– Nome?
– Fábio D’Angelus.
– Idade?
– Não é da tua conta.
– Vocês não deveriam estar na escola mocinhos? – Perguntou a policial que fazia a segurança da guarnição.
– Vocês são da PM ou da secretaria de educação?
– Olha o respeito moleque! Cadê seus pais? – Disse o policial que estava anotando os documentos.
– Tão mortos! Moro na rua!
– Com essas roupas limpinhas? Me engana que eu gosto! – Falou o policial enquanto digitava os dados no console da viatura. – OPA!
– Opa? – disse a policial
– Libera ele Flávio!
– Que?
– É da casa! Libera!
– Esse merdinha é polícia?
– Ele não seu imbecil, mas um dos contatos dele no sistema é da Comandante Geral... Seja quem for eu não quero ser currado depois por ter mexido com peixinho da chefe dos chefes.
Instantes depois a viatura deixa o jovem em paz.
–Cuzões! – Fala Fábio tomando um gole de vinho em uma garrafa enquanto observava a viatura se afastando.
- Para de reclamar, primo vai que eles escutam, quer que eles levem a gente pro D.P.?Tem nada registrado, ou seja, sem encheção de saco dos meus pais e da Ligia. Falou Daniel colocando a mão no ombro de seu primo...
- Eu sei… eu sei… é que…
O olhar de Fábio acompanhava com raiva a viatura se afastando.
- Tem “é que” porra nenhuma, os caras nem levaram nossa birita foi o enquadro mais de boas da nossa vida! Para de falar merda e vamo rodar e agora! me passa o vinho seu filho da puta! Que eu fiquei com sede.
Os dois jovens caminhavam a esmo sem prestar atenção ao caminho que estavam tomando. Haviam matado aula no caro colégio particular que os pais de Daniel haviam matriculado ambos desde o primeiro ano, viviam juntos quase vinte quatro horas por dia desde o dia que a vida do pequeno Fábio foi virada de pernas para o ar.
- Dan...
- Fala galo cego!
- Cê sabe que eu odeio esse tipo de apelido.
- E tu sabe que eu tenho um nome com mais de três letras então use ele e para de drama! Quer mais um gole?
- Não, já bebi demais. Queria perguntar uma coisa pra você.
- Vixi, pergunta de bêbado lá vem!
- Você se sente vazio?
- Hein! como assim? - Indagou Daniel ainda bebendo direto do gargalo da garrafa de vinho.
- Sei-lá, vazio… como se algo tivesse sido arrancado de dentro de você e não existisse nada que pudesse preencher?
- Mano, posso ser sincero?
- Se eu não quisesse sinceridade eu não tava perguntando pra você eu tava perguntando pra minha irmã.
Os dois dobraram uma esquina sem prestar atenção aos arredores entrando em uma área bastante arborizada e devido a copa das árvores mesmo o sol estando a pino as sombras tomavam conta da paisagem, fazendo o ambiente sinistramente escuro.
- Sim, eu me sinto vazio às vezes, mas olha tua história, não é à toa que tu faz terapia desde que eu me conheço por gente… A gente tem menos de um ano de diferença de idade e eu não passei por um terço das coisas que você já passou e deus me livre de passar.
- Mas sei - lá, não tô falando de saudades deles, ou coisa do tipo.
- Não?
- Sei - lá é como…
- ALGUÉM POR FAVOR ME AJUD...
Os dois jovens estacaram, a voz de uma jovem ecoou por toda área arborizada..., mas eles não conseguiam identificar ou ver nada de estranho ao redor deles.
- Você ouviu?
- Sim!
-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!
Subitamente os dois se viraram em direção a um parque infantil entre as árvores que eles não haviam sequer notado a existência até ouvirem o grito estridente, os dois jovenscorreram em direção a área sem pensar duas vezes.
- LARGA A PORRA DA BOLSA BISCATE!!
- SOCORRO!!!!
- EU VOU TE MATAR SUA VADIAZINHA DO CARALHO!!! Falou o assaltante, um homem de estatura mediana e de capuz embora o dia estivesse quente. Enquanto puxava a mochila de umamenina de uns 15 anos que a segurava desesperadamente.
- LARGA MINHA BOLSA! SÃO MINHAS COISAS! SOCOOOORRO.
- SOLTA ESSA PORRA SUA PUTA!!! - Falou o homem sacando um estilete, porém antes que ele pudesse fazer alguma coisa com a arma uma garrafa de chapinha estourou contra a cabeça dele fazendo ele largar a bolsa e tombar atordoado pro lado.
A jovem igualmente confusa ficou paralisada com a cena quando de repente um jovem surgiu a frente dela correndo, e chutando o assaltante o fazendo terminar de cair de bunda no meio fio.
- PEGA AS SUAS COISAS E CORRE GURIA! Gritou o jovem de olhos azuis e cabelo loiro enquanto puxava ela pelo braço.
- Filho da put... balbuciou o assaltante antes de ser interrompido por um chute certeiro na lateral da cabeça fazendo cair de cara no chão.
- FILHO DA PUTA É VOCÊ LADRÃO ARROMBADO DO CARALHO!!! Gritou o jovem com visual EMO com uma franja que cobria metade do rosto enquanto chutava o abdômen do assaltante.
- LARGA DISSO FÁBIO! VAMO VAZAR... - Gritou Daniel arrastando a jovem que abraçava a mochila e o acompanhava ainda totalmente perdida.
Fábio olhou para o assaltante caído no chão tentando se restabelecer dos golpes e jurando os três de morte e após desviar de um golpe errático do agressor ele percebe nas janelas e portarias dos Prédios ao redor várias pessoas que acompanhavam toda a cena, algumas inclusive filmando, porém sem qualquer sinal que indicassem queteriam tomado qualquer atitude a respeito.
- Todos são lixo. - Murmurou o jovem. Antes de seguir seu caminho em direção ao seu primo e a jovem que acabará de ajudar a salvar.
Após alguns minutos correndo os três jovens se refugiam dentro de um supermercado e param para respirar.
- Você está bem? Ele te machucou? - Perguntou Daniel para a jovem garota.
- Ou... Sim, estou sim! Merc... Muito obrigada. – Respondeu a jovem com um sotaque estranho aos ouvidos dos dois rapazes.
- Você é estrangeira? – Perguntou Fábio enquanto se sentava no chão e encostava - se à porta de uma geladeira de bebida, o jovem transpirava tanto devido a situação que parecia que ondas de calor se formavam ao redor dele.
- Ehhh... Não exatamente, eu sou brasile..., ou melhor,São-Miguelense, mas minha mãe é francesa e...
- Legal daí tu fala desse jeito por conta dela?
- Deixa de ser babaca Fábio, deixa a menina... tu odeia ser zoado por conta do olho e na primeira oportunidade de zoar alguém tu vai lá e...
- Olho? O que tem seu olho? - Perguntou a jovem de cabelos escorridos e olhos amendoados.
Daniel, meio confuso, observou a cena por um instante. Ele queria ver a reação do primo, ele tinha a tendência a se irritar muito quando era questionado sobre isso, mas ele tava sentindo algo diferente na situação.
- É que... – Começou a falar o jovem. Ele se sentia pressionado pelo olhar de curiosidade da jovem e o julgamento de seu primo que o observava. – é que eu sofri um acidente. – Fábio então levanta a franja que cobria o lado esquerdo do rosto, revelando uma cicatriz que atravessava seu olho verticalmente revelando um olho sem vida e esbranquiçado contrastante com seu olho direito que era verde e brilhante como uma esmeralda.
- E eu como um bom primo adoro encher o saco dele com isso porque ele é um babaca do cacete e como ele foi babaca contigo pode zoar ele também porque ele merece! – Exclamou Daniel, tentando aliviar o clima da situação.
- Eu achei legal - Disse a Jovem, sorrindo. – Parece até um personagem de anime.
Fábio e Daniel se olharam por um instante meio chocados.
- Ela não tá mentindo. Parece mesmo, e daqueles bem clichês.
Fábio nesse momento ficou corado e confuso, mas sorriu para a garota. Ele ODIAVA animes. Um misto de sentimentos se formava dentro dele que a essa altura não sabia se era cansaço, adrenalina ou só o vinho que tinha subido, mas de repente ele não queria xingar ou bater no Daniel como seria o habitual.
- A propósito, meu nome é Carol! – Disse a jovem sorrindo e estendendo a mão para o Fábio.
- Fábio! E aquele imbecil que tem como diversão me importunar é meu primo Daniel.
- Importunar? Eu acho que acabo de te arranjar sua primeira namorada!
- VÁ SE FODER! – Gritaram Fábio e Carol ao mesmo tempo. Para logo em seguida se entreolharem e rirem.
O Daniel viu a cena e caiu na gargalhada, em seu pensamento surgiu “cara, puta que o pariu! como é possível isso ser mais clichê de anime?”, mas ele preferiu não comentar, situação estava divertida demais e de repente com isso seu primo ficasse menos “Vazio” nem que seja só por ter tido um dia bom.
Os três jovens então pegaram algumas bebidas e salgadinhos nas gôndolas e se preparavam para pagar quando de repente uma viatura da polícia para na porta do mercado.
Dois policiais saltam de dentro da viatura, e vão direto em cima dos
adolescentes que mal tem tempo de reagir.
- O que está acontecendo caralho!?
- Oi de novo moleque! Lembra de mim? – Perguntou a policial enquanto algemava Fábio.
- Secretaria da educação?
- EXATAMENTE! CÊS TRÊS VEM COM A GENTE AGORA PRO D.P.!
- Espera! Como assim? Por quê? – Perguntou Carol apavorada.
- No D.P. a gente explica! E vocês dois seus merdinhas agora entra na viatura e sem um pio.
Comments (0)
See all