“Estou na frente da mesa, preparando o café-da manhã. Está tudo muito bonito. Flores artificiais vermelhas em um vaso cristalino azul ressaltando a mesa de madeira escura. Preparei três conjuntos de pratos, copos, talheres e guardanapos. Pra quem era essa terceira pessoa? Isso talvez seja um sonho... E antes mesmo de ser eu e pensar demais e escuto:
_Pega o pó de café pra mim? Você vai querer com açúcar meu bem?
_Se tiver um pouco eu não vou reclamar. Sabes que eu gosto forte e amargo. – disse automaticamente. Com quem eu estou falando?
_Affe... Tudo na sua vida é amargo. Café, frutas...
_Família... – completei ainda no automático.
_Você tem eu.
_É verdade, você é o doce em minha vida.- Revirei os olhos.
_Que brega!
_Mas é verdade. E eu só te tenho agora, não sei quanto vai durar. – Nessa frase eu me lembrei... Era um misto de sonho e realidade. Eu estava ignorando Núbia, do à três de ontem. Estava tão revigorado e apaixonado por Mathias que esqueci daquilo que considerava o empecilhos naquela relação: ELA.
Porque fui aceitar aquilo? Eu iria mesmo aceitar aquela pessoa por ele, eu sequer gostava daquela pessoa? Estou mesmo apaixonado por ele? O que está acontecendo? O que vai acontecer a partir de agora? Como eu posso estar tendo um ataque ansioso no meio de um sonho? Isso é um sonho mesmo né??”
... Acordo rapidamente como se eu tivesse caído da cama?
_O que?... O que eu?... O que diabos eu acabei de sonhar? Aquilo era real? Aquilo aconteceu mesmo né?
Levanto-me da cama e vou para o banheiro. De lá, vejo minha cara de merda, minhas olheiras que parecem não param de crescer a cada dia que passa minha cara craquelada por não ter lavada-a ontem a noite. O que eu fiz ontem a noite? Se eu não sei a resposta, sei que foi porre. Mas eu estava só? O que me levou a ter esse sonho? Eu transei ontem? Definitivamente eu tenho que parar com isso.
Lavei meu rosto fazendo a rotina de sempre. Escovei meus dentes, tomei banho, lavei meu cabelo sem hidrata-lo e voltei para o quarto para me vestir rapidamente. Queria ir para a cozinha depressa, estava com fome. Preciso de um café preto igual o do sonho.
Chegando ao quarto ponho a primeira roupa mais simples que eu encontro. Uma cueca básica, um short medíocre e uma camiseta leve e folgada. Vou passar o dia em casa mesmo. Não sei que dia é hoje, mas deve ser sábado. Não tenho compromisso com ninguém e sei que nada vai me atrapalhar. È assim que eu vou lidar hoje. Vou ficar na frente da TV da sala, vendo coisas repetidas comendo pipoca picante que eu mesmo faço e apodrecer sem ver ninguém.
Foi o concluir do pensamento do meu dia perfeito que, me parece, que ele derreteu junto com meu cérebro ao ver aquilo. Tinha uma garrafa de um vinho mediano em cima da mesa com um bilhete embaixo.
Aproximo-me da mesa pego o vinho e mesmo querendo toma-lo naquele instante eu me viro para o bilhete. E ao lê-lo, me deparo com uma surpresa. Parece que no meu porre de ontem eu marquei algo pra fazer hoje. Ir ver o Mathias, ou o que sobrou dele. Como eu me segurei pra não bebe-la ontem e agora eu não sei. Mas sei que agora eu tenho que trocar de roupa e dirigir até o cemitério.
Fui à bancada, fui fazer meu café na máquina e corri para o meu quarto pra me trocar. Fiz tudo com certa força. Abrir o guarda-roupa, pegar um terno.
_Vai ser esse mesmo. – Disse com convicção para um terno preto com uma camiseta azul-bebê e uma gravata de um azul mais escuro.
Já vestido, tomarei minha xícara de café com uns biscoitos que minha mãe fez e me mandou.
Na cozinha, com o café em mãos, olho para o calendário e percebo duas coisas: Que sim, é sábado, e vai quase completar um ano que ele se foi. Ainda me relembro de quase tudo. Mais quando eu bebo mesmo que as memórias vêm à tona. Deve ser por isso que estou na bebedeira mais que o habitual.
Olhando pela janela percebo que está frio, que acabou de chover e que o momento está quase que melodramático o suficiente para ir ao cemitério. Mesmo assim pego minhas chaves, o guarda-chuva, uma vela aromatizada e o vinho, e parto pra minha aventura emocional de hoje.
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