em cima de um ser mimado minutos atrás e estava a ser perseguida.
A primeira vez que se viram, sabiam, que eram não feitos um para o outro e mesmo assim, quem diria, que no dia seguinte seria anunciado exatamente isso, Henrique Nunes ficaria noivo de Isabel Limburgo, filha de um barão de Limburgo, estado do sul do reinado. E Ana Beatriz seria mandada para a prisão após quase matar o príncipe George II ou o tal do mimado, pensaria ela.
Mas vamos começar a história do início, numa belíssima noite festiva similar ao nosso ano novo, só que não!
Assim como você, nossa personagem principal Ana estava a entender nada. Ela pensava que estava louca ou que aquilo tudo seria uma espécie de Alice no País das Maravilhas ou no caso, País do Baixo Norte, e estava ansiosa para saber se acordaria após sua jornada.
Sem forças para raciocinar e com sua barriga roncando, ela foi levada a julgamento em público junto com mais um par de bêbados que estava ontem na festa.
E o que seria essa tal festa? Ela não sabia, ontem mesmo estava em seu apartamento na cidade de Amsterdã, onde acabara de chegar após várias emergências na madrugada do ano novo e ela nunca chegou a entender porque aquele tanto de gente se queimava com fogos de artifício. "No Brasil não tinha isso, tinha outras milhões de outras coisas... Talvez até piores do que..." refletiu durante a ducha rápida e logo caiu de sono ao lado do seu marido Jan, nome tão simples, mas que Ana demorou uns meses para acostumar a pronunciar esse J com som de i, "iiiii" seria uma cilada se casar com "estrangeiro"? Estranhamente não, "Ian" era um simples holandês alto e meio calvo de olhos castanhos claros e enquanto ele tentava aprender a falar batata, Ana tentava "aardappel", mas por muito tempo, ambos só falavam "potato" mesmo, se tivessem começado pela banana tudo teria sido mais fácil.
Mas será Jan o nosso famoso "male lead"? Vai ter que ler para saber.
Após ambos estarem em seu quinto sono, Ana finalmente abriu os olhos e percebeu-se deitada na grama molhada sob a luz da lua. Mal tivera tempo para apreciar o calmo cenário quando melodiosos miados surgiram ao seu redor, como se gatos reverenciarem todo o misticismo noturno. Assustada com toda a situação, ela correu pelo jardim “Jan, tá aí? Que que tá acontecendo?”. Cansada e desorientada, tropeçou numa mureta e por 10 minutos ficou em queda livre, livre do que exatamente? Ana não sabia, mas ao menos já não ouvia miados e por um momento pensou que teria dormido na praça e que se tudo fosse um sonho, uma queda definitivamente a acordaria, mas sua expectativa foi quebrada quando supostas rosas amorteceram sua queda e ela ouviu um grande miado, o que a fez no susto dar uma cotovelada de esquerda no que quer que estivesse ali.
- Como ousa, sua... - o príncipe olhou-a com surpresa e desgosto - Sua besta! Monstro! Socorro!
- O que???? Eu, besta? Você que é! Foi sem querer, seu mimado! - Gritou Ana sem nem sequer olhar
- Prendam essa besta!!!! Socorro! Corte-lhe a cabeça!!!!! - Gritou o príncipe
E sem pensar muito, lhe deu com o outro cotovelo e saiu correndo. Olhos amarelos a seguiam por toda a parte, ela sentia que tinha uma sombra se aproximando e é então que um gato preto pula em sua frente. "Mas que azar do c!!!!!" grita internamente até notar que aquele gato estava muito maior do que o esperado, vestia uma roupa com tarja vermelha e andava sobre duas pernas e isso foi o suficiente para ela paralisar ali mesmo e retomar os sentidos no dia seguinte na prisão, famosa por decapitar crimes contra a realeza.
"Quem diria que existiria tal reinado dos gatos 'human like'..." pensou Ana ao ser encaminhada acorrentada com os tais "dois bêbados, ou melhor, gatos, ou melhor, gatos humanos, ou melhor, gatunos..." decidiu Ana que os chamaria assim por enquanto, dando um leve sorriso de desespero.
Comments (0)
See all