Os dias se passaram e Fábio decidiu se manter afastado daquele grupo de jovens, por mais que os horários de várias atividades unia as turmas de Cristiano e Paulo com a turma dele, Kay e Valéria, uma dessas atividades era a aula de educação física que para economizar grade sempre colocavam duas turmas para compartilhar o ginásio.
- Ei cicatriz!
Gritou um jovem, sem obter resposta de Fábio que lia um livro grosso sobre história da França enquanto escutava música com fones de ouvido na arquibancada da quadra.
- Ei cicatriz! Tá surdo além de cego!?
O jovem encarou seu interlocutor através dos longos fios de cabelo que caiam em seu rosto.
- Me chama disso de novo e eu te faço engolir esse livro pela tua bunda!
Os alunos próximos ao ouvir isso uivaram e gritaram!
- Não deixava! - Disse um
- PORRADA!!! PORRADA!!!- Gritaram outros.
Do outro lado da quadra Cristiano e Kay observavam a situação enquanto Paulo e Valéria jogavam vôlei. Em um canto do ginásio com mais algumas garotas.
- Isso vai dar merda! – resmungou Cris.
- Por queele nãotopou entrar pro grupo? O cara é esquisito, mas pelo menos tem atitude, seria uma puta mão na roda. – Questionou Kay observando uma rodinha se formando ao redor do jovem.
- Ele falou que não se envolve com criminoso!
- Ele se acha né?
- A vida vai marretar ele cedo ou tarde.
- Bem, o Washington tá querendo marretar ele nesse momento.
- Ainda não é problema nosso.
- Repete se tu é homem? Você vai fazer o que com essa porra de livro playboy? – Gritou o jovem que era um pouco mais alto que Fábio e se curvava sobre o jovem fazendo chover saliva a cada palavra. - Cê tá achando que tá nos colégiosde riquinho que tu estudava?
- Me erra caralho! Me deixa ler em paz porra!
- Qualé!? Cadê a marra? Não ia enfiar o livro na minha bunda peraí! Eu te ajudo!!!
O jovem se posicionou de costas para Fábio e ia baixar as calças mostrando a bunda para o jovem e peidar na cara dele, quando se deparou com a figura de um homem de 30 anosde baixa estatura, porém bastante forte encarando-o.
- E aí professor! Beleza?
- Washington... pode me explicar o que você acha que está fazendo?
- Nada não fessor! Tô só arrumando meu calção.
Os demais alunos da sala já haviam se espalhado e fingiam que nada estava acontecendo.
- Vem comigo que eu vou te ensinar na diretoria como arruma um calção de ginástica.
- Pô fessor!!! Era só zoeira! Esse moleque é todo marrento nem ia fazer nada!
- Você também é! E não vi ninguém fazendo esse tipo de coisa pra você. - Respondeu o homem enquanto puxava o jovem pelo braço em direção ao prédio da administração escolar.
- Viu como não tinha nada com que se preocupar? – Disse Cris,
- Só porque o Valdir chegou, senão era nosso trampo parar a briga.
- Não ia ter briga.
- Como assim? A gente estava vendo a mesma cena?
-Eu falei pra ele se fosse alguém da mesma classe que ele eu não ligava, mas duvido que ele iria querer pagar pra ver.
- Ele ia engolir a seco?
- Ele só quer ficar no canto dele lambendo as feridas... Ele não liga pra ninguém aqui foco dele tá lá fora.
- O nosso também e nem por iss...
- Eu queria que o foco dele tivesse em mim, isso sim. - Resmungou Valéria apertando os seios no top de educação física.
- PORRA MANA!!!! -Gritou Kay chacoalhando a cabeça como se quisesse expulsar algo da mente dele.
- Que é!?Acho ele gostoso vou fazer o que? - Reclamou a jovem fazendo careta pro irmão.
- Quem sabe agir de uma forma mais contida te faça ter mais sucesso com o quietão. - Disse Paulo se aproximando do grupo enquanto secava os longos cabelos ondulados com uma toalha.
- Nahhhh... dá muito trabalho quero não! Gosto de ser desse jeito. - Disse a jovem cruzando os braços e fazendo bico.
Os demais membros da trupe riram da atitude da jovem que de uma adolescente com corpo bem formado e definido subitamente parecia ter se tornado uma versão infantil e birrenta.
- Como um amigo uma vez disse, cada escolha é uma renúncia, - bufou Cristiano olhando para o teto do ginásio. - Falta quanto tempo pra acabar a aula? Eu tô louco pra fumar!
- Calma chaminé! Ainda tem pelo menos 20 minutos e daí tamo livre da prisão. - Respondeu Paulo olhando para o celular.
- Preciso resolver umas coisas, você vem comigo?
- Claro! - Respondeu o jovem.
- O Thiago também vem. - Disse o jovem.
Imediatamente Paulo estacou.
- Por que o Thiago tem que ir? – Questionou o jovem com a voz levemente tremula.
- Porque,se possível, eu preciso de vocês dois nessa parada. - Disse o jovem se levantando.
- Então tá. - Respondeu Paulo sob o olhar curioso dos demais membros da trupe.
Cristiano se afastou dos jovens e se aproximou do rapaz de cabelos platinados que jogava bola cochichando algo em seu ouvido. Thiago somente olhou em direção a Paulo e acenou com a cabeça enquanto fez um sinal de positivo com a mão.
- Vocês ainda não se resolveram? - Disse Valéria olhando para Paulo.
- E- Eu não quero conversar sobre isso. - Respondeu o jovem pegando suas coisas e indo para o vestiário.
Minutos depois o sinal de término de aula tocou, libertando todas as almas aprisionadas naquela escola para o mundo exterior.
- Você matando aula mocinha?
- Mãe... - A jovem se encolheu na cama.
- Caroline, eu estou cada vez mais convencida de que deveria ter te deixado na França com sua avó!
- Mas mãe!
- Onde já se viu? Em uma semana você me desaparece e vai procurar seu pai e acaba em uma delegacia, na outra eu recebo uma ligação da coordenadora dizendo que você simplesmente fugiu da escola?
- Eu estava cansada não tinha nada de novo na matéria, eu só preciso passar nas provas mãe, não achei que ia ser um problema ir passear um pouco.
- Passear onde? Onde você passou 5 horas do seu dia que NINGUÉM da minha equipe de segurança conseguiu te achar?
- E-Eu...
- Nós tínhamos combinado que você não ficaria com segurança do teu lado mesmo com o incidente do outro dia, você me prometeu que não faria me arrepender de confiar em você e com menos de uma semana você me faz isso? NÓS NÃO ESTAMOS NA EUROPA! NÓS NÃO ESTAMOS NO INTERIOR DA FRANÇA! ISSO AQUI É UMA SELVA CHEIA DE ANIMAIS!!!! AS PESSOAS AQUI SÃO VIOLENTAS FILHA!
- Eu também sou uma pessoa daqui mãe!!! Meu pai é daqui!!! Eu quero conhecer meu país! Eu quero conhecer minha cidade natal!
A mulher se recostou e suspirou.
- Você não cresceu aqui, sua realidade não é essa filhota, o que você conhece daqui é só uma fração, o pouco que chega pra gente, o pouco que você escutou aqui e ali.
- E é por isso que eu quero conhecer por mim mesma.
- É perigoso, você não viu aqueles dois moleques que te arrastaram por aí aquele dia? Um deles matou um homem sem dificuldade nenhuma!
- O Fábio me protegeu! Ele não fez aquilo de propósito.
- EU NÃO QUERO SABER O MOTIVO!!!! EU QUERO TE MOSTRAR O FATO! EM MENOS DE UM MÊS AQUI VOCÊ JÁ TROMBOU COM UMA SITUAÇÃO QUE SERIA IMPENSAVEL NA NOSSA CIDADE OU QUALQUER OUTRO LUGAR CIVILIZADO!!! PRA SUA SORTE NÃO FOI UM CASO EM QUE VOCÊ ERA A VÍTIMA!
- Mãe!
- Sem mais mãe, sem menos mãe!
- Pelo amor de deus Caroline, começa a pensar antes de fazer as coisas!
- Por favor mãe! Não me faz ficar andando pra cima e pra baixo com seguranças. - Pediu a jovem quase chorando enquanto se agarrava ao braço da mulher austera e de olhar irritado.
-Por favor, eu juro que não vou mais matar aula.
- Filha, você tem que entender que eu me preocupo e nunca iria me perdoar se algo acontecesse com você. - O olhar da mulher de feroz passou para um olhar amoroso e acalentador. - Eu não suportaria que algo ruim acontecesse com você.
- Não vai, mãe eu juro.
- Você me promete?
- Prometo! De verdade, você não vai ter uma reclamação sequer de mim na escola.
- E essas suas saídas? Eu não quero você saindo sem me informar para onde, quando e PRINCIPALMENTE com quem.
- Eu instalo um rastreador no meu celular, se for o caso. Só me deixa ter um pouquinho de liberdade e não me prende com algema com meia dúzia de armário.
A mulher se levantou da cama e começou a andar em zigue-zague pelo quarto ainda bagunçado e com diversas malas e caixas para serem desfeitas da jovem.
- Tá! Eu vou te dar mais uma chance mocinha, mas grave que é a última chance que eu vou te dar. Se você quebrar a sua promessa eu não vou te colocar grudada com um segurança.
- Não entendi.
- Se você quebrar sua promessa eu vou te despachar com a roupa do corpo pra casa da sua avó tão rápido que você não vai ver nem as cores do avião. E agora trate de desmontar essas suas malas e organizar esse quarto que tá uma zona! - Disse a mulher saindo do quarto.
- Oui maman!
A jovem ficou sentada na cama encarando a porta com o rosto em um misto de felicidade e pavor.
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